quarta-feira, 31 de maio de 2023
VIENA
Já na reta final das nossas aventuras por Viena, decidimos fechar o capítulo a preceito com uma visita ao Café Mozart. Foi o primeiro café de Viena, aberto em 1794, apenas 3 anos após a morte do compositor que batiza o espaço e com uma proximidade conveniente à Ópera de Viena.
terça-feira, 30 de maio de 2023
Thalia | Também presente em Berlim, poderia descrever a Thalia como uma Waterstones germânica, mas sem tantas promoções ou descontos. No entanto, a oferta é imbatível e, se lerem em inglês, vão encontrar imensas opções. Dividida por vários andares, é o lugar para conhecer livros novos, aproveitar hardcovers a um preço mais simpático do que em Portugal – sim, mesmo, em Viena -, acessórios de leitura, estacionário e artigos de casa. Foi também aqui que comprei o meu calendário do advento com chás para o Natal (e que vocês adoraram no Instagram).
Frick Buchhandlung | Localizado na famosíssima Graben, a Frick é uma espécie de concorrente da Thalia. É uma cadeia de livros bem popular, com imensas edições e histórias de todos os géneros. Uma vez mais, não tem super promoções, mas também não vão precisar – facilmente compram paperbacks em Viena a rondar os 10-12 euros.
Phil | Guardei o meu espaço preferido para o fim. Estava mesmo pertinho do nosso apartamento e parece saído de um lugar das Gilmore Girls, com uma mistura entre livraria e café, onde as mesas e cadeiras são todas desirmanadas e o chai latte é muito saboroso. A oferta de livros não é muito grande – e a maioria em alemão – mas têm uma mini-secção de livros em inglês e alguns vinis à venda. É um daqueles lugares que eu sei que seria o meu local de eleição ao fim de semana, se vivesse em Viena. Se só puderem visitar uma destas três, recomendo com toda a preferência esta.
sábado, 27 de maio de 2023
Há poucas coisas mais deliciosas numa viagem do que, depois de um assoberbar de cultura e informação, descontrair num programa mais leve e divertido. Apontar o Prater para o final de um dia cheio de museus e palácios foi a decisão perfeita para vermos um outro lado de Viena e para criarmos memórias especiais e felizes.
sexta-feira, 26 de maio de 2023
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Fotografia: Sisi Museum |
O Sisi Museum era um dos que nós estávamos mais entusiasmadas por visitar. Cada uma já tinha um imaginário e informações diferentes sobre a Imperatriz mais famosa da Áustria e queríamos absorver esse universo com histórias, testemunhos e artefactos.
Localizado nos Apartamentos Imperiais de Hofburg – e que podem visitar de seguida – o Sisi Museum foi inaugurado em 2004 e é inteiramente dedicado a fazer uma compreensão sobre a vida e objetos pessoais de Sissi.
São mais de 300 os artefactos que podemos observar e que pertenciam à Imperatriz, desde vestiário, joias, fármacos e outros objetos pessoais. Também é nesse museu que podemos vislumbrar em toda a sua glória o retrato mais famoso de Sissi – outrora residente no Kunsthistorisches Museum, mas agora com morada permanente neste museu.
A visita tem duas partes muito demarcadas, sendo a primeira uma área mais moderna e absolutamente focada nos testemunhos e cronologia da vida de Sissi, e a segunda onde as portas imperiais se abrem e podemos passear pelos salões e quartos, cuidadosamente arranjados para que nos transportem para esta época, sem faltar nenhum pormenor – confesso, as mesas postas e os acessórios de toucador são os detalhes que nunca me escapam e que admiro sempre com encanto.
O bilhete de entrada já inclui um audioguia que nos acompanha por toda a visita, mas tenho de admitir que foi a parte mais dececionante de toda a experiência. A verdade é que Sissi teve uma adoração póstuma por parte de Viena; não só a Imperatriz se sentia deslocada dos costumes austeros da Corte Vienense, como também se sentia isolada de qualquer intervenção política. Curiosamente, nos momentos em que teve oportunidade de intervir, a Áustria beneficiou bastante, mas, em vida, o país que mais a admirou foi a Hungria.
O casamento com o Imperador Franz Joseph I, a relação conturbada com a sogra Sofia, o julgamento que sentia por parte da Corte e a privação que teve da educação dos seus filhos teve consequências trágicas na sua saúde mental, resultando na sua obsessão pelo corpo e pela beleza (a pequena esfera da sua vida que sentia que podia controlar e que, hoje sabemos, deu origem a vários distúrbios alimentares e a uma dismorfia grave). Todas estas características fazem com que, num contexto mais atual, a Princesa Diana e a Imperatriz Sissi sejam muito comparadas como vítimas da brutalidade da monarquia.
