sexta-feira, 6 de setembro de 2024


Cresci numa casa que não conta histórias no frigorífico. A conveniência e elegância do design de eletrodomésticos embutidos tirou toda a possibilidade e graça de afixar qualquer coisa. Não tive o meu horário da escola, o nº da pizzaria preferida, ímanes, recados, a lista das compras, nem sequer um daqueles cartões de visita magnéticos sobre um serviço a que nunca recorremos porque nunca o vimos como algo além da utilidade de ser só um íman.

O meu frigorífico só tinha conteúdo no seu interior e muitos dirão que é para isso que serve e basta. Tal como as pessoas, é o seu interior que nos alimenta. Mas se há característica inerente à humanidade é a nossa capacidade de dar mais do que um sentido a qualquer coisa. Frigoríficos tornam-se, assim, pequenas pistas de memórias e auxiliares do que importa no quotidiano. O que escolhemos afixar nas suas portas - quando podemos - pode dizer muito sobre quem somos, mesmo quando achamos que o seu inventário é casual. 

O mundo pode caber no frigorífico. Uma compilação dos ímanes de lugares onde fomos ou de onde as pessoas pensaram em nós. Os postais enchem os olhos. Os talões de desconto que ainda não perderam a validade estão de passagem. Existem horários para não perder nenhuma aula e os números de emergência para quando abrirmos a porta e tudo parecer vazio. 

Encontramos o que não podemos esquecer ("comprar o leite") e o que não queremos esquecer (a polaroid de um jantar de amigos). Uma receita vive na incerteza se alguma vez sairá daquela porta para pousar na bancada enquanto é preparada. As palavras que escolhemos formar com as letras-íman que sobram e a criatividade de formar sempre qualquer coisa. Os desenhos dos miúdos. Um panfleto que serve como promessa de que um dia vão aderir ao serviço. 

Estará apenas o essencial ou o que vai para a porta é um compromisso vitalício? Conseguiria escolher um destino antes de um ingrediente? O que fica à vista é observado ou esquecido com o passar dos tempos? A curadoria é rigorosa - só fica o que é importante - ou um escape para o que não se sabe onde guardar? E quem não tem nada - mas podendo ter o que quiser: o que nos diz esse minimalismo? 

Num frigorífico, pode ver-se o núcleo de quem vive na casa. Do que se nutre e recorda, do que preserva no seu dia a dia, as suas preferências de restaurante, supermercado, tipos de férias e pessoas.

É curioso que tenhamos a capacidade - e a vontade - de encontrar qualquer pretexto, em qualquer espaço, para o tornar mais nosso, com mais pistas sobre quem somos, onde estivemos, o que fazemos, o que mais recordamos. As molduras, quadros, livros, telemóvel, aplicações e contactos não bastam.

A não ser que tenham um frigorífico embutido. Nesse caso, escreverão sobre as portas de frigorífico dos outros, com todo o descaramento.
não puxem muito por mim para falar de mais eletrodomésticos
Reading...
Mantendo-me fiel ao tema, este artigo explora como é que a chegada dos frigoríficos - e da refrigeração em geral - alterou as nossas perceções de sabor e até tornou possível certas receitas e comidas. Um pouco impensável imaginar que, sem refrigeração, não existiam sobras nem hambúrgueres, não?

Eating...
Poutine. Bom, no tempo passado, mas comi todo o poutine que pude enquanto estive no Canadá, sem medo de ser feliz nem de disparar o colesterol. Um prato típico canadiano composto por batatas fritas - embora exista quem asse a batata em pequenos cubos para uma opção um pouco mais 'saudável' -, cheese curds (que a tradução preguiçosa remete para requeijão, mas não é. Está mais parecido com as bolinhas de mozarella) e um caldo de carne. É bem típico no outono e inverno (por razões óbvias) e uma receita de conforto que, não sendo recomendada comer regularmente, às vezes recrio à portuguesa nos dias frios.

Playing...
Finalmente assisti a When Harry Met Sally, que respondeu a todos os meus apelos pelo outono em Nova Iorque, comédias românticas com a Meg Ryan, histórias escritas pela Nora Ephron e filmes com muito mais foco nos diálogos do que num plot. O meu tipo de filme predileto é aquele em que dou por mim a conversar com as personagens, com vontade de acrescentar as minhas próprias opiniões. Neste caso, o filme centra-se na questão de que homens e mulheres hétero não conseguem ser amigos. No final, o filme responde a este dilema - concordemos com ele ou não. 

