quarta-feira, 31 de maio de 2023


 VIENA
Já na reta final das nossas aventuras por Viena, decidimos fechar o capítulo a preceito com uma visita ao Café Mozart. Foi o primeiro café de Viena, aberto em 1794, apenas 3 anos após a morte do compositor que batiza o espaço e com uma proximidade conveniente à Ópera de Viena

terça-feira, 30 de maio de 2023


Thalia | Também presente em Berlim, poderia descrever a Thalia como uma Waterstones germânica, mas sem tantas promoções ou descontos. No entanto, a oferta é imbatível e, se lerem em inglês, vão encontrar imensas opções. Dividida por vários andares, é o lugar para conhecer livros novos, aproveitar hardcovers a um preço mais simpático do que em Portugal – sim, mesmo, em Viena -, acessórios de leitura, estacionário e artigos de casa. Foi também aqui que comprei o meu calendário do advento com chás para o Natal (e que vocês adoraram no Instagram). 

Frick Buchhandlung | Localizado na famosíssima Graben, a Frick é uma espécie de concorrente da Thalia. É uma cadeia de livros bem popular, com imensas edições e histórias de todos os géneros. Uma vez mais, não tem super promoções, mas também não vão precisar – facilmente compram paperbacks em Viena a rondar os 10-12 euros. 

Phil | Guardei o meu espaço preferido para o fim. Estava mesmo pertinho do nosso apartamento e parece saído de um lugar das Gilmore Girls, com uma mistura entre livraria e café, onde as mesas e cadeiras são todas desirmanadas e o chai latte é muito saboroso. A oferta de livros não é muito grande – e a maioria em alemão – mas têm uma mini-secção de livros em inglês e alguns vinis à venda. É um daqueles lugares que eu sei que seria o meu local de eleição ao fim de semana, se vivesse em Viena. Se só puderem visitar uma destas três, recomendo com toda a preferência esta.

sábado, 27 de maio de 2023


Há poucas coisas mais deliciosas numa viagem do que, depois de um assoberbar de cultura e informação, descontrair num programa mais leve e divertido. Apontar o Prater para o final de um dia cheio de museus e palácios foi a decisão perfeita para vermos um outro lado de Viena e para criarmos memórias especiais e felizes. 

sexta-feira, 26 de maio de 2023

Fotografia: Sisi Museum

O Sisi Museum era um dos que nós estávamos mais entusiasmadas por visitar. Cada uma já tinha um imaginário e informações diferentes sobre a Imperatriz mais famosa da Áustria e queríamos absorver esse universo com histórias, testemunhos e artefactos. 

Localizado nos Apartamentos Imperiais de Hofburg – e que podem visitar de seguida – o Sisi Museum foi inaugurado em 2004 e é inteiramente dedicado a fazer uma compreensão sobre a vida e objetos pessoais de Sissi. 

São mais de 300 os artefactos que podemos observar e que pertenciam à Imperatriz, desde vestiário, joias, fármacos e outros objetos pessoais. Também é nesse museu que podemos vislumbrar em toda a sua glória o retrato mais famoso de Sissi – outrora residente no Kunsthistorisches Museum, mas agora com morada permanente neste museu. 

A visita tem duas partes muito demarcadas, sendo a primeira uma área mais moderna e absolutamente focada nos testemunhos e cronologia da vida de Sissi, e a segunda onde as portas imperiais se abrem e podemos passear pelos salões e quartos, cuidadosamente arranjados para que nos transportem para esta época, sem faltar nenhum pormenor – confesso, as mesas postas e os acessórios de toucador são os detalhes que nunca me escapam e que admiro sempre com encanto. 

O bilhete de entrada já inclui um audioguia que nos acompanha por toda a visita, mas tenho de admitir que foi a parte mais dececionante de toda a experiência. A verdade é que Sissi teve uma adoração póstuma por parte de Viena; não só a Imperatriz se sentia deslocada dos costumes austeros da Corte Vienense, como também se sentia isolada de qualquer intervenção política. Curiosamente, nos momentos em que teve oportunidade de intervir, a Áustria beneficiou bastante, mas, em vida, o país que mais a admirou foi a Hungria. 

O casamento com o Imperador Franz Joseph I, a relação conturbada com a sogra Sofia, o julgamento que sentia por parte da Corte e a privação que teve da educação dos seus filhos teve consequências trágicas na sua saúde mental, resultando na sua obsessão pelo corpo e pela beleza (a pequena esfera da sua vida que sentia que podia controlar e que, hoje sabemos, deu origem a vários distúrbios alimentares e a uma dismorfia grave). Todas estas características fazem com que, num contexto mais atual, a Princesa Diana e a Imperatriz Sissi sejam muito comparadas como vítimas da brutalidade da monarquia. 