E porque é que dou todo este contexto? Porque não sinto que o audioguia tenha sido competente a fazê-lo – uma opinião partilhada unanimemente pelo grupo inteiro. O museu foi renovado em 2009, mas acredito mesmo que beneficiava de uma revisão profunda das mensagens que transmite sobre a Imperatriz (não só por uma questão de justiça, mas porque também podem ter impacto em que está do outro lado a ouvir - e que não precisa de ser um membro real para ser afetado). Não peço que seja parcial, mas acho que muitos dos relatos são não só cruéis, como ressentidos e patriarcais.
A título de exemplo, os primeiros filhos de Sissi são-lhes retirado logo após o parto, privando-a sequer os amamentar. Sissi dá colo e vê a primogénita pela primeira vez dias depois do parto. Isto provocou uma depressão profunda em Sissi, sem grande intervenção por parte do Imperador. Naturalmente, houve um desligar total do casal e um dos relatos que podem ouvir no audioguia é que Sissi ‘não cumpriu os seus deveres como mulher e mãe e ficou com depressão’. Uma observação infeliz e que, embora narrada em 2004 ou 2009, parece-me mais arcaica – talvez digna do tempo em que Sissi viveu e foi humilhada pelos mesmos julgamentos.
Terminámos a visita com uma sensação agridoce. Julgo que, se for uma forma introdutória para conhecerem a Imperatriz, é uma visita encantadora – especialmente por ter tantos artefactos reais e muitos pormenores. No entanto, não acho que mostre como era Sissi e tem uma narrativa ainda muito subversa ao ressentimento Austríaco. Sissi foi uma das mulheres mais progressistas e visionárias da sua geração e não sinto que o descubram através do museu, o que é uma pena.
Tivemos acesso ao Sisi Museum através do Sisi Ticket, por isso, mantenho a minha recomendação de privilegiarem a aquisição online (poupam uns euros e as filas de espera). E por favor, se ouvirem o audioguia, take it with a grain (a lot!) of salt.
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Fiquei intrigada com a série Emília desde que me cruzei com o primeiro trailer, mas rapidamente saltei da curiosidade para a conquista total ao assistir a vários episódios seguidos – que, se já me acompanham há tempo suficiente, sabem que é praticamente inédito.
O nome da série é homónimo à nossa protagonista, Emília, uma jovem a sofrer os desafios, dores e incertezas típicas de quem está na casa dos 20. No caso da sua história, acresce à trama o facto de pertencer a uma família disfuncional e de classe baixa, que passa por muitas dificuldades económicas. Enquanto se debate com as expectativas do que já esperava ter e alcançar com 25 anos, decide ir atrás de um sonho antigo e reprimido: ser bailarina profissional, ainda que sem formação.
Se a premissa já era boa, mais relevante do que nunca e muito atual, a execução deixou-me rendida. Comparando com o primeiro trabalho da Filipa Amaro, Frágil – que, para mim, não me conquistou o suficiente –, em Emília sinto que todos os pontos que a história pretendia tocar foram bem abordados e articulados. Numa edição que combina cortes dinâmicos e uma boa fotografia, somos transportados para a vida da Emília com uma mistura de comédia, identificação e comoção. Temas que fazem parte do nosso universo, como a síndrome do impostor, a sensação de estarmos perdidos no que queremos fazer, a constante comparação e extrapolação que fazemos dos outros nas redes sociais e a idealização de um sonho saem das nossas cabeças para serem expostos num ecrã através de diálogos memoráveis, personagens por quem sentimos empatia e um storytelling muito convincente.
Terminei Emília com a sensação de quem comeu uma fatia deliciosa de bolo rápido demais. Gostava de ter desfrutado de tudo com mais calma, mas é tão raro, hoje em dia, sentir-me envolvida com uma série que me permiti a esta sofreguidão. Permitam-se também, na RTP Play e com uma temporada pequenina.
terça-feira, 23 de maio de 2023
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Sabia muito pouco sobre Cleopatra and Frankenstein quando o escolhi como próxima leitura. A tradução só viria meses depois e não tinha muitas reviews para criar expectativas, pelo que mergulhei apenas com uma certeza: o cenário de toda a história era Nova Iorque.
Escolhi-o umas semanas antes de viajar na esperança de que me transportasse para este destino ainda sem descolar. Embora seja um livro com vários pontos de vista de diferentes personagens – o que me surpreendeu – os protagonistas desta história são Cleo e Frank que, por uma questão de conveniência burocrática e por uma paixão e clique instantâneo, decidem casar sem se conhecerem particularmente bem. Depressa percebemos ao longo da leitura que a decisão pode ter sido bastante precipitada e que a paixão e cumplicidade não chegam.
