segunda-feira, 31 de outubro de 2022
Continuamos na atmosfera dark academia e Como Se Fôssemos Vilões não podia encaixar melhor nesta categoria: numa prestigiada escola de teatro, conhecemos um grupo de sete estudantes pretensiosos, pouco fiáveis e com uma queda inegável por Shakespeare. Depois de uma trágica morte na escola, o nosso protagonista – Oliver Marks, integrante deste grupo – é acusado de homicídio e condenado a 10 anos de prisão. E é através desta história que descobrimos a verdade sobre tudo o que aconteceu.
Como Se Fôssemos Vilões é um livro quase irresistível de avaliar superficialmente; o plot twist não foi o meu preferido, não adorei o final e os diálogos Shakespearianos são, a certa altura, de bradar aos céus, mas Como Se Fôssemos Vilões é uma história com camadas fabulosas onde a minha parte preferida de toda a narrativa estava nas entrelinhas.
Entre peças de teatro e comportamentos suspeitos das personagens – num clima de tensão sem precedentes – este é um livro que nos assombra com um dilema moral e onde o foco da história não deriva para a morte, mas sim para o segredo, onde o mais importante não é suspeito e sim as relações que estão simultaneamente escondidas e à vista. Acredito genuinamente que o objetivo da autora não era fazer-nos apenas aguçar a curiosidade sobre a morte de um personagem, e sim para mergulharmos no lado mais questionável e negro das restantes personagens, mais vivas do que nunca. Quão frágil é a nossa moralidade? E por quem a colocamos em xeque?
Por estas entrelinhas que a história oferece no meio de um thriller misterioso, Como Se Fôssemos Vilões conquistou-me e as personagens conviveram dentro da minha cabeça até muito depois de o ter terminado. É uma experiência de leitura verdadeiramente imersiva se o leitor aceitar o papel de vilão que as personagens oferecem e deixar-se levar na peça com elas.
domingo, 30 de outubro de 2022
Dussmann: Pensem num paraíso para leitores – uma livraria de quatro andares de livros (incluindo estacionário!), com café e que fecha à meia-noite. Não vos vou contar quantas horas estivemos nesta livraria (nem quantos livros trouxe), mas digamos que, se pudesse estalar os dedos, voltava lá neste preciso segundo. É imperdível para encontrarem o livro que andam à procura (tem um piso só para livros em inglês – e até tinha uma prateleira de livros em português).
Checkpoint Charlie Gallery: Se quiserem levar convosco um pedacinho do Muro de Berlim com certificado de autentificação, então esta é a loja certa. Fica mesmo ao lado do Checkpoint Charlie e têm pedaços de todos os tamanhos e feitios. Conseguem também espreitar o atelier para acompanharem como é que o processo de extração é feito.
Flohmarkt im Mauerpark: Dediquei-lhe um artigo inteiro, por isso, não me vou alongar muito, mas se forem fãs de artesanato, artigos em 2ª mão e feiras, aproveitem para passar a manhã por aqui. Acontece todos os domingos e até têm algumas banquinhas com comida!
Rosa Wolf Magazines: Não há revista que não encontrem na Rosa Wolf Magazines – até mesmo edições internacionais, caso o alemão não seja a vossa praia. Além disso, é de caminho do Flohmarkt!
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Estava na minha caminhada habitual, na companhia do podcast Anything Goes, quando a Emma referiu algo que me deixou a refletir durante praticamente todo o percurso. A tradução livre do que ela disse poderia ser algo como ‘Toda a minha vida, eu operei por medo e não por motivação”.
Foi uma observação que ficou em total sintonia comigo, não só porque sinto, graças à ansiedade, que operei muitas coisas da minha vida por medo, tal como ela o diz, mas também a sinalizar cada etapa como uma despedida, como se vivesse num eterno adeus.
Eu despeço-me da casa e dos hotéis quando viajo. Despedi-me dos tempos de escola – que, já agora, odiei visceralmente. Quando comecei a enfrentar os desafios da vida adulta, senti-me a despedir da juventude mais simples. Quando estou no último dia de viagem, despeço-me do destino. Quando fui para a faculdade e quando saí da faculdade, senti-me a despedir dos grupos que tinha feito porque nunca mais as coisas seriam as mesmas. Ou despeço-me de rotinas quando começo uma nova fase.