E porque é que dou todo este contexto? Porque não sinto que o audioguia tenha sido competente a fazê-lo – uma opinião partilhada unanimemente pelo grupo inteiro. O museu foi renovado em 2009, mas acredito mesmo que beneficiava de uma revisão profunda das mensagens que transmite sobre a Imperatriz (não só por uma questão de justiça, mas porque também podem ter impacto em que está do outro lado a ouvir - e que não precisa de ser um membro real para ser afetado). Não peço que seja parcial, mas acho que muitos dos relatos são não só cruéis, como ressentidos e patriarcais. 

A título de exemplo, os primeiros filhos de Sissi são-lhes retirado logo após o parto, privando-a sequer os amamentar. Sissi dá colo e vê a primogénita pela primeira vez dias depois do parto. Isto provocou uma depressão profunda em Sissi, sem grande intervenção por parte do Imperador. Naturalmente, houve um desligar total do casal e um dos relatos que podem ouvir no audioguia é que Sissi ‘não cumpriu os seus deveres como mulher e mãe e ficou com depressão’. Uma observação infeliz e que, embora narrada em 2004 ou 2009, parece-me mais arcaica – talvez digna do tempo em que Sissi viveu e foi humilhada pelos mesmos julgamentos. 

Terminámos a visita com uma sensação agridoce. Julgo que, se for uma forma introdutória para conhecerem a Imperatriz, é uma visita encantadora – especialmente por ter tantos artefactos reais e muitos pormenores. No entanto, não acho que mostre como era Sissi e tem uma narrativa ainda muito subversa ao ressentimento Austríaco. Sissi foi uma das mulheres mais progressistas e visionárias da sua geração e não sinto que o descubram através do museu, o que é uma pena. 

Tivemos acesso ao Sisi Museum através do Sisi Ticket, por isso, mantenho a minha recomendação de privilegiarem a aquisição online (poupam uns euros e as filas de espera). E por favor, se ouvirem o audioguia, take it with a grain (a lot!) of salt.

quinta-feira, 25 de maio de 2023


Fiquei intrigada com a série Emília desde que me cruzei com o primeiro trailer, mas rapidamente saltei da curiosidade para a conquista total ao assistir a vários episódios seguidos – que, se já me acompanham há tempo suficiente, sabem que é praticamente inédito. 

O nome da série é homónimo à nossa protagonista, Emília, uma jovem a sofrer os desafios, dores e incertezas típicas de quem está na casa dos 20. No caso da sua história, acresce à trama o facto de pertencer a uma família disfuncional e de classe baixa, que passa por muitas dificuldades económicas. Enquanto se debate com as expectativas do que já esperava ter e alcançar com 25 anos, decide ir atrás de um sonho antigo e reprimido: ser bailarina profissional, ainda que sem formação. 

Se a premissa já era boa, mais relevante do que nunca e muito atual, a execução deixou-me rendida. Comparando com o primeiro trabalho da Filipa Amaro, Frágil – que, para mim, não me conquistou o suficiente –, em Emília sinto que todos os pontos que a história pretendia tocar foram bem abordados e articulados. Numa edição que combina cortes dinâmicos e uma boa fotografia, somos transportados para a vida da Emília com uma mistura de comédia, identificação e comoção. Temas que fazem parte do nosso universo, como a síndrome do impostor, a sensação de estarmos perdidos no que queremos fazer, a constante comparação e extrapolação que fazemos dos outros nas redes sociais e a idealização de um sonho saem das nossas cabeças para serem expostos num ecrã através de diálogos memoráveis, personagens por quem sentimos empatia e um storytelling muito convincente. 

Terminei Emília com a sensação de quem comeu uma fatia deliciosa de bolo rápido demais. Gostava de ter desfrutado de tudo com mais calma, mas é tão raro, hoje em dia, sentir-me envolvida com uma série que me permiti a esta sofreguidão. Permitam-se também, na RTP Play e com uma temporada pequenina.

terça-feira, 23 de maio de 2023


Acertámos o timing com o único momento em que choveu na nossa viagem pela Áustria e refugiámo-nos no Kunsthistorisches Museum, o maior museu de arte do país. 

segunda-feira, 22 de maio de 2023


Sabia muito pouco sobre Cleopatra and Frankenstein quando o escolhi como próxima leitura. A tradução só viria meses depois e não tinha muitas reviews para criar expectativas, pelo que mergulhei apenas com uma certeza: o cenário de toda a história era Nova Iorque. 

Escolhi-o umas semanas antes de viajar na esperança de que me transportasse para este destino ainda sem descolar. Embora seja um livro com vários pontos de vista de diferentes personagens – o que me surpreendeu – os protagonistas desta história são Cleo e Frank que, por uma questão de conveniência burocrática e por uma paixão e clique instantâneo, decidem casar sem se conhecerem particularmente bem. Depressa percebemos ao longo da leitura que a decisão pode ter sido bastante precipitada e que a paixão e cumplicidade não chegam. 

