quarta-feira, 29 de março de 2023


Beethoven’s Ninth: Symphony for the World 
Sejam ou não entusiastas de música clássica e de Beethoven, há que reconhecer o quão monumental é criar uma obra musical que não só atravessa fronteiras, culturas e classes sociais, como também se tornou no nosso hino europeu. Por ocasião do 250º aniversário de Beethoven, este documentário decidiu acompanhar de sete formas diferentes a celebração e apresentação da Nona Sinfonia em todo o mundo: através da exigente apresentação no Festival de Salzburgo, no coro com mais de 10.000 vozes no Japão, na orquestra da República Democrata do Congo, composta apenas por músicos autodidatas e amadores, na interpretação do aclamado compositor chinês Tan Dun, na escola brasileira que tira jovens da favela e oferece-lhes novas oportunidades de vida e educação através da música, da reinterpretação do DJ Gabriel Prokofiev, que liga o universo erudito à música eletrónica e, por fim, através do músico Paul Whittaker, que aproxima a música das pessoas com imparidade auditiva. 

segunda-feira, 27 de março de 2023


Seria expectável que um livro que presta homenagem ao poder das palavras me conquistasse logo na premissa, mas admito que não lhe prestei particular interesse numa das minhas visitas à livraria. Felizmente, desembrulhar este exemplar no Natal e receber o empurrãozinho da Carolina fizeram com que a história d’O Dicionário das Palavras Perdidas voltasse a estar em rota de colisão comigo. 

O Dicionário das Palavras Perdidas é o tipo de história que se assemelha a uma mala de viagem: achamos que tem o essencial à vista e damos por nós a descobrir mais e mais camadas e compartimentos que tornam tudo mais rico, mas também mais difícil de explicar com simplicidade. 

Neste livro, conhecemos Esme, uma jovem que acompanha o seu pai lexicógrafo no seu trabalho pelo Scriptorium, local onde está a ser preparado o primeiro Dicionário de Oxford de sempre. É numa dessas expedições que Esme cruza-se com um pedaço de papel contendo a palavra ‘Escrava’ e que, instintivamente, apanha-o e esconde nos bolsos, resultado no desaparecimento da palavra no dicionário. 

Esta é a premissa descrita na contracapa do livro e continuo a sentir que é simplista e um pouco desinteressante. A parte curiosa é que o mote deste livro foi inspirado no facto de, realmente, a palavra ‘Escrava’ ter faltado no primeiro Dicionário de Oxford – o porquê ninguém sabe. Mas o que efetivamente me conquistou nesta história foram todas as ramificações paralelas à concretização deste dicionário. Esme apercebe-se rapidamente que há uma curadoria muito particular e patriarcal para selecionar quais as palavras que vão figurar no dicionário, evidenciando ainda mais o abismo profundo que existe entre o privilégio de quem tem acesso a uma educação e eruditismo e às classes que nunca irão ver as suas palavras coloquiais figuradas – ou, quando estão, são representadas sobre uma perspetiva masculina e unilateral. Esta jornada de Esme para procurar representar estas palavras do universo feminino enquanto se debate com os próprios desafios pessoais, sociais e relacionais de se ser mulher foram as duas partes que me conquistaram em absoluto.

Amizade, ambição profissional, maternidade e ativismo são apenas alguns dos temas que dão envergadura a estas páginas, escritas com o equilíbrio perfeito de aprofundamento e sensibilidade poética. Foram várias as passagens que me fizeram refletir, principalmente na sensação de que muitos dos temas que estas personagens vivem e se debatem em pleno séc. XIX ainda tocam-nos profundamente dois séculos depois. 

Não é um livro que se devora, até porque não tem ritmo para isso; alguns capítulos poderiam ter sido abreviados ou até mesmo suprimidos sem que a história perdesse impacto, e talvez  isso ajudasse a melhorar a cadência de leitura – que é bem lenta, devo alertar-vos. No entanto, percebo que este passo de passeio nos ajude a criar uma ligação mais familiar com as personagens. 

O Dicionário das Palavras Perdidas foi uma agradável surpresa. Não precisava de ser relembrada do poder das palavras – não estaria a insistir num blog se não acreditasse nem tivesse presente, todos os dias, esse facto -, mas relembrou-me do quanto a nossa visão do mundo, do quanto os nossos pensamentos e leituras são marcados pela forma como aprendemos o significado de cada palavra. E quando todas as palavras do universo feminino ou de minorias têm um significado filtrado, é difícil contrariar o que aprendemos – mas possível e importante. O meu único arrependimento foi não ter lido em inglês. A tradução parece-me competente, mas, sendo um livro sobre palavras e tendo o inglês nuances em certas terminologias e significados, acho que alguns detalhes se perdem no filtro da tradução. Se estão confortáveis a ler em inglês, recomendo muito que escolham este livro na língua original.