O mais curioso é que o faço mesmo quando a etapa seguinte é melhor e mais desejada, quando sei que vai trazer mais felicidade. Ainda assim, sinto-me nostálgica e inicio automaticamente um processo de despedida. Pode parecer inócuo, mas é exaustivo não ter um 'chip' diferente e não encarar as etapas da vida não como um eterno ‘adeus’, mas como um eterno ‘olá’.
Sim, cada fase é uma despedida de rotinas, lugares e pessoas que não vão voltar a ser as mesmas coisas, mas também é um ‘olá’ a outras rotinas, lugares e pessoas. É um começo, uma nova temporada - por vezes, muito desejada. E observar as coisas dessa perspetiva faz muita diferença na forma como encaramos o nosso crescimento, amadurecimento e as mudanças que a vida acarreta.
A Emma Chamberlein dizia que se movia para a frente por medo de estagnar ou falhar, e não pela drive de ir e saber e fazer mais, uma dor que eu compreendo. Tenho muito medo de viver sem criar as minhas histórias. E se, para muita gente, os atos superam as palavras, então é fácil olhar para mim e pensar que eu avanço. Mas, para mim, existe uma diferença abismal entre ‘eu quero ter histórias’ e ‘eu tenho medo de não ter histórias’. É o último que me move, sendo que, a cada passo, não encaro as mudanças como a chegada à etapa que eu desejava, mas sim como a despedida do que deixo para trás. Se nascemos já a morrer, eu sinto que me despeço do mundo todos os dias.
Não acho que a nossa forma de ver o mundo mude de um dia para o outro, especialmente quando está tão enraizado em quem nós somos. Mas sinto que ter consciência da forma como vivemos e encaramos cada etapa faz muita diferença para avaliarmos se vale a pena permanecer dessa forma. O meu exercício tem sido esse: avançar porque me dá prazer e curiosidade em avançar – e dá, é um gosto e um alívio descobrir isso. E a cada etapa que termina, não olhar para trás com a romantização da nostalgia e do adeus e sim com a inspiração de olhar em frente, para uma página em branco, uma nova temporada, com outros plots, personagens, cenários e desafios. Afinal, esta é a minha história. E nós nascemos já a contar uma.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Esta época spooky pede uma leitura temática, certo? E o Halloween Season parece-me cumprir o propósito na perfeição: uma série de 15 contos com clima de dia das bruxas.
Os contos não estão interligados entre si e têm diferentes graus de spookiness, sendo que as histórias não, de todo, um silly Halloween.
É uma coleção pequena e que se lê num sopro, perfeita para tardes de chuva e chávenas de chá. Arriscaria dizer que pode ser lido à mesma por quem é sensível (não é muito gráfico. Na verdade, tem o toque perfeito para a época).
Entre maldições, histórias de fantasmas, criaturas míticas e muito mais, cada história faz-nos mergulhar em mistério, assombração e muitas bruxas e abóboras.
domingo, 23 de outubro de 2022
Aquilo que acho mais especial quando cada pessoa vai de viagem é a possibilidade de fazer o roteiro à medida da sua personalidade, interesses e hábitos. Claro que existem sempre referências turísticas recomendadas, mas é o que visitamos para além dos guias que torna a viagem à nossa medida. E comigo, há sempre dois pontos que gosto muito de visitar: bibliotecas e livrarias.
terça-feira, 18 de outubro de 2022
Checkpoint Charlie foi um dos vários postos militares espalhados na Alemanha que asseguravam o controlo de passagem entre a Alemanha Ocidental e Oriental. O nome ‘Charlie’ tem origem no alfabeto fonético da NATO (C), sendo os dois primeiros os Checkpoint Alpha (A) e Checkpoint Bravo (B).
O Checkpoint Charlie era um nome apenas assim reconhecido pelo setor aliado e, durante os seus 27 anos de atividade, tornou-se num símbolo da Guerra Fria, um marco da fronteira que dividia a Alemanha.