Não saber ao que ia neste livro foi um verdadeiro risco porque eu defendo que este livro não é para toda a gente. O que começou por ser um primeiro capítulo divertido, carismático e dos mais cativantes dos últimos tempos, levou-me por um buraco negro do qual eu não saí indiferente. Rapidamente percebemos que Cleo e Frank não só se debatem com os desafios de uma relação, mas também com as batalhas internas, como a depressão e o alcoolismo. Na cidade que nunca dorme, as personagens são devoradas pela solidão, pelas relações superficiais, pelos seus diagnósticos e vícios, sem se sentirem em casa com ninguém. Todas elas parecem nutrir uma única fidelidade: à cidade, embora se sintam traídos por ela em simultâneo.
Este é o tipo de livro que não nos deixa indiferentes. Cada vez tenho menos paciência para histórias mornas e com uma agenda programada. Quero odiar ou quero adorar, sem sentir que estive num loop de aborrecimento e Cleopatra and Frankenstein, para mim, cumpre esse propósito. Ou vão amar ou vão odiar, sem intermédio.
Fiquei muito fã do recurso estilístico da Coco Mellors e da sua capacidade para adaptá-lo ao ponto de vista de cada personagem. Senti que isso me permitiu ter compaixão pelas personagens – mesmo nas suas decisões questionáveis. Sinto-me também no dever de alertar que é um livro bastante gráfico e que pode não ser o que precisam num momento mais frágil – confesso que não amei uma parte do final em que uma das personagens reproduz um momento que não posso relatar para não estragar o efeito surpresa, mas achei de mau gosto.
Não é um livro perfeito, mas fez-me compreender Nova Iorque antes de lá chegar, fez-me torcer pelas personagens e fez-me sentir. É pretensioso em algumas partes? Antes de chegar a Manhattan, diria que sim. Agora sinto que é apenas um retrato, tal como é. Entreteve-me e partiu-me o coração para o voltar a colar no final. Faço parte do grupo que gostou, embora seja uma história inteligentemente feita para não amarmos as personagens que cometeram esse erro: amar demasiado cedo.
sábado, 20 de maio de 2023
2011 é um ano nebuloso na minha memória, mas regresso num sopro e em detalhe à sensação de êxtase total quando descobri que iria celebrar o fim dos exames nacionais ao som de Coldplay no Alive – uma completa surpresa apenas revelada dias antes do concerto, já esgotado e para o qual não tinha esperança de ver ao vivo. Vê-los foi um privilégio.
As circunstâncias para poder marcar presença 12 anos depois foram um pouco diferentes; uma vida inteira que se passou, uma evolução discográfica e uma nova modalidade de aquisição de bilhetes que, essa sim, gostaria de esquecer. Mas a 18 de maio, ali estava para rever aquela que será sempre uma das minhas bandas.
Cheguei ao Estádio Cidade de Coimbra com a certeza de que seria um concerto memorável, mas as expectativas foram superadas através de um espetáculo de luzes imersivo, um talento musical extraordinário e de um Chris Martin com uma presença de palco inigualável. Não é fácil fazer com que um estádio com centenas de milhares de pessoas se sinta unido, presente e em comunidade – consegui-lo com humildade, energia e criatividade, principalmente num mundo tão polarizado, é de louvar.
Durante quase 3 horas, a banda deu-nos a mão e conduziu-nos numa viagem que privilegiou os temas dos álbuns mais recentes (Humankind, Sky Full of Stars, My Universe, entre outros), mas sem deixar de regressar ao passado e de nos brindar com a nostalgia dos temas mais emblemáticos (Yellow, Fix You, Viva La Vida, Clocks e The Scientist não faltaram nesta celebração). E embora admita que tenho uma ligeira predileção pela setlist de 2011, a verdade é que não houve um minuto deste espetáculo em que não me sentisse absolutamente encantada (de tal forma que algumas das músicas mais recentes – e que ainda não tinham ‘crescido’ em mim – ganharam outra beleza aos meus olhos depois de as ouvir neste contexto). Houve ainda espaço para momentos surpresa, para a Balada da Despedida (que a minha companhia alumni gostou particularmente) e para Shiver, em homenagem a uma das músicas que a banda tocou na sua primeira visita a Portugal, em 2000.
Entre luzes, confettis de borboletas, balões e refrões icónicos, saltei, dancei, gritei, aplaudi e comovi-me com músicas que fazem parte dos Coldplay e que, de alguma forma, também se tornaram parte da minha vida. É essa a magia de unir tantas pessoas diferentes num só lugar para cantar as mesmas músicas: todos nós carregamos-lhes um significado e simbolismo diferentes, particulares.
Este foi um daqueles momentos em que tentei saborear e memorizar cada detalhe por saber que seria – e é – um dos concertos da minha vida. Fico feliz por o ter partilhado com a Carolina e com a minha família, num momento de total comunhão com a música.
