À semelhança do que tem sido os últimos anos, 2022 foi um ano repleto de leituras. Maioritariamente, leituras medianas, tenho de reconhecer. Às vezes, as escolhas não são sempre certeiras e caímos naquela Maldição das 3 Estrelas que não só nos aborrece, como agrava os reading slumps – que, na reta final do ano, tive em força.
Mas há leituras bonitas. Que me inspiraram, surpreenderam, emocionaram, reconfortaram (…). Encontrei nestes 20 livros o que precisava para me evadir um pouco, para descobrir mais, para encontrar conforto naquele que é um dos meus hobbies preferidos.
Ordená-los é sempre uma tarefa difícil, mas estas foram as minhas 20 leituras preferidas.
Ricardo Araújo Pereira
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“Uma desvantagem que encontrava nestas compilações do humorista – e, na verdade, neste tipo de livros com crónicas de jornal compiladas – era a validade de certos temas. Não foram raras as vezes em que li compilações de crónicas já datadas, sem relevância à luz dos dias de hoje. Estar Vivo Aleija foi, de todos, a compilação mais intemporal que já li do RAP, e alguns textos com uma sensibilidade poética que ainda não tinha identificado no autor, até então.”
Karen Thompson Walker
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“A premissa é, sem dúvida, intrigante: numa pequena e remota cidade da Califórnia, surge um fenómeno inexplicável e assustador: as pessoas estão a adormecer sem conseguir acordar. Por mais que familiares, amigos, conhecidos e profissionais de saúde tentem despertar as vítimas, elas permanecem num sono profundo e imperturbável. Pior: parece ser contagioso.”
Art Spiegelman
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“O que transforma esta história numa abordagem surpreendente é o facto de o autor ilustrar as personagens através da fábula, onde os ratos são os judeus e os gatos são os nazis alemães. Embora tenha quase uma nuance caricatural, nada neste livro puxa ao riso, muito pelo contrário: os cenários de sofrimento, perseguição e tortura são retratados de forma crua e real, sem paninhos quentes.”
Durian Sukegawa
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“Sweet Bean Paste não tem plot twists nem uma narrativa alucinante, mas é a escolha perfeita se estão à procura de uma história curta, com elementos simples e pormenores enriquecedores. O facto de ser tão simples permite que as personagens tenham uma construção madura, que a dinâmica entre todos os elementos tenha mais atenção e que a verdadeira moral desta história – que, eu confesso, era-me totalmente desconhecida – tenha o devido protagonismo.”
Taylor Jenkins Reid
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“Sexo, drogas e rock & roll (e o livro cumpre mesmo com o lema) não é propriamente algo que me desperte curiosidade, mas estava tão maravilhada com a capacidade da autora em construir universos que quis ir atrás desta história e perceber como é que ela a escreveria – este tipo de formato é muito impessoal quando lido: como é que ela conseguiria envolver-nos na história sem adicionar o menor detalhe além do que é relatado por cada personagem?”
Taylor Jenkins Reid
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“Nina, Jay, Hud e Kit são unidos pelo sentido de família e pelo trauma, mas sempre puderam contar com o surf e com a sua festa anual (a lendária Festa dos Riva, que reúne entusiastas e figuras públicas, onde o convite é simples: se sabem a morada do local da festa, então estão convidados) para elevar o espírito e celebrar o fim do verão. E é no dia desta festa que vemos passado e presente mesclarem-se.”
Lily King
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“Para quem (também) está na crise de ansiedade dos late twenties, é um livro reconfortante e que nos dá esperança. Que nos relembra que todos temos ritmos diferentes para crescer e conquistar os nossos objetivos, e que nem sempre o que parece melhor aos olhos dos outros, é melhor. Toca ainda em alguns temas sobre relações que nunca tinha visto tão bem expostos noutras leituras. Foi um livro surpreendentemente bom e gostava de encontrar mais títulos que explorem este tema!”
Catherine Prasifka
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“Acho que None of This is Serious encapsula muito bem para as gerações futuras como foi viver a década dos 20 nesta altura do mundo, com precariedade, expectativas e pressão, a loucura das redes sociais e da especulação digital. É um livro que fala sobre doença mental, laivos de doenças de transtorno alimentar, assédio sexual e violação, solidão (...) quando, supostamente, deveríamos estar na nossa fase mais experimental e social. São temas duros, mas estão escritos de uma forma muito transparente.”
Alex Michaelides
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“Existem alguns elementos que achei originais nesta história, a começar por a sinopse já nos entregar um suspeito muito forte. Normalmente, este tipo de narrativas gira em torno de quem terá sido o assassino, mas aqui somos transportadas para a personalidade de alguém que a protagonista considera o criminoso e a forma como o seu carisma e poder influenciam o seu círculo. (…) Além de que todo o universo da mitologia grega, da universidade e das personagens pouco confiáveis ajudam-nos a entrar na história e a ter vontade de devorar os capítulos.”
M. L. Rio
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“(…) Este é um livro que nos assombra com um dilema moral e onde o foco da história não deriva para a morte, mas sim para o segredo, onde o mais importante não é suspeito e sim as relações que estão simultaneamente escondidas e à vista. Acredito genuinamente que o objetivo da autora não era fazer-nos apenas aguçar a curiosidade sobre a morte de um personagem, e sim para mergulharmos no lado mais questionável e negro das restantes personagens, mais vivas do que nunca. Quão frágil é a nossa moralidade? E por quem a colocamos em xeque?”