Filmes da Nora Ephron são imbatíveis e este não é exceção, embora o meu coração esteja eternamente na história e livraria de You've Got Mail 💌

Obsessing...
Esta edição da Teleculinária. Comprei-a pela promessa de várias refeições em 30 minutos (porque se há ingredientes que me faltam sempre na cozinha são tempo, criatividade e vontade), mas acabei completamente rendida porque tem uma série de receitas típicas portuguesas que sempre disse que um dia gostava de ter no inventário e nunca fiz o esforço de as guardar - não exponham isto à minha avó, por favor.

Podia procurar todas estas receitas na internet e fazê-las? Sim e a minha pasta de receitas do Pinterest é a prova viva disso, mas adoro que tudo esteja num formato de revista, com ingredientes e quantidades que não tenho de adaptar para a cultura gastronómica portuguesa e poupa-me de mais um momento dependente do ecrã, que cada vez mais valorizo.

Vida longa às revistas culinárias!

Recommending...
As Golden Glow Drops da W7. Misturo-as no meu creme hidratante e ajudam-me a dar um pouco mais de sol a esta pele que só tem dois tons anuais: lula e lagostim. 

Treating...
Fazer journaling logo de manhã. Tenho o diário ideal para isso porque não dispenso mais do que cinco minutos, o tempo que me leva a ferver a água e fazer o meu chá da manhã. É uma forma de refletir sobre o dia e de ginasticar este exercício da gratidão de uma forma realista e adaptada à minha rotina.
como me sinto a ver filmes de outono com mais de 25ºC lá fora (source)

domingo, 1 de setembro de 2024


Pela primeira vez desde que trabalho, tive três semanas de férias que, modéstia à parte, soube aproveitar da melhor forma possível. Entre banhos de mar e lago, sestas reparadoras, dias a fio sem ecrãs, rotação de biquínis e almoços com amigas, momentos a dois e umas quantas viagens de avião, esta foi a equipa que esteve comigo durante todo o verão.

terça-feira, 23 de julho de 2024


Poupar | Nova Iorque é a 6ª cidade mais cara do mundo, mas acreditem que quando lá estiverem vão achar que é a 1ª. Se estão a programar uma visita, independentemente do vosso tipo de viagem, recomendo vivamente que poupem. Não é de todo uma cidade que sugira ir com um budget apertado e todos os anos fica mais cara. O alojamento será a vossa maior despesa (de longe), mas, em geral, e sendo uma cidade que vive do capitalismo, não me parece realista conseguir desfrutar da cidade em pleno e contando cada cêntimo em simultâneo. Existe também muita coisa que compensa comprar nos Estados Unidos quando comparado com Portugal (ou mesmo Europa), por isso, pode ser uma boa oportunidade para se permitirem a alguns caprichos. É preferível salvaguardarem um bom pé de meia.

quarta-feira, 17 de julho de 2024


Durante a maioria do meu tempo de vida, ‘atleta’ foi uma das palavras que me descrevia – entre outras tantas que foram ganhando contorno na minha existência. Na verdade, fui atleta federada durante mais tempo do que o tempo de vida em que não o fui – embora, em breve, isso deixe de ser verdade. 

quarta-feira, 10 de julho de 2024


strand
É absolutamente imperdível para qualquer amante de livros, já que é consagrada a livraria mais antiga de Nova Iorque. Podem contar com vários andares de todos os géneros que possam imaginar, blind dates with a book, livros autografados, estacionário exclusivo, puzzles e jogos. 

quarta-feira, 3 de julho de 2024

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Quando não recebo ameaças do Duolingo de que estou a deixar cair o meu strike – e a desonrar toda a minha família -, ainda consigo sentir que é uma das minhas apps preferidas de utilizar, principalmente pelas portas linguísticas que abre. 

terça-feira, 25 de junho de 2024


Os favoritos são a rubrica que tenho há mais tempo no blog – 10 anos, precisamente. E, tal como eu, têm mudado ao longo do tempo, mas duas coisas permaneceram imutáveis: 1) é o vosso conteúdo preferido e 2) dá-me um trabalho incomportável. E, por isso, tiveram de mudar uma vez mais. Estou mais feliz a fazê-los, tenho mais vontade e, acima de tudo, estão mais adaptados ao tempo que agora me resta para o blog. Não têm de amar este novo formato, mas saibam, com toda a honestidade, que as opções eram adaptar ou deixar cair (apostei que vocês iriam preferir a primeira ✨). 