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Ama earl grey como a Inês dos 7. Tem como comida de conforto sopa e receitas de massa. Usa o mesmo perfume desde a Inês dos 20. Rodopiou na planície da Música no Coração. Viu uma Ópera em Viena. Cantou com as amigas em Berlim. Levou o João a conhecer Londres e voltou a usar a Mala Rosa na Suíça. Leu mais de sessenta livros e gosta tanto de ler como a Inês dos 4. Descobriu que gosta de yoga e cerâmica – para incredulidade da Inês dos 19. Afirmou o seu lugar profissional, como a Inês dos 20 sempre desejou. Começou a fazer terapia. Desenvolveu um gosto pelo tom lavanda. Tem o coração partido. Criou um clube do livro. Viu Harry Styles ao vivo. Veste-se com mais confiança e identidade do que a Inês dos 22. Tem medo de aranhas, fritar a óleo, do tempo e da memória. É uma amiga melhor do que era aos 18. Está a aprender a confiar a sua vulnerabilidade aos seus amigos – e eles são pacientes. Descobriu que puzzles ajudam-na a relaxar. Experimentou fondue de queijo pela primeira vez – e adorou, como tudo fazia prever. Está a perder a curiosidade em visitar restaurantes novos, como a Inês dos 24 sempre gostou. Celebrou 8 anos de Bobby Pins – e a Inês de 20 jamais imaginaria. Ainda se lembra de músicas que a Inês de 6 anos cantava ao pequeno-almoço. E não tem tudo resolvido como a Inês dos 17 torcia. Viu Lago dos Cisnes e concertos à luz das velas. Amou muito. Continua a odiar vernizes e não tem o relógio biológico a chamar (tudo coisas que lhe garantiram que eram uma fase e que iriam passar quando estivesse nos 27). É muito mais social do que a Inês dos 25. Mas continua a esgotar o carisma muito facilmente. Deu muitos abraços na Belka. Teve as mesmas saudades da Laika que a Inês que se despediu dela, aos 23. Foi a um espetáculo de poesia pela primeira vez e conseguiu pedir pela, primeira vez, alguma coisa em alemão. Está mais segura em algumas coisas. Está mais ansiosa e inquieta noutras, também. Dormiu numa biblioteca. Começou novas tradições em família. E está ansiosa por saber o que a Inês dos 28 terá a dizer, no próximo ano.
Estamos no auge da época dark academia e, por isso, deixo uma sugestão para este clima: As Musas.
As Musas começa com uma aura de mistério: a Universidade de Cambridge é apanhada de surpresa com dois assassinatos trágicos. Mariana, uma psicóloga que tem a sobrinha – e tutela – em Cambridge é convidada para prestar apoio na investigação e, de imediato, tem absoluta certeza de que o professor Edward Fosca (e fundador de uma sociedade secreta) é o assassino que todos procuram. Como provar? Será que ela tem razão?
Este é o segundo livro do autor Alex Michaelides e, embora não seja um livro perfeito, confirmou a perceção que tinha desde A Paciente Silenciosa: além de ser um bom storyteller, é um bom plot-twister. E para quem adora mistério, thrillers e ambientes dark academia, ter bons plot twists é um must.
Existem alguns elementos que achei originais nesta história, a começar por a sinopse já nos entregar um suspeito muito forte. Normalmente, este tipo de narrativas gira em torno de quem terá sido o assassino, mas aqui somos transportadas para a personalidade de alguém que a protagonista considera o criminoso e a forma como o seu carisma e poder influenciam o seu círculo. Acho que é um desafio enorme para um autor colocar-se nesta posição, mas sem dúvida muito mais estimulante de ler. Além de que todo o universo da mitologia grega, da universidade e das personagens pouco confiáveis ajudam-nos a entrar na história e a ter vontade de devorar os capítulos.
Para quem já leu A Paciente Silenciosa, há um crossover bem giro – nada que influencie ou prejudique a experiência de leitura dos dois livros, podem ler sem medo. É apenas um easter egg que o autor criou para premiar os seus leitores.
Não é o livro de dark academia com as minhas personagens preferidas ou mais desenvolvidas – para esses, tenho outras recomendações, a seu tempo publico-as! – mas é o que tem o meu plot twist favorito, que se esforça para surpreender o leitor e dou-lhe todo o mérito por isso.
sábado, 15 de outubro de 2022
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Fotografia: Jon Arnold |
Inaugurado em 2001, o Museu Judaico de Berlim é o maior museu judaico da Europa que nos leva pela história atribulada da relação judaico-alemã, ao longo do tempo.
O museu está dividido em dois edifícios, sendo a parte ‘velha’ o local onde podem encontrar algumas exposições temporárias e eventos. É no edifício ‘novo’ que se encontram algumas das instalações mais emblemáticas deste museu. A arquitetura tem assinatura de Daniel Libeskind, descendente de um casal judeu sobrevivente do Holocausto, e nada no planeamento deste edifício foi deixado ao acaso; todos os detalhes estão pensados para transmitirem diferentes simbolismos, desde as esquinas irregulares dos corredores à própria inclinação do chão. O próprio design do edifício, em vista aérea, pretende representar a Estrela de David desfeita.
