Cleopatra and Frankenstein


Sabia muito pouco sobre Cleopatra and Frankenstein quando o escolhi como próxima leitura. A tradução só viria meses depois e não tinha muitas reviews para criar expectativas, pelo que mergulhei apenas com uma certeza: o cenário de toda a história era Nova Iorque. 

Escolhi-o umas semanas antes de viajar na esperança de que me transportasse para este destino ainda sem descolar. Embora seja um livro com vários pontos de vista de diferentes personagens – o que me surpreendeu – os protagonistas desta história são Cleo e Frank que, por uma questão de conveniência burocrática e por uma paixão e clique instantâneo, decidem casar sem se conhecerem particularmente bem. Depressa percebemos ao longo da leitura que a decisão pode ter sido bastante precipitada e que a paixão e cumplicidade não chegam. 

Não saber ao que ia neste livro foi um verdadeiro risco porque eu defendo que este livro não é para toda a gente. O que começou por ser um primeiro capítulo divertido, carismático e dos mais cativantes dos últimos tempos, levou-me por um buraco negro do qual eu não saí indiferente. Rapidamente percebemos que Cleo e Frank não só se debatem com os desafios de uma relação, mas também com as batalhas internas, como a depressão e o alcoolismo. Na cidade que nunca dorme, as personagens são devoradas pela solidão, pelas relações superficiais, pelos seus diagnósticos e vícios, sem se sentirem em casa com ninguém. Todas elas parecem nutrir uma única fidelidade: à cidade, embora se sintam traídos por ela em simultâneo.

Este é o tipo de livro que não nos deixa indiferentes. Cada vez tenho menos paciência para histórias mornas e com uma agenda programada. Quero odiar ou quero adorar, sem sentir que estive num loop de aborrecimento e Cleopatra and Frankenstein, para mim, cumpre esse propósito. Ou vão amar ou vão odiar, sem intermédio. 

Fiquei muito fã do recurso estilístico da Coco Mellors e da sua capacidade para adaptá-lo ao ponto de vista de cada personagem. Senti que isso me permitiu ter compaixão pelas personagens – mesmo nas suas decisões questionáveis. Sinto-me também no dever de alertar que é um livro bastante gráfico e que pode não ser o que precisam num momento mais frágil – confesso que não amei uma parte do final em que uma das personagens reproduz um momento que não posso relatar para não estragar o efeito surpresa, mas achei de mau gosto. 

Não é um livro perfeito, mas fez-me compreender Nova Iorque antes de lá chegar, fez-me torcer pelas personagens e fez-me sentir. É pretensioso em algumas partes? Antes de chegar a Manhattan, diria que sim. Agora sinto que é apenas um retrato, tal como é. Entreteve-me e partiu-me o coração para o voltar a colar no final. Faço parte do grupo que gostou, embora seja uma história inteligentemente feita para não amarmos as personagens que cometeram esse erro: amar demasiado cedo.

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Bertrand

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