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Bertrand

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domingo, 26 de março de 2023


Tenho tentado fazer o exercício de partilhar mais o meu entusiasmo com a música, mesmo quando não é o tema mais interativo. Estar num concerto a cantar um refrão com outras milhares de pessoas é o mais perto que alguma vez vou estar de algum tipo de espiritualidade, um sentido comunitário que nos transcende. Um dos meus maiores privilégios é poder pensar e concluir que já assisti à maioria dos meus artistas preferidos ao vivo, mas ainda existem alguns na lista com que ainda não me cruzei. Venho falar sobre eles, numa esperança de que funcione como manifesto, tão em voga agora. 

sexta-feira, 24 de março de 2023


Ir à Opera de Viena era a experiência de uma vida que desejava muito ter oportunidade de fazer. Crescer com música e bailados fez com que esta parte da cultura esteja intrinsecamente ligada a mim, e não podia ir à capital da música clássica sem a testemunhar em todo o seu esplendor. 

quarta-feira, 22 de março de 2023


Sabem qual é uma das minhas partes preferidas de ler e descobrir livros novos? Encontrar temas que, à partida, parecem completamente inesperados e absurdos, mas que falam sobre assuntos relevantes. This Is Not a Book About Benedict Cumberbatch apanhou-me tão desprevenida pelo título que não consegui evitar um pequeno riso e, confesso, quis partir para o desconhecido, mesmo não tendo qualquer afiliação com o ator. Precisava de saber para onde a autora queria ir com este livro. E então fui transportada para o mundo dos fandoms

This Is Not a Book About Benedict Cumberbatch não mente no título, embora não exista nenhum capítulo em que o ator não seja referido e adorado. Benedict Cumberbatch é o ponto de partida – e linha condutora – para a autora conseguir explorar o culto aos artistas e a sensação de se ser fã de alguém, seja um ator, um artista, uma banda ou uma personagem. 

É curioso como um livro que tinha apenas o propósito de me divertir – e tirar a curiosidade em torno do título – rapidamente tornou-se num ângulo fresco sobre o facto de o ato de ser fã ainda estar preguiçosamente associado ao universo feminino, sem faltar um tom condescendente e jocoso, como se fosse um comportamento imaturo, superficial e sem qualquer utilidade social - afinal de contas, para quê ser fã de alguém que não nos conhece?

A adoração da autora por este ator despertou-lhe o interesse para tentar perceber como surgem estes movimentos, quais são as suas origens, se têm algum propósito e, acima de tudo, porque é que são sempre estrategicamente associados a mulheres – e a descritivos como delírio ou histeria – quando é uma característica equitativamente partilhada por homens – basta-nos pensar nas claques desportivas ou no volume de fãs do género masculino que adoram o Ronaldo, por exemplo. 

This Is Not a Book About Benedict Cumberbatch tem o equilíbrio perfeito de entretenimento e curiosidade psicossocial, relembrando-nos do quão divertido, leve, ancestral (sim, ser fã não é um comportamento tão contemporâneo quanto imaginam) e unificador pode ser sermos fãs de alguém, sem esquecer como, até nas mais pequenas coisas, o patriarcado ainda dá o tom para aquilo que devemos gostar e qual o comportamento adequado para adorar e acompanhar algo ou alguém. Uma ótima surpresa.

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Bertrand

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terça-feira, 21 de março de 2023


Custo | Não será grande surpresa se vos alertar que a Áustria é um destino caro. Desde alojamento, alimentação, cultura e até mesmo simples souvenirs têm um custo elevado e que será importante terem em conta na hora de viajar. Uma das dicas de poupança que vos sugiro é que optem pelos supermercados para fazerem as vossas refeições. Além de terem muitas opções de pastelaria e refeições quentes – mais acessíveis que qualquer restaurante -, também podem comprar comida para fazer em casa, caso fiquem num apartamento. 

sexta-feira, 17 de março de 2023


Sou fã assídua do podcast Modern Love, uma adaptação áudio à coluna semanal do New York Times que estreou há quase 20 anos e onde várias pessoas submetem as suas histórias verídicas de amor (nas suas várias esferas: romântica, fraternal, amizade, etc), na esperança de serem publicadas. 

Do projeto original já derivaram podcast, livro e, mais recentemente, uma adaptação para televisão com assinatura Amazon Prime. Nunca tinha dado grande importância mas, num serão descontraído onde só queria relaxar, dei uma oportunidade e fiquei para os restantes episódios. 