Passaram-se 4 meses e estes foram os absolutos favoritos que recomendaria para vocês de memória e coração.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

(source)

Abrir a porta devagarinho e deixar a luz de fora entrar. Encontrar tudo escuro, mas não fazer questão de acender as luzes – não já. Consigo percorrer cada recanto deste espaço na escuridão; conheço-lhe todos os contornos. 

Quando os olhos se ajustam, observo todas as divisões, com as coisas deixadas tal como da última vez que fechei a porta. Não sabia, em fevereiro, que iria fechar a porta para voltar em junho. E, por isso, esta casa está com a ordem de quem não sabia que estaria ausente tanto tempo. 

É interessante reparar como, quando observamos um lugar com os pertences deixados, conseguimos mapear o movimento, a rotina, a dinâmica, mas não a vida. Sabemos qual o bico do fogão predileto, onde são guardados os lençóis de verão, qual é o amaciador de cabelo preferido e em que canal a televisão foi desligada. As preferências, a habitação daqueles objetos e espaços. Mas são as pessoas que lhes dão vida, claro. Sem as pessoas, os objetos ficam nos seus espaços para sempre. O amaciador é o favorito, mas nunca acaba por terminar; o bico predileto do fogão nunca mais é acendido; o lençol de verão nunca mais sai da gaveta e chega o inverno. 

Não tenho um passado de muitas casas – talvez o futuro dite uma experiência diferente, mas, até lá, é a realidade – e, por isso, todas as que passaram por mim e significaram um lar têm um significado e simbolismo maiores do que talvez a sua própria dimensão. A casa onde cresci e que foi ficando cada vez mais pequena, o corredor que parecia não ter fim e que depois atravessava em dois passos apressados de teenager; a casa que ecoava mesmo em sussurros por não ter nada e que fomos enchendo com os móveis, as memórias, as festas e jantares, as pessoas, as fotografias. A casa que já não existe e que, agora, só pode ser habitada na minha memória. Tinha um pátio e um jardim que se transformavam em tudo o que a minha imaginação desejava. Agora, só fazem mesmo parte da minha imaginação. 

E depois tenho esta casa, que deixei em fevereiro. O pó acumulou, as aranhas encontraram nos cantos e vértices dos móveis um refúgio, o silencio preencheu o resto. Regressar a uma casa abandonada implica perceber o que ela foi outrora e o que queremos dela agora. O que manter e o que doar. Afastar os cortinados e abrir as janelas, sacudir os tecidos, limpar e polir. Dar-lhe vida, para que ela nos dê um lar. 

Estou a voltar ao Bobby Pins, a limpar a casa, a sacudir o pó, a doar o que já não faz sentido e a manter o que me traz conforto e refúgio. A aquecer o meu bico preferido do fogão para ferver a água e a trazer saquetas novas de chá. Lavei as chávenas e estão pousadas na nossa mesa de sempre. Não espero o mesmo número de convidados e, depois da remodelação no conteúdo, não espero que todos fiquem. 

Mas a porta não tem trinco, e os lugares não são finitos. Há sempre tempo para irem e para voltarem. Tal como eu fui e vim. 

Esta ainda é a minha casa preferida.

sábado, 2 de março de 2024


Sinto que, em fevereiro, tudo avançou em câmara lenta – o que é paradoxal, tendo em conta que é o mês mais curto do ano. Uma perceção com os dois lados da moeda: se, por um lado, consegui viver e guardar todas as memórias com calma e pormenor, por outro, quando o inverno atingiu com mais força, senti com mais intensidade os dias frios onde o tempo não passava ou melhorava. Felizmente, tive mais momentos do primeiro momento do que do segundo.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024


Assim que iniciámos os preparativos da viagem comecei a pesquisar opções e formas de ver um jogo da NBA ao vivo. Para mim, era uma das experiências que mais queria concretizar e para a qual tinha reservado o devido budget.

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