O Memorial do Holocausto contrasta na paisagem de Berlim de uma forma óbvia e significativa com um parque cheio de vida, diversidade e cor.
Inaugurado em 2005 e com assinatura do arquiteto Peter Eisenman, é composto por mais de 2500 blocos de cimento e procura honorar as vítimas dos horrores vividos no Holocausto.
Toda a instalação em si é muito interessante porque não só os blocos têm todos dimensões diferentes, como o próprio chão é irregular (ondulado e inclinado). Ao longo do planeamento e execução deste projeto, a ilusão labiríntica e sombria que provoca em quem passeia por estes blocos foi idealizada quase como um paradoxo: quem atravessa e circula por lá sente-se inquieto, perdido e sozinho, uma confusão que contrasta com as linhas austeras, direitas e sistemáticas dos blocos.
Mas a verdade é que um memorial só assim pode ser considerado quando a interpretação é aberta ao público, e o próprio Eisenman não entregou quaisquer simbolismos, deixando que cada visitante tenha (e retenha) a sua experiência durante o caminho – sempre com o devido respeito.
A minha