Este é um museu absolutamente gigante e, por isso, impossível de falar ao detalhe de todos os elementos e salas disponíveis mas, para além de um extenso acervo com fotografias, cartas e pertences de vítimas judaicas, deixo aqui em destaque os três pontos que eu considero imperdíveis neste museu:
Shalechet: um corredor com uma instalação do artista Menashe Kadishman onde vão encontrar o chão coberto por cerca de 10 mil rostos em ferro, todos em tamanhos diferentes e que fazem um barulho característico ao serem pisados. Embora seja permitido (e esperado) que pisem a instalação, nenhuma de nós foi capaz de o fazer.
Jardim do Exílio: na área exterior do museu, vão encontrar um labirinto de concreto composto por paredes e solos totalmente inclinados – uma semelhança em escala muito menor do Memorial do Holocausto – que pretende representar a instabilidade, desorientação e exaustão dos Judeus que precisaram de fugir das suas casas, do seu país, para procurar abrigo e que se depararam com as provações da emigração.
Torre do Holocausto: por fim, uma sala totalmente vazia e enorme, sem iluminação e por onde apenas uma pequena brecha de luz atravessa a imensa escuridão. O silêncio (respeitado pelos visitantes) impera de uma forma esmagadora e, mesmo sendo tantos no interior da sala, a escuridão e o silêncio dão-nos a total sensação de isolamento.
Pela extensa dimensão do museu e pelos temas e representações pesados que a visita reserva, eu recomendo que programem o Museu Judaico de Berlim para o período da manhã, para que possam ter o resto do dia para processar a informação e ‘aligeirar’ o clima com que vão sair de lá. Deixo também uma nota gentil para quem possa estar a atravessar por um período mais sensível ou melancólico – embora não seja, de todo, um museu gráfico, tem várias representações de solidão e tristeza que podem ser difíceis de assimilar quando nós próprios não estamos bem. Uma pausa pode ser necessária (e de experiência própria, as funcionárias do museu foram absolutamente impecáveis). É possível que terminem a visita com o clima de grupo em baixo, por isso, tentem complementar este dia com uma atividade mais ligeira (evitem outros museus nesse dia).
A visita tem direito a áudio-guia e a entrada é gratuita. Difícil, mas importante de visitar.
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
A Catedral de Berlim é, a par da Porta de Brandemburgo, um elemento emblemático da cidade e cuja visita é imperdível. Localizada na Ilha dos Museus, é a maior igreja protestante de toda a Alemanha e passou por várias transformações até se tornar no edifício que é hoje, inaugurado em 1905. Pela sua magnitude e beleza, considera-se que é uma contraparte da Basílica de São Pedro, em Roma.
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
Todos os domingos, em Mauerpark, podem encontrar uma espécie de Feira da Ladra em Berlim, onde km e km de banquinhas se estendem pelo parque para venderem os mais variados artigos, desde artesanato, roupa em 2ª mão, pequenos negócios, cerâmica, ilustração, vinis, fotografia ou antiguidades.
Esta é uma atividade que enche o parque logo de manhã de locais e turistas, e em que recomendo que tragam calçado confortável, protetor solar e alguma paciência para circularem por todo o recinto e encontrarem bons achados.
É uma feira bem grande e cheia de banquinhas com comida, pelo que recomendo que se demorem e aproveitem para encontrar um souvenir original.
O Mauerpark situa-se também numa zona mais alternativa da cidade – cheia de photoautomats, graffitis, concept stores e marcas de roupa muito criativas. Diria que será um domingo perfeito para uma sessão de compras ou para passearem e absorverem a atmosfera das ruas.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
Tess e Gus foram feitos um para o outro; as suas experiências complementam-se, o sentido de humor é compatível, a empatia é total. Se existissem almas gémeas, eles seriam a prova. O que falha? Eles não sabem da existência um do outro.
Miss You é a representação mais bonita da música ‘invisible string’. Com capítulos que intercalam os pontos de vista de Tess e Gus, percebemos, de imediato, que as suas circunstâncias não podiam estar mais distantes: Tess é uma jovem que vê o seu futuro abdicado para cuidar da família depois do diagnóstico terminal da mãe, e Gus é um rapaz relativamente privilegiado que quer cumprir a previsível carreira de estudar e ser médico.