Não saber ao que ia neste livro foi um verdadeiro risco porque eu defendo que este livro não é para toda a gente. O que começou por ser um primeiro capítulo divertido, carismático e dos mais cativantes dos últimos tempos, levou-me por um buraco negro do qual eu não saí indiferente. Rapidamente percebemos que Cleo e Frank não só se debatem com os desafios de uma relação, mas também com as batalhas internas, como a depressão e o alcoolismo. Na cidade que nunca dorme, as personagens são devoradas pela solidão, pelas relações superficiais, pelos seus diagnósticos e vícios, sem se sentirem em casa com ninguém. Todas elas parecem nutrir uma única fidelidade: à cidade, embora se sintam traídos por ela em simultâneo.

Este é o tipo de livro que não nos deixa indiferentes. Cada vez tenho menos paciência para histórias mornas e com uma agenda programada. Quero odiar ou quero adorar, sem sentir que estive num loop de aborrecimento e Cleopatra and Frankenstein, para mim, cumpre esse propósito. Ou vão amar ou vão odiar, sem intermédio. 

Fiquei muito fã do recurso estilístico da Coco Mellors e da sua capacidade para adaptá-lo ao ponto de vista de cada personagem. Senti que isso me permitiu ter compaixão pelas personagens – mesmo nas suas decisões questionáveis. Sinto-me também no dever de alertar que é um livro bastante gráfico e que pode não ser o que precisam num momento mais frágil – confesso que não amei uma parte do final em que uma das personagens reproduz um momento que não posso relatar para não estragar o efeito surpresa, mas achei de mau gosto. 

Não é um livro perfeito, mas fez-me compreender Nova Iorque antes de lá chegar, fez-me torcer pelas personagens e fez-me sentir. É pretensioso em algumas partes? Antes de chegar a Manhattan, diria que sim. Agora sinto que é apenas um retrato, tal como é. Entreteve-me e partiu-me o coração para o voltar a colar no final. Faço parte do grupo que gostou, embora seja uma história inteligentemente feita para não amarmos as personagens que cometeram esse erro: amar demasiado cedo.

WOOK

Bertrand

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sábado, 20 de maio de 2023


2011 é um ano nebuloso na minha memória, mas regresso num sopro e em detalhe à sensação de êxtase total quando descobri que iria celebrar o fim dos exames nacionais ao som de Coldplay no Alive – uma completa surpresa apenas revelada dias antes do concerto, já esgotado e para o qual não tinha esperança de ver ao vivo. Vê-los foi um privilégio. 

As circunstâncias para poder marcar presença 12 anos depois foram um pouco diferentes; uma vida inteira que se passou, uma evolução discográfica e uma nova modalidade de aquisição de bilhetes que, essa sim, gostaria de esquecer. Mas a 18 de maio, ali estava para rever aquela que será sempre uma das minhas bandas.

Cheguei ao Estádio Cidade de Coimbra com a certeza de que seria um concerto memorável, mas as expectativas foram superadas através de um espetáculo de luzes imersivo, um talento musical extraordinário e de um Chris Martin com uma presença de palco inigualável. Não é fácil fazer com que um estádio com centenas de milhares de pessoas se sinta unido, presente e em comunidade – consegui-lo com humildade, energia e criatividade, principalmente num mundo tão polarizado, é de louvar. 

Durante quase 3 horas, a banda deu-nos a mão e conduziu-nos numa viagem que privilegiou os temas dos álbuns mais recentes (Humankind, Sky Full of Stars, My Universe, entre outros), mas sem deixar de regressar ao passado e de nos brindar com a nostalgia dos temas mais emblemáticos (Yellow, Fix You, Viva La Vida, Clocks e The Scientist não faltaram nesta celebração). E embora admita que tenho uma ligeira predileção pela setlist de 2011, a verdade é que não houve um minuto deste espetáculo em que não me sentisse absolutamente encantada (de tal forma que algumas das músicas mais recentes – e que ainda não tinham ‘crescido’ em mim – ganharam outra beleza aos meus olhos depois de as ouvir neste contexto). Houve ainda espaço para momentos surpresa, para a Balada da Despedida (que a minha companhia alumni gostou particularmente) e para Shiver, em homenagem a uma das músicas que a banda tocou na sua primeira visita a Portugal, em 2000. 

Entre luzes, confettis de borboletas, balões e refrões icónicos, saltei, dancei, gritei, aplaudi e comovi-me com músicas que fazem parte dos Coldplay e que, de alguma forma, também se tornaram parte da minha vida. É essa a magia de unir tantas pessoas diferentes num só lugar para cantar as mesmas músicas: todos nós carregamos-lhes um significado e simbolismo diferentes, particulares.