Ainda que tenha uma relação mais especial com a discografia antiga, os Coldplay têm valores que me fazem continuar a acompanhar a banda em qualquer experimentação musical e que testemunhei neste espetáculo: a preocupação com a sustentabilidade, que pautou toda a tour, a simpatia com que nos recebem na nossa língua e os momentos em que nos fazem lembrar que somos centenas de milhares de humanos à procura de uma só coisa: um momento de paz para cantarmos um refrão que tudo nos diz e que nos faça sentir que pertencemos (mesmo quando nos sentimos aliens). Quando termino um concerto com a sensação de carrossel, com vontade de repetir a viagem e de voltar a vivê-lo, é quando sei que o bilhete valeu cada cêntimo e que tive um momento inesquecível.
segunda-feira, 15 de maio de 2023
A Casa Holandesa esperava-me na box de Natal da INDIE – Not a Bookshop e fiquei imediatamente intrigada pela capa e por ser o meu livro de estreia no universo de Ann Patchett.
Este é um drama familiar onde acompanhamos um casal de irmãos que perde, num sopro, tudo aquilo que consideravam como um lar - figurativamente, através da destruição gradual da sua família, mas também da sua casa, a Casa Holandesa.
O livro atravessa cinco décadas sempre pelo ponto de vista de Danny, que tem uma admiração e adoração profunda por Maeve, a irmã mais velha e que é a sua referência de maternidade e cuidado. A Casa Holandesa fica na posse da madrasta que orquestrou o isolamento e abandono destes dois irmãos.
Esta pode parecer uma história quase típica de contos tradicionais, mas A Casa Holandesa não poderia estar mais longe dessa trama. É, na verdade, uma viagem bem lenta e muito sofrida, onde sentimos ao pormenor a perda, as saudades e a não-resolução deste conflito entre estas duas personagens e aquela que foi a sua morada de residência mais especial. Para ser muito franca, não é o tipo de narrativa que eu prefira ler e sinto que alguns pormenores, na verdade, não resultaram na perfeição. Fez-me confusão que acompanhássemos 50 anos de duas pessoas, mas que não consigamos observar nenhuma evolução ou transformação na sua forma de pensar, comportar e até falar. Este detalhe talvez não fragilizasse tanto o livro se não fosse uma história tão focada nas personagens – não é, de todo, um plot dinâmico e se não gostam de leituras lentas e bem descritivas, este não é o livro ideal para mergulharem.
Porém, alguns elementos que vou listar abaixo fizeram com que tenha sido, até ao momento, uma das minhas leituras preferidas de 2023.
Adorei que a protagonista da história, na verdade, seja a tal Casa Holandesa. É nela que toda a narrativa orbita e que os momentos mais significativos do livro têm palco. Também é interessante que Maeve tenha muito mais destaque na história do que o nosso narrador. Aliás, embora Danny seja quem nos conduz pelo seu drama familiar, é uma figura muito secundária e pouco ligada ao plot – os acontecimentos também o atingem a ele como atingem à irmã, mas pela sua idade e personalidade, conseguimos compreender que duas pessoas absorvem e geram traumas diferentes a partir da mesma experiência. Acho que a autora consegue caracterizar isto de uma forma sublime.
Não é um livro onde vamos criar uma relação arrebatadora com as personagens – eu não suportei Danny, admito. Mas geramos uma empatia pela dinâmica do livro, pelo que a história, no seu todo, representa: a importância de ter uma resolução mesmo quando não há respostas, de como o passado molda quem somos, a importância de quem fica e de quem nos dá a mão em todas as tempestades e, o mais significativo do livro, na minha opinião, a prova de como as pessoas mais estoicas para nós são as que batalham com mais dureza as suas fragilidades. A sua força não é uma característica a dar por garantida nem a sobrevalorizar face a outros sinais.
Um livro duro, melancólico, lento, mas de uma beleza inacreditável. Foi merecidamente finalista do prémio Pulitzer e também já pode ser ouvido em audiobook, narrado pelo Tom Hanks (uma combinação que deve ser magistral, na minha opinião).
domingo, 14 de maio de 2023
A par do Schönbrunn, o Belvedere é um dos palácios mais antecipados nos roteiros turísticos. Foi o projeto mais amado do Príncipe Eugene de Savoy, que fez dele a sua residência oficial, mas a verdade é que o Palácio não é composto por apenas um edifício, mas sim um complexo de espaços divididos pelas zonas Upper Belvedere e Lower Belvedere. Um extraordinário jardim barroco – dos mais impressionantes da Europa e protegido pela UNESCO – faz a ponte entre estes dois espaços, tornando-se numa visita que pode ocupar-vos mais do que uma manhã ou tarde.
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