Fotografia: Sisi Museum |
O Sisi Museum era um dos que nós estávamos mais entusiasmadas por visitar. Cada uma já tinha um imaginário e informações diferentes sobre a Imperatriz mais famosa da Áustria e queríamos absorver esse universo com histórias, testemunhos e artefactos.
Localizado nos Apartamentos Imperiais de Hofburg – e que podem visitar de seguida – o Sisi Museum foi inaugurado em 2004 e é inteiramente dedicado a fazer uma compreensão sobre a vida e objetos pessoais de Sissi.
São mais de 300 os artefactos que podemos observar e que pertenciam à Imperatriz, desde vestiário, joias, fármacos e outros objetos pessoais. Também é nesse museu que podemos vislumbrar em toda a sua glória o retrato mais famoso de Sissi – outrora residente no Kunsthistorisches Museum, mas agora com morada permanente neste museu.
A visita tem duas partes muito demarcadas, sendo a primeira uma área mais moderna e absolutamente focada nos testemunhos e cronologia da vida de Sissi, e a segunda onde as portas imperiais se abrem e podemos passear pelos salões e quartos, cuidadosamente arranjados para que nos transportem para esta época, sem faltar nenhum pormenor – confesso, as mesas postas e os acessórios de toucador são os detalhes que nunca me escapam e que admiro sempre com encanto.
O bilhete de entrada já inclui um audioguia que nos acompanha por toda a visita, mas tenho de admitir que foi a parte mais dececionante de toda a experiência. A verdade é que Sissi teve uma adoração póstuma por parte de Viena; não só a Imperatriz se sentia deslocada dos costumes austeros da Corte Vienense, como também se sentia isolada de qualquer intervenção política. Curiosamente, nos momentos em que teve oportunidade de intervir, a Áustria beneficiou bastante, mas, em vida, o país que mais a admirou foi a Hungria.
O casamento com o Imperador Franz Joseph I, a relação conturbada com a sogra Sofia, o julgamento que sentia por parte da Corte e a privação que teve da educação dos seus filhos teve consequências trágicas na sua saúde mental, resultando na sua obsessão pelo corpo e pela beleza (a pequena esfera da sua vida que sentia que podia controlar e que, hoje sabemos, deu origem a vários distúrbios alimentares e a uma dismorfia grave). Todas estas características fazem com que, num contexto mais atual, a Princesa Diana e a Imperatriz Sissi sejam muito comparadas como vítimas da brutalidade da monarquia.
E porque é que dou todo este contexto? Porque não sinto que o audioguia tenha sido competente a fazê-lo – uma opinião partilhada unanimemente pelo grupo inteiro. O museu foi renovado em 2009, mas acredito mesmo que beneficiava de uma revisão profunda das mensagens que transmite sobre a Imperatriz (não só por uma questão de justiça, mas porque também podem ter impacto em que está do outro lado a ouvir - e que não precisa de ser um membro real para ser afetado). Não peço que seja parcial, mas acho que muitos dos relatos são não só cruéis, como ressentidos e patriarcais.
A título de exemplo, os primeiros filhos de Sissi são-lhes retirado logo após o parto, privando-a sequer os amamentar. Sissi dá colo e vê a primogénita pela primeira vez dias depois do parto. Isto provocou uma depressão profunda em Sissi, sem grande intervenção por parte do Imperador. Naturalmente, houve um desligar total do casal e um dos relatos que podem ouvir no audioguia é que Sissi ‘não cumpriu os seus deveres como mulher e mãe e ficou com depressão’. Uma observação infeliz e que, embora narrada em 2004 ou 2009, parece-me mais arcaica – talvez digna do tempo em que Sissi viveu e foi humilhada pelos mesmos julgamentos.
Terminámos a visita com uma sensação agridoce. Julgo que, se for uma forma introdutória para conhecerem a Imperatriz, é uma visita encantadora – especialmente por ter tantos artefactos reais e muitos pormenores. No entanto, não acho que mostre como era Sissi e tem uma narrativa ainda muito subversa ao ressentimento Austríaco. Sissi foi uma das mulheres mais progressistas e visionárias da sua geração e não sinto que o descubram através do museu, o que é uma pena.
Tivemos acesso ao Sisi Museum através do Sisi Ticket, por isso, mantenho a minha recomendação de privilegiarem a aquisição online (poupam uns euros e as filas de espera). E por favor, se ouvirem o audioguia, take it with a grain (a lot!) of salt.
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