Modern Love – a série – conta com duas temporadas de oito episódios cada que podem ser assistidos sem ordem, já que cada episódio mergulha numa história de amor diferente – baseada na coluna. Há dois detalhes que acho curiosos e interessantes nesta produção: todos os atores são sempre diferentes em cada episódio (faz sentido, e o elenco é soberbo e familiar de outras produções) e todos os episódios têm uma cidade em comum: Nova Iorque. 

Embora a série esteja classificada como comédia romântica, acho que está um pouco longe disso. A parte bonita desta série é a diversidade de histórias e relações que, bonitas ou tristes, desafiantes ou caricatas, têm apenas um elemento em comum: falam sobre amor, seja o amor entre casais, entre amigos, familiares… até o porteiro! E nas entrelinhas do plot original, existe espaço para abordar temas como a solitude, a saúde mental, crises entre casais, sonhos em suspenso... Diria que cada história é rica num imaginário que vai além das relações humanas - toca também na relação que temos connosco próprios (de amor ou não, cada um tem de o decidir por si).

Com episódios sempre dentro da slot de 30 minutos, tem sido a minha escolha quando quero desligar um bocadinho e assistir a algo que me faça sentir reconfortada. Recomendo muito, se procuram algo amoroso para um dia de preguiça no sofá.

quinta-feira, 16 de março de 2023


Sempre considerei as minhas leituras muito ecléticas no que toca a temas e géneros, mas 2023 está a ser, sem dúvida, o ano mais experimental, onde mergulho em assuntos completamente novos. Este livro foi um deles, que me intrigou pela sua proposta de filosofar sobre o ato de viajar. Sendo eu uma orgulhosa viajante, achei que a premissa era totalmente adequada para mim.

Não existem outros grandes segredos por detrás do título. É, de facto, um ensaio filosófico por todas as etapas de uma viagem, desde os preparativos, embarque, a jornada em si, a elasticidade do tempo e, claro, a chegada. Tem o equilíbrio perfeito entre a acessibilidade de falar sobre o que é mundano e a poesia de tornar o banal em filosofia – e, muitas vezes, em poesia. 

É uma leitura muito particular – não ofereceria ou recomendaria este livro a toda a gente – mas para quem não vive sem pensar na próxima viagem e vive muito dentro da sua cabeça, acho que é um bom companheiro.

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Bertrand

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domingo, 12 de março de 2023


Não sou uma pessoa de regressos. Embora viaje muitas vezes pela doçura (e melancolia) da nostalgia, raramente repito destinos e livros. Há um desejo de ver lugares novos, de conhecer histórias diferentes e, admito, é uma característica que me é surpreendente. Estaria muito mais alinhado com o meu perfil regressar às histórias e lugares pelo sentido de familiaridade e segurança de sabermos como são, como acabam, ao que cheiram e sabem. Mas a descoberta parece-me mais entusiasmante.  

Dublin não estava nos meus planos de regresso, admito. Adorei a atmosfera da cidade assim que a pisei em O’Connell Street, em 2019. É pequena, tem carisma e, bem planeada a viagem, retiramos muito facilmente o melhor da experiência. Ficou muito pouco por ver e a infinitude do mundo atraía-me mais. Mas a ideia de regressar para fazer algo feliz, novo e diferente fez-me pensar que podia ter ido a outros lugares no mundo, mas Dublin fazia o mais perfeito sentido. 

E aqui está a magia dos regressos. São viagens no tempo, em certa forma. Quando caminhamos pelas mesmas ruas, quando devoramos com saudade certos sabores que adorámos da primeira vez, quando ouvimos a mesma música, no mesmo pub, ou mesmo quando seguimos um caminho diferente do primeiro roteiro, nós vemo-nos lá, vemos quem pisou a cidade pela primeira vez. E, mais evidente, vemos o abismo que nos separa, na mesma cidade. 

Dublin foi a minha primeira aventura (feliz) do ano, antes de arrancar com a segunda (infeliz). Quando entrámos no pequeno apartamento em frente a Ha’penny Bridge, estava resoluta de que ia aproveitar o máximo que pudesse antes de entrar num universo que me deixava miserável, mas que queria terminar com distinção – se é para atravessar o labirinto, que tenhamos a medalha olímpica, no final. 

A Inês que calcorreou Dublin pela primeira vez tem mundos de distância de mim, que passeei pela cidade uma segunda vez. Se nos cruzássemos ali, em St. Stephen's Green, não sei se nos reconheceríamos embora, honestamente, não estejamos tão diferentes por fora, arrisco analisar. 

