None of This is Serious


Confesso que já há algum tempo que não comprava um livro completamente às cegas, sem ter lido uma review primeiro, sem mo ter sido recomendado ou indicado por alguém de referência. Mas o design interessante da capa e a dedicatória fizeram-me arriscar e trazer None of This is Serious comigo. E ainda bem que fiz. 

None of This is Serious acompanha a mente e os pensamentos de Sophie, uma recém-licenciada irlandesa que se sente absolutamente perdida acerca do próximo passo. Enquanto todos os seus amigos parecem ter as próximas etapas bem encaminhadas, Sophie sente-se assoberbada pelas possibilidades (ou pela falta de oportunidades) e à sombra da sua pressão e das expectativas dos outros. E como se isso não bastasse, algo totalmente inesperado acontece no mundo: um rasto violeta atravessa o céu e ninguém faz a menor ideia do que é – nem se existe uma explicação científica para o fenómeno. 

Este era um livro que tinha tudo para não gostar: por norma, não costumo ter muita paciência para histórias onde a/o protagonista está sempre na sua bolha e escrutina tudo sem se colocar nos sapatos dos outros. Achei também que a escrita tinha um estilo que orbitava entre Sally Rooney e Emma Jane Unsworth (autora do Adultos), ambas autoras das quais não fiquei fã. E mesmo assim, foi um dos livros que mais sublinhei, este ano. 

Acho que None of This is Serious encapsula muito bem para as gerações futuras como foi viver a década dos 20 nesta altura do mundo, com precariedade, expectativas e pressão, a loucura das redes sociais e da especulação digital. É um livro que fala sobre doença mental, laivos de doenças de transtorno alimentar, assédio sexual e violação, solidão (...) quando, supostamente, deveríamos estar na nossa fase mais experimental e social. São temas duros, mas estão escritos de uma forma muito transparente. 

É um livro cheio de subtilezas, não só nas reflexões da realidade dos jovens, hoje em dia, mas também na própria construção das personagens. Por exemplo, em vários momentos, a protagonista queixa-se que outra personagem não consegue sair da sua bolha, não consegue ver além de si própria; mas a própria protagonista faz isso também, sem que dê conta. 

Acho que, em vários sentidos, podia ser um livro melhor: há partes na história que eu acho que foram forçadas a estarem lá por agenda, temas que achei que ficaram bastante subdesenvolvidos e o próprio final não me arrebatou. Mas pelas reflexões cirurgicamente certeiras – daquelas que sentimos que o autor andou a passear pela nossa mente – e pela construção muito bem feita das personagens, é um dos meus livros favoritos do ano.

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Bertrand

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