A Casa Holandesa


A Casa Holandesa esperava-me na box de Natal da INDIE – Not a Bookshop e fiquei imediatamente intrigada pela capa e por ser o meu livro de estreia no universo de Ann Patchett. 

Este é um drama familiar onde acompanhamos um casal de irmãos que perde, num sopro, tudo aquilo que consideravam como um lar - figurativamente, através da destruição gradual da sua família, mas também da sua casa, a Casa Holandesa. 

O livro atravessa cinco décadas sempre pelo ponto de vista de Danny, que tem uma admiração e adoração profunda por Maeve, a irmã mais velha e que é a sua referência de maternidade e cuidado. A Casa Holandesa fica na posse da madrasta que orquestrou o isolamento e abandono destes dois irmãos. 

Esta pode parecer uma história quase típica de contos tradicionais, mas A Casa Holandesa não poderia estar mais longe dessa trama. É, na verdade, uma viagem bem lenta e muito sofrida, onde sentimos ao pormenor a perda, as saudades e a não-resolução deste conflito entre estas duas personagens e aquela que foi a sua morada de residência mais especial. Para ser muito franca, não é o tipo de narrativa que eu prefira ler e sinto que alguns pormenores, na verdade, não resultaram na perfeição. Fez-me confusão que acompanhássemos 50 anos de duas pessoas, mas que não consigamos observar nenhuma evolução ou transformação na sua forma de pensar, comportar e até falar. Este detalhe talvez não fragilizasse tanto o livro se não fosse uma história tão focada nas personagens – não é, de todo, um plot dinâmico e se não gostam de leituras lentas e bem descritivas, este não é o livro ideal para mergulharem. 

Porém, alguns elementos que vou listar abaixo fizeram com que tenha sido, até ao momento, uma das minhas leituras preferidas de 2023. 

Adorei que a protagonista da história, na verdade, seja a tal Casa Holandesa. É nela que toda a narrativa orbita e que os momentos mais significativos do livro têm palco. Também é interessante que Maeve tenha muito mais destaque na história do que o nosso narrador. Aliás, embora Danny seja quem nos conduz pelo seu drama familiar, é uma figura muito secundária e pouco ligada ao plot – os acontecimentos também o atingem a ele como atingem à irmã, mas pela sua idade e personalidade, conseguimos compreender que duas pessoas absorvem e geram traumas diferentes a partir da mesma experiência. Acho que a autora consegue caracterizar isto de uma forma sublime.

Não é um livro onde vamos criar uma relação arrebatadora com as personagens – eu não suportei Danny, admito. Mas geramos uma empatia pela dinâmica do livro, pelo que a história, no seu todo, representa: a importância de ter uma resolução mesmo quando não há respostas, de como o passado molda quem somos, a importância de quem fica e de quem nos dá a mão em todas as tempestades e, o mais significativo do livro, na minha opinião, a prova de como as pessoas mais estoicas para nós são as que batalham com mais dureza as suas fragilidades. A sua força não é uma característica a dar por garantida nem a sobrevalorizar face a outros sinais. 

Um livro duro, melancólico, lento, mas de uma beleza inacreditável. Foi merecidamente finalista do prémio Pulitzer e também já pode ser ouvido em audiobook, narrado pelo Tom Hanks (uma combinação que deve ser magistral, na minha opinião).


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Bertrand

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