Quando descobri Dublin pela primeira vez, sonhava com outro caminho profissional, sentia-me completamente condenada ao meu plano original, namorava e passei cada minuto daquela viagem com um aperto no peito que atenuava com a distração que só uma cidade nova pode proporcionar. O aperto no peito quase palpável de tão esmagador: não querer estar ali. Não me refiro a Dublin (gosto tanto de Dublin!) mas… ali. Naquela fase de vida. Era um pequeno cubo e tentar servir num triângulo e cada pedaço de mim que não servia, que não encaixava, magoava-me. Toda a gente avisa que as arestas dos vintes são afiadas, mas dói ainda mais quando a forma sufoca-nos também. 

Dublin foi um pequeno abraço antes de respirar fundo, fechar os olhos e fazer o que tinha de fazer. De lutar por outra coisa enquanto se engole sapos (não há originalidade nisto de se viver, certo?). 

Acho que me reconheceria em St. Stephen's Green. E acho que seria a única pessoa no mundo a arrancar-me aquele peso no peito. Bom, certo, diferente do passado há uma solitude que me acompanha, mas estou feliz com ela, estou até curiosa com ela. Mas, acima de tudo, estou mais leve. Estou no lugar que desejava (não é perfeito, mas poucas coisas o são, compreendemos). E tenho outras perguntas, outras inquietações e continuo a ser um cubo. Às vezes distraio-me e tento entrar na forma do triângulo, mas, em geral, já sei perceber que não é o meu lugar e que há outras formas que me servem melhor. Claro, as arestas continuam mais afiadas do que nunca, mas o tempo desgasta a crueldade incrível de se ser jovem também (e quem não acha que os vintes são uma crueldade com sabor a mel, não se lembra dos vintes). 

Então, regressei. Sem peso no peito. Sim, com dúvidas e medos e com certos capítulos em aberto, mas sem medo do futuro. E sem vontade de ser uma pirâmide ou de servir na forma do triângulo. 

Choveu em Dublin, neste regresso. Não tive um único dia de sol. Lembrava-me de Dublin a céu azul e com um dia de neve. Especial. 

Gostei que, também dentro de nós, o clima estivesse diferente do que me recordava.

sexta-feira, 10 de março de 2023


Terminei este livro há três meses e, até agora, não sei se consigo concretizar se gostei ou não. Mas não posso deixar de falar - ou refletir - sobre O Meu Ano de Repouso e Relaxamento

Esta história arranca no início dos anos 2000 com uma protagonista que tem um objetivo muito claro: passar um ano da sua vida a dormir. Não vou negar, ler esta premissa fez-me pensar ‘quem nunca?’, com um certo sorriso jocoso no rosto, mas a verdade é que efetivamente a personagem – que nunca chegamos a descobrir o nome – faz de tudo para se manter o maior período de tempo possível a dormir, com a esperança de que esse interregno controlado na sua vida possa fazer uma tabula rasa à sua vida. 

Devo começar por dizer que este é um daqueles livros em que se tem de estar na fase e disposição certas para ler. A história é muito melancólica, há um padrão consistente de drogas, manipulação médica e episódios delirantes, já para não falar da própria personagem, que é altamente questionável. Ao longo dos capítulos, vamos acompanhando o seu desinteresse pelo mundo e pelas pessoas que a estimam (ou não?), e é difícil afeiçoarmo-nos à personagem, mesmo quando finalmente compreendemos os motivos que a levam a fazer o que faz. 

Talvez por isto mesmo não saiba, ainda, o que achei deste livro, concretamente. Não foi uma leitura arrebatadora – há capítulos que, na minha opinião, se prolongam demasiado, episódios de romantização de transtornos do comportamento alimentar, uma conveniência brutal de privilégio para que esta história possa desenvolver-se da forma intencionada e, em geral, relatos verdadeiramente desconfortáveis. Não é, de todo, uma leitura apaziguante. 

Por outro lado, não acredito que uma leitura estilo 3 estrelas ofereça isto. Esta inquietação, este desconforto, esta frustração e até nojo que saltavam das palavras e me obrigavam a não ler isto à noite. Tal só é possível com uma obra que não nos deixa indiferentes, mesmo quando não gostamos dela. 

Talvez tenha sido bom externalizar a minha opinião sobre este livro fora da minha cabeça porque acho que cheguei à conclusão: é um livro marcante e eu não gostei dele. Julgo que, se lerem O Meu Ano de Repouso e Relaxamento, vão perceber o que quero dizer (mas escolham uma boa fase).

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Bertrand

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