Devo confessar que, embora não tenha terminado o livro com a sensação de que era um estrondoso sucesso – e que muitas partes me tenham irritado e aborrecido – gostei até ao final desta experiência porque… é a vida! Imprevisível e inesperada, que faz com que as pessoas certas se cruzem ou que vivam eternamente em paralelo, sem nunca imaginarem que o cordão invisível as ligava.
Miss You desenvolve bem a sua premissa, sem nos deixar com a sensação de que promete mais do que cumpre. As personagens são imperfeitas, incongruentes e repletas de decisões questionáveis, mas têm uma certa dose de realismo e humanidade dentro delas que nos fazem torcer, do início ao fim, para que se apercebam da informação privilegiada que já temos do nosso lado: elas estão destinadas. Só têm de escolher os caminhos certos para se cruzarem.
domingo, 9 de outubro de 2022
sábado, 8 de outubro de 2022
O Memorial do Holocausto contrasta na paisagem de Berlim de uma forma óbvia e significativa com um parque cheio de vida, diversidade e cor.
Inaugurado em 2005 e com assinatura do arquiteto Peter Eisenman, é composto por mais de 2500 blocos de cimento e procura honorar as vítimas dos horrores vividos no Holocausto.
Toda a instalação em si é muito interessante porque não só os blocos têm todos dimensões diferentes, como o próprio chão é irregular (ondulado e inclinado). Ao longo do planeamento e execução deste projeto, a ilusão labiríntica e sombria que provoca em quem passeia por estes blocos foi idealizada quase como um paradoxo: quem atravessa e circula por lá sente-se inquieto, perdido e sozinho, uma confusão que contrasta com as linhas austeras, direitas e sistemáticas dos blocos.
Mas a verdade é que um memorial só assim pode ser considerado quando a interpretação é aberta ao público, e o próprio Eisenman não entregou quaisquer simbolismos, deixando que cada visitante tenha (e retenha) a sua experiência durante o caminho – sempre com o devido respeito.
A minha experiência a caminhar por aqueles corredores pesados e labirínticos foi avassaladora e paradoxal; quanto mais avançava naquelas sombras escuras, mais sozinha me sentia, sem segurança porque um passo em falso podia fazer-me desequilibrar e cair (o chão é mesmo irregular). É uma sensação de isolamento, claustrofobia e insegurança total, principalmente porque não conseguimos ver as pessoas que percorrem o mesmo caminho em paralelo – apenas sentimos, ouvimo-las, sabemos que elas existem e que estão lá também.
No entanto, embora todos os blocos me façam sentir isolada num lugar sombrio, também me fizeram sentir que bastava esticar a mão, mudar de caminho ou olhar para o lado e encontrar um rosto como o meu, um humano, estoico e na mesma caminhada que eu.
Terminei o percurso a sentir que, embora todo o sistema esteja feito para me sentir sozinha, perdida e isolada, nunca estaremos sós. Que há um fim ao percurso tortuoso que atravessamos e que a luz irá sempre entrar em qualquer brecha. Mesmo num lugar tão estéril, confuso e desprovido de nada, senti que a esperança não me deixou no ponto de partida.
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
BERLIM
Para os meus leitores com sweet tooth, há uma especialidade alemã que não podem deixar de provar na Alemanha: käsetorten, o cheesecake alemão.
Vimos a oportunidade certa para o provar no stand Drei Kasehöch que se encontra em Mauerpark, embora existam estabelecimentos com mesa espalhados um pouco por toda a capital.
O käsetorten original é muito parecido com a cheesecake típica dos Estados Unidos e um pouco mais distante da nossa; enquanto a nossa tem a conhecida trindade composta por base de bolacha, queijo (e já muitas variações com iogurte ou chantilly) e geleia, a cheesecake alemã tem uma base em bolacha, mas o bolo em si é mais denso e sem cobertura. Claro que, desde então, já existem dezenas de combinações e o Drei Kasehöch é incrível por isso mesmo: vários sabores e variações para escolher.
Como era uma estreia para todas, decidimos partilhar o sabor clássico – e 'partilhar' é a palavra-chave, já que as fatias são bem generosas e é um bolo robusto.
Para a minha preferência, acho que iria gostar mais se tivesse provado alguma versão com geleia, uma vez que o sabor original não é muito doce e é forte – sabe mesmo a queijo! Acho que um toque de chocolate ou frutos vermelhos iria ajudar a fazer um contraste mais interessante de sabores.
Uma iguaria a não perder para todos os fãs de cheesecake!
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
terça-feira, 4 de outubro de 2022
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