Este foi um daqueles momentos em que tentei saborear e memorizar cada detalhe por saber que seria – e é – um dos concertos da minha vida. Fico feliz por o ter partilhado com a Carolina e com a minha família, num momento de total comunhão com a música. 

Ainda que tenha uma relação mais especial com a discografia antiga, os Coldplay têm valores que me fazem continuar a acompanhar a banda em qualquer experimentação musical e que testemunhei neste espetáculo: a preocupação com a sustentabilidade, que pautou toda a tour, a simpatia com que nos recebem na nossa língua e os momentos em que nos fazem lembrar que somos centenas de milhares de humanos à procura de uma só coisa: um momento de paz para cantarmos um refrão que tudo nos diz e que nos faça sentir que pertencemos (mesmo quando nos sentimos aliens). Quando termino um concerto com a sensação de carrossel, com vontade de repetir a viagem e de voltar a vivê-lo, é quando sei que o bilhete valeu cada cêntimo e que tive um momento inesquecível. 

segunda-feira, 15 de maio de 2023


A Casa Holandesa esperava-me na box de Natal da INDIE – Not a Bookshop e fiquei imediatamente intrigada pela capa e por ser o meu livro de estreia no universo de Ann Patchett. 

Este é um drama familiar onde acompanhamos um casal de irmãos que perde, num sopro, tudo aquilo que consideravam como um lar - figurativamente, através da destruição gradual da sua família, mas também da sua casa, a Casa Holandesa. 

O livro atravessa cinco décadas sempre pelo ponto de vista de Danny, que tem uma admiração e adoração profunda por Maeve, a irmã mais velha e que é a sua referência de maternidade e cuidado. A Casa Holandesa fica na posse da madrasta que orquestrou o isolamento e abandono destes dois irmãos. 

Esta pode parecer uma história quase típica de contos tradicionais, mas A Casa Holandesa não poderia estar mais longe dessa trama. É, na verdade, uma viagem bem lenta e muito sofrida, onde sentimos ao pormenor a perda, as saudades e a não-resolução deste conflito entre estas duas personagens e aquela que foi a sua morada de residência mais especial. Para ser muito franca, não é o tipo de narrativa que eu prefira ler e sinto que alguns pormenores, na verdade, não resultaram na perfeição. Fez-me confusão que acompanhássemos 50 anos de duas pessoas, mas que não consigamos observar nenhuma evolução ou transformação na sua forma de pensar, comportar e até falar. Este detalhe talvez não fragilizasse tanto o livro se não fosse uma história tão focada nas personagens – não é, de todo, um plot dinâmico e se não gostam de leituras lentas e bem descritivas, este não é o livro ideal para mergulharem. 

Porém, alguns elementos que vou listar abaixo fizeram com que tenha sido, até ao momento, uma das minhas leituras preferidas de 2023. 

Adorei que a protagonista da história, na verdade, seja a tal Casa Holandesa. É nela que toda a narrativa orbita e que os momentos mais significativos do livro têm palco. Também é interessante que Maeve tenha muito mais destaque na história do que o nosso narrador. Aliás, embora Danny seja quem nos conduz pelo seu drama familiar, é uma figura muito secundária e pouco ligada ao plot – os acontecimentos também o atingem a ele como atingem à irmã, mas pela sua idade e personalidade, conseguimos compreender que duas pessoas absorvem e geram traumas diferentes a partir da mesma experiência. Acho que a autora consegue caracterizar isto de uma forma sublime.

Não é um livro onde vamos criar uma relação arrebatadora com as personagens – eu não suportei Danny, admito. Mas geramos uma empatia pela dinâmica do livro, pelo que a história, no seu todo, representa: a importância de ter uma resolução mesmo quando não há respostas, de como o passado molda quem somos, a importância de quem fica e de quem nos dá a mão em todas as tempestades e, o mais significativo do livro, na minha opinião, a prova de como as pessoas mais estoicas para nós são as que batalham com mais dureza as suas fragilidades. A sua força não é uma característica a dar por garantida nem a sobrevalorizar face a outros sinais. 

Um livro duro, melancólico, lento, mas de uma beleza inacreditável. Foi merecidamente finalista do prémio Pulitzer e também já pode ser ouvido em audiobook, narrado pelo Tom Hanks (uma combinação que deve ser magistral, na minha opinião).