Filipe Melo e Juan Cavia
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“Balada para Sophie é uma história que nos faz mergulhar pela criatividade e pelas dores de artista, as comparações, rivalidades, gratidão e ambição de chegar ao topo – ou perder-se assim que a meta é atravessada. (…) a forma como (a história) é contada reforça que, às vezes, não precisamos de narrativas diferentes e sim de contar a história à nossa maneira, com a nossa arte e assinatura. Talvez as respostas não se encerrem apenas na história do livro, mas também na produção da história em si.”
Isabel Minhós Martins e Maria Manuel Pedrosa
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“Cá Dentro predispõem-se a ser um ‘guia para descobrir o cérebro’ e cumpre-o na perfeição. Há algum tempo que acho que certos temas como este deveriam estar em contacto com as crianças mais cedo e fora do contexto escolar – porque é assim que nasce a curiosidade, mas também a exposição a temas importantes, como é o caso das emoções, fobias, espectros do autismo (…) – e este livro parece-me ser uma boa aposta para mergulharmos num tema científico que não tem de ser um bicho-papão.”
Editado por Daniel Jones e Miya Lee
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“Tiny Love Stories é, por isso, um livro curto e muito rápido de se ler. Mas as histórias ficam connosco, reconfortam-nos, dão-nos esperança e fazem-nos apreciar a beleza do amor (romântico, fraterno, familiar, entre amigos…). Relembra-nos também que o amor continua a estar nos detalhes e nas pequenas coisas, nos gestos do dia a dia que fazem a diferença e que, numa visão macro, são o que nos fazem perceber que estas relações nos trazem segurança, confiança e afeto.”
Bonnie Garmus
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“Este é um livro de verdadeiro poder feminino, mas que se manifesta através da história e percurso profissional da protagonista e de subtis momentos, diálogos e reviravoltas do livro que nos fazem sentir empatia, repulsa e inspiração. Não é um livro de 'mulheres ao poder' superficial: toca em temas que eram muito sensíveis nos anos 60 e, infelizmente, ainda não são encarados como deveriam, como monoparentalidade, privilégio masculino na ciência, maternidade, violência doméstica, abuso sexual, entre outros (pesquisem por possíveis gatilhos).”
Ashley Audrain
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“A personagem vocaliza, muitas vezes, medos viscerais que tantas mulheres sentem e seriam incapazes de o dizer em voz alta (por medo das represálias da família, por expectativa da sociedade que romantiza a maternidade ou mesmo pelo próprio sentimento de culpa, por imaginarem que mais nenhuma mãe pensa dessa forma). Só por este detalhe (que não é, de todo, um detalhe), o livro já tinha a minha ovação, mas o próprio thriller surpreende capítulo a capítulo, levando-nos a devorar tudo para saber o que nos espera.”
Michelle Zauner
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“Crying in H Mart não é apenas um livro sobre luto e comida. É um livro sobre morte – a morte a sério, a que assusta, a que não é bonita, a que envolve ser cuidador e fazer do inenarrável uma realidade -, sobre crescimento, sobre não ter tudo decidido aos 20 anos, sobre expectativa e desilusão, lealdade, perdão, parentalidade e, acima de tudo, transparência. Porque é isto que eu acho que faz com que, mesmo que não tenhamos conhecido antes a Michelle e a sua mãe, sintamos carinho, revolta, saudade e melancolia com elas: a transparência com que a autora fala sobre essa fatia da sua vida, com tudo de bom, com tudo de mau, com detalhes e realidade.”
Lori Gottlieb
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“Ao longo destas páginas, verificamos que todo o livro é contado sob duas perspetivas (ambas verídicas): a Lori terapeuta, que acompanha a evolução de 4 pacientes – um produtor com problemas de ego, uma jovem com doença terminal, uma idosa que se sente pouco realizada e tem ideações suicidas no seu dia de aniversário e uma mulher que se sente na sombra das suas relações falhadas e do vício; e a Lori paciente que, após um evento que a deixa sem chão, procura um psicólogo e permite-nos, assim, perceber a sua própria evolução terapêutica.”
Cheryl Strayed
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“É difícil explicar-vos porque é que achei Tiny Beautiful Things tão especial, principalmente quando não passa de uma compilação de colunas de dúvidas e uma vasta compilação da expressão 'Dear Sugar' e 'Sweet Pea' que a crítica reclamou como ‘enjoativo’ (e eu compreendo). Mas não consegui pousar este livro e encontrei nas palavras da autora e nas dúvidas do público uma sensação de conforto, tanto por não me sentir sozinha em alguns dos dilemas, quanto pela segurança com que a Dear Sugar transmitia nas suas respostas.”
Rebecca Serle
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“Se pudessem juntar 5 pessoas – vivas ou mortas, celebridades ou do vosso círculo pessoal – para um jantar, quem convidariam?
É a pergunta de um milhão que toda a gente já perguntou ou respondeu. Incluindo a protagonista de The Dinner List, Sabrina, que por ocasião do seu 30º aniversário vê a sua resposta cumprida: ao chegar à mesa do restaurante, encontra os seus 5 convidados, um grupo altamente improvável e eclético.”
Natasha Lunn
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“Há muito tempo que não lia um livro que fizesse tanto sentido para mim e que me trouxesse tanto conforto. Foi como um abraço, lembrando-me que o amor está sempre perto de mim, em vários feitios e formas. Espero que seja uma leitura que vos traga conforto também.”
Leram algum livro desta lista? Qual foram os vossos livros preferidos de 2022?
Li o Malibu e até gostei, embora não seja dos meus preferidos deste ano, confesso.
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