WOOK

Bertrand

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domingo, 14 de maio de 2023


A par do Schönbrunn, o Belvedere é um dos palácios mais antecipados nos roteiros turísticos. Foi o projeto mais amado do Príncipe Eugene de Savoy, que fez dele a sua residência oficial, mas a verdade é que o Palácio não é composto por apenas um edifício, mas sim um complexo de espaços divididos pelas zonas Upper Belvedere e Lower Belvedere. Um extraordinário jardim barroco – dos mais impressionantes da Europa e protegido pela UNESCO – faz a ponte entre estes dois espaços, tornando-se numa visita que pode ocupar-vos mais do que uma manhã ou tarde. 

quinta-feira, 11 de maio de 2023


Conversas Entre Amigos
Não tive a melhor experiência de leitura com Normal People, mas o regresso a Dublin despertou a vontade de dar uma segunda oportunidade a Sally Rooney. Com tantas juras de amor à autora, precisava de testar de novo e compreender se tinha sido apenas uma primeira má impressão ou se a autora não era mesmo para mim. 

quarta-feira, 10 de maio de 2023


“O nosso tempo de atenção está a diminuir” é, talvez, uma das frases da nossa atualidade. Se não a dissemos em alguma conversa, já a ouvimos ou lemos em qualquer lado. Pior: já a sentimos. 

A observação – seja ela falaciosa ou não – é quase irresistível de estar on top of mind cada vez que alguém ouve um podcast em velocidade 2.0, passa um vídeo de 10 segundos no TikTok porque está demasiado aborrecido ou reconsidera toda a amizade quando um amigo decide mostrar no telemóvel um vídeo de 3 minutos no Youtube que ‘é engraçadíssimo’. Existem mortes lentas e a de ficarmos a assistir à mão em endurance a segurar um telemóvel na horizontal é uma delas. 

Conteúdo rápido, vídeos curtos e ritmos dinâmicos parecem fazer parte do menu do dia do nosso cérebro insaciável por estímulos. Mas será que estamos mesmo a perder a nossa atenção? 

A nossa memória já foi comparada com a de um peixe dourado (entretanto, o resultado foi completamente desmentido) e é perceção comum de que o nosso tempo médio de atenção foi reduzido por uns segundos (outra informação falaciosa). Mas a verdade é que ainda não existe um volume robusto, credível e transparente de estudos sobre a nossa capacidade para estarmos concentrados e até sobre o nosso tempo de atenção. O interesse e objetivo de estudo é recente, mas, à luz dos resultados científicos (e credenciados) atuais, a nossa atenção não melhorou, mas também não piorou. Está igual. 

Parece… impossível! 

Os resultados não trazem conforto com o que sentimos na pele diariamente. 'Sim, talvez ainda não existam dados que suportem, hoje, o que evidenciamos, mas… a incapacidade de assistirmos a uma introdução sem passar à frente, de acelerarmos a velocidade ou de estarmos rendidos a plataformas como o Tiktok ou os reels (que, na minha opinião, funcionam como um microondas de vídeos arrefecidos do Tiktok) tem de significar alguma coisa. Principalmente no alvo mais apetecível de extrapolar estas conclusões com preocupação: os adolescentes. Certo?'

Sempre achei uma observação muito relevante – a dos adolescentes – porque é a mais fácil de contradizer quando falamos sobre o nosso tempo de atenção (e, aqui, transversal a todas as gerações): não conheço nenhuns pais, familiares ou tutores que não digam a seguinte frase: passou horas a jogar. 

Como podemos, neurologicamente, estar a perder o nosso tempo de atenção, mas, simultaneamente, perder horas num jogo de computador, ter um número crescente de leitores que consomem 200 páginas num dia e um aumento do interesse em atividades manuais que podem consumir manhãs inteiras? Se estamos a perder (mesmo que seja perceção e não um resultado científico) o nosso tempo de atenção, logicamente, não seríamos capazes de nos envolver com a mesma competência neste tipo de atividades - mesmo que quiséssemos. 

E a geração mais nova – normalmente, a principal portadora de mudança de comportamentos sociais – seria a primeira a manifestá-lo. Os nossos adolescentes não seriam capazes de perder um dia inteiro a jogar – uma perda para a ciência, por incrível que pareça, mas um dia de glória para a hora das refeições e para os pais. 

A realidade é que esta sensação de impaciência para com os conteúdos não é disparatada nem ilusória, apenas tem uma perspetiva ligeiramente diferente: não somos nós que temos um tempo de atenção mais curto; são as marcas, produtores e criadores de conteúdo que estão mais competentes em agarrar a nossa atenção, o que também nos torna numa audiência mais exigente. 

Precisamente por esta linha, os filmes estão mais curtos e com uma rodagem mais rápida, os blogues caíram em desuso (embora eu continue teimosamente a contrariar a tendência…), os livros têm uma storyline mais dinâmica, plataformas como o Tiktok ascenderam e mesmo a própria linha de condução dos vídeos no Youtube está diferente. O que inicialmente parecia uma questão neurológica torna-se numa questão de… marketing. De manter a audiência sentada na sala o maior tempo possível. 

Mas quando mergulho a sério na questão do tempo de atenção – e, mais relevante neste tema, na captação da atenção – dou por mim a ramificar este assunto para outros tópicos: a publicidade (claro!), mas também a nossa própria estrutura social e urbana, que tem sido reconstruída evolutivamente para que vivamos um ritmo mais acelerado e mais produtivo (a qualquer custo). Se somos obrigados (mesmo que indiretamente) a manter a passada, é inevitável que esperemos (mesmo que, quando pensamos a fundo, talvez não queiramos) que os conteúdos que nos servem e entretêm correspondam com a mesma entrega com que trabalhamos e produzimos. Não é ao acaso que a consequência disso seja uma crescente epidemia de transtornos de ansiedade, depressão, entre outras doenças mentais. 

O que me leva a questionar: sentimos que estamos com o tempo de atenção mais curto porque temos, tendencialmente, preferência por um conteúdo rápido, ou poderá ser consequência da nossa (ausência de) saúde mental? 

Observamos, hoje em dia, redes sociais e os seus conteúdos, por exemplo, como algo potencialmente viciante. O ‘vicio das redes sociais’ é uma frase quase tão gasta como a primeira deste artigo. Mas e se o nosso comportamento não for resultado de uma adição e sim de um mecanismo de sobrevivência que resulta em comportamentos próximos à adição? Parecem iguais, mas são comportamentos ligeiramente distintos.

Se uma pessoa observar o Tiktok como um escape quando se sente pressionada, se o primeiro instinto é abrir o Instagram quando recebe uma tarefa ou informação difícil, se a ideia da ‘preguiça’ e da ‘procrastinação’ têm estado em estreita colaboração com as horas que são gastas no Pinterest e no Youtube, o meu instinto não é observar este cenário como um défice de atenção e tampouco como uma adição ao digital. Retrata um comportamento de fuga, de sobrevivência ao que está a sentir e a pensar. E se antes os comportamentos de fuga eram mais rudimentares, uma vez mais, a capacidade de os conteúdos agarrarem melhor a atenção também se traduz numa condução mais eficiente do target para longe da sua realidade. 

Para muitos, o momento em que fazem scroll por tempo indeterminado no ecrã – vendo, mas não retendo nada – é o melhor mecanismo de recompensa que irão ter naquele dia (o que nos leva ao ‘vicio’ da dopamina – tema para outro artigo). 

Enquanto deixamos que a ciência prossiga com os seus estudos, scans e autocolantes nas têmporas, talvez possamos ocupar a nossa (normalizada) atenção a refletir sobre dois temas: enquanto audiência, a perceção de quando e como estamos a consumir conteúdos e de que forma nos estão a ser apresentados – saber como algo está a acontecer é o primeiro passo para assumir controlo. Também eu gosto de ver vídeos no Tiktok (e passo à frente muitos), mas o momento em que me sinto com o polegar hipnotizado e dessensibilizada é o momento em que tenho de me lembrar de como estou a fazer uso desse tempo. 

Enquanto criadores de conteúdo, sobra-nos um desafio em mãos: saber que a audiência está mais exigente orienta o ónus da competência e responsabilidade para nós. Poderá ser um fator de ansiedade (a confirmação de que temos mesmo de agarrar melhor o público e todas as dúvidas e inseguranças que isso acarreta), mas liberta-nos também com a certeza de que não, a atenção não está comprometida. E isso é muito importante, porque se a atenção não está comprometida (pelo menos, para já), isso também significa que existe mesmo uma audiência para qualquer tipo de formato - e que talvez a nossa audiência não precise, realmente, de um conteúdo rápido.

Captar a atenção não necessita que seja um conteúdo excessivamente dinâmico ou acelerado – e se não for esse o público ou o conceito do que criamos, talvez não precisemos de seguir os carneiros. A audiência certa (principalmente, a consciente do que está a consumir) estará connosco – orientada com a informação de que este conteúdo traduz-se num momento para desacelerar.

E todos sabemos o quanto precisamos disso.

terça-feira, 9 de maio de 2023

 VIENA
Se há prato típico nesta região, é o schnitzel. É-nos bem familiar – também nós temos os amados panados de proteína na nossa cultura alimentar – e, embora não seja algo que, no dia a dia, deseje comer com regularidade, quis cumprir a tradição por cá. 

Comer fora é caro – como já é apanágio em Viena, na verdade -, mas encontrámos no Schnitzelwirt 52 uma opção relativamente acessível e muito tradicional de provarmos os nossos schnitzels

Recomendo-vos muito que cheguem cedo, porque rapidamente se formou uma fila para nos sentarmos num verdadeiro ambiente interior de chalé. Entre quadros com fotografias que eternizam a visita de figuras públicas, encontramos relógios de madeira, balcões tradicionais, empregados barulhentos e que não falam uma palavra em inglês. Se o menu vos parece língua de trapos, sabem que encontraram um pequeno lugar autêntico numa cidade marcada pelo turismo. 

A especialidade é, claro, o schnitzel, mas existem inúmeras variantes deste prato típico que podem provar. Na Áustria, o mais tradicional é o wiener schnitzel, cuja proteína é a vitela – não tão típico para nós, que estamos mais habituados ao frango e porco. No entanto, têm schnitzel de todas as opções que possam imaginar – incluindo uma versão para ovo-lacto-vegetarianos que um dos elementos do grupo experimentou. Estivemos na Áustria há 8 meses, mas esse schnitzel ainda é referenciado aos dias de hoje com saudosismo (não há melhor prova de que foi bom, certo?). 

As porções são inacreditáveis – se não estiverem famintos, uma dose chega perfeitamente para partilhar entre duas pessoas – e a promessa de que vão deliciar-se com a comida típica é cumprida sem destruir o vosso orçamento. Perfeito para um jantar depois de muito passeio.

segunda-feira, 8 de maio de 2023


Existem poucos eventos que me façam inscrever ou comprar um bilhete sem uma reflexão ponderada de vários dias úteis: o Litulla’s Book Swap foi um deles. 

Assim que a Marta divulgou este evento de troca de livros, soube de imediato que 1) este tipo de evento faz muita falta e parece inacreditável que existam tão poucos e 2) queria participar neste. 

Com ponto de encontro no Machimbombo, entre paredes cor-de-rosa e bolas de espelhos, a Marta convidou-nos a trazermos livros para troca e para nos darmos a conhecer entre leitoras, criadoras de conteúdo ou mobilizadoras de projetos. Com duas modalidades de bilhete, o que eu escolhi tinha direito à troca de livros, um cocktail ou mocktail (e adorei essa opção, não só eram deliciosos como desviaram o álcool do ónus da socialização - algo importante e pouco abertamente falado), a famosa Unrealiable Narrator tote bag – à qual já lhe jurei fidelidade nos Favoritos de abril –, um super scrunchie e um blind date cuidadosamente escolhido pela Marta para cada uma de nós. 

Já tive oportunidade de refletir um pouco sobre este evento através do The Characters Club – e aproveito para agradecer o imenso carinho que esse post gerou! -, mas é uma iniciativa que eu gostava muito de poder explorar só mais um pouco neste artigo – até porque sinto que permite um full circle (não teria conhecido a Marta se não fosse pela blogosfera). 

Há um elemento chave em todo o branding Litulla que eu acredito que é o que também torna a Marta numa bookstagrammer tão bem-sucedida – e que extrapolou muito bem para este evento: não existe um estereótipo de leitoras. Litulla pega nas melhores referências nostálgicas Y2K, no cor de rosa (à séria), nas referências pop e entra pelo universo das mantas, chás e objetos delicados sem pedir desculpa nem permissão. E não tem de o fazer: não somos todos bookworms introvertidos - ou podemos não sê-lo, se nos apetecer.

Entre música animada, roupas coloridas e conversas, abriam-se as portas para eventos literários fora da caixa que dão espaço para novas formas de socialização e para a oportunidade de conhecer pessoas que partilham dos mesmos entusiasmos connosco. Litulla é original por isso mesmo: tudo o que pensamos ser de mais cliché na leitura é reinventado, até um encontro entre leitoras. 

Fiquei genuinamente surpreendida com a generosidade da troca de livros (com géneros de todos os gostos, muitos títulos atuais, opções que me fizeram despertar a curiosidade e até tirar alguns da wishlist), gostei de poder conhecer tantas pessoas e projetos interessantes, de passar uma tarde incrível num ambiente descontraído e a trocar ideias de livros e, claro, de finalmente poder conhecer a Marta. 

Não só apoio, como estou entusiasmada com a ideia de próximos eventos deste género – e espero que todos eles tenham o sucesso merecido. Até lá, recordarei esta tarde com carinho.

quinta-feira, 4 de maio de 2023


Março e abril. Que vida, que movimento…! Embora março tenha sido um mês mais recolhido, preparava tudo o que abril tinha para trazer: viagens, eventos, experiências e uma série de outras recordações que partilho convosco de seguida.

quarta-feira, 3 de maio de 2023


Foi imediato: assim que iniciei a leitura de Daisy Jones & The Six, soube que seria um dos raros momentos em que, adaptado, resultaria melhor do que o livro. Não que o livro não seja uma experiência interessante – fiz a review a detalhe aqui -, mas por toda a componente visual e, principalmente, sonora, sabia que queria mergulhar numa adaptação multimédia. 

A história procura resolver um mistério: durante a década de 70, Daisy Jones & The Six eram a banda mais popular do mundo, esgotando bilheteiras e deixando os fãs apaixonados pela dupla de vocalistas e pelos elementos carismáticos do resto da banda. No entanto, no auge da sua popularidade, a banda separa-se sem qualquer justificação. O que se passou? Vários anos depois, todos os elementos decidem reunir-se e contar num documentário a sua versão da história. 

A par do livro, é difícil pensar que Daisy Jones & The Six é completamente ficcional – porque é irresistível acreditar que eles realmente existiam. A adaptação da Amazon Prime mantém esta sensação que já nos acompanhava ao longo da leitura, mas com um pequeno prémio: agora, podemos ouvir as canções. 

Esta é uma série de uma só temporada que eu recomendo mesmo que nunca tenham lido o livro, mas são entusiastas da música e procuram uma história envolvente e com muito carisma. Sim, a adaptação sofre algumas alterações – que, já me apercebi, fraturou as opiniões dos leitores -, mas tenho que admitir que estou perfeitamente satisfeita com a adaptação. Podíamos ter uma Daisy mais insuportável? Podíamos. Devíamos ter tido uma Camila com um nadinha de mais garra? Devíamos. Mas não é o suficiente para ignorar a capacidade da produção em dar alma não só às personagens, como à química de todos os membros e som às músicas que, nas páginas, só podíamos escutar com a nossa imaginação. 

Daisy Jones & The Six é o retrato perfeito de uma época de glória para a música, de irresponsabilidade e excessos, problemas ou dinâmicas que fazem parte do passado e de uma insuportável curiosidade para saber o que é que pode separar tantos elementos que respiram música e que deram tudo o que tinham para estarem ali, naquele momento.

terça-feira, 2 de maio de 2023

Fotografia: Schönbrunn

Há casas de verão e casas de verão. O Schönbrunn faz parte, sem dúvida, da segunda categoria. É a atração turística mais visitada de toda a Áustria e compreende-se porquê: não só está repleta de salas, salões e quartos com elementos exuberantes, como foi cenário de algumas curiosidades muito interessantes. 

segunda-feira, 1 de maio de 2023


Juntei-me à festa da Dolly muito tarde – ainda não li Tudo o Que Sei Sobre (…) o Amor, por exemplo -, mas avancei com o Dear Dolly numa altura em que só queria uma leitura leve, de não-ficção e, confesso, não resisto a uma boa coluna de conselhos. 

O Dear Dolly é uma compilação dos conselhos preferidos que deu, semanalmente, na sua coluna no Sunday Times Style. Dividido em 7 categorias, encontramos dúvidas e temas sobre universos que não nos são indiferentes, entre amizade, relações amorosas, dinâmicas familiares, sexo, corações partidos e desenvolvimento pessoal. 

O que mais gosto nos conselhos e reflexões da Dolly é a sua capacidade para não ser taxativa e de conseguir observar aquelas dúvidas ou inseguranças (das quais, certamente, muitos de nós partilhamos ou facilmente poderíamos estar naqueles sapatos) de um ponto de vista macro. Podem ser duas características que muita gente consideraria como negativas para uma conselheira (ninguém quer conselhos vagos para as suas inquietações e, intimamente, esperamos que tomem o nosso partido), mas a Dolly consegue ser tudo menos vaga. Há uma capacidade quase cirúrgica para responder ‘estou a validar o que estás a sentir, consigo perceber de onde vem essa dúvida, mas já observaste X, Y e Z?’ e é perfeito porque torna-se, efetivamente, útil. 

A parte difícil de oferecer conselhos – principalmente a pessoas anónimas e cujo o contexto depende da qualidade dos detalhes – é que ninguém é dono da verdade (principalmente na casa dos 30, como é o caso da Dolly). É fácil dizer ‘tens de fazer isto, tens de fazer aquilo, ele não está interessado, tens de terminar com ela, não é assim tão tua amiga se fez isso, devias largar tudo e fazer A, B e C’ porque não estamos lá e estamos desprovidos não só de contexto, como de emoção com o alvo da nossa inquietação. A empatia e validação das emoções que a Dolly proporciona, acredito, é um bálsamo para quem a procura. Porque muitas vezes é para isso que as pessoas procuram conselhos: para serem ouvidas e validadas, mesmo que não exista uma resposta de ouro. 

Toda a leitura correspondeu ao que procurava: entreteve-me, fez-me refletir sobre alguns pontos de vista da Dolly e até dei por mim a pensar que conselhos eu dava se me deparasse com a mesma pergunta. No geral, sinto que foi uma leitura enriquecedora e que reforçou aquilo que eu acho que é fundamental quando estamos a receber a inquietação de alguém: dar colo e perspetiva. A resposta a pessoa irá sempre chegar lá por si.

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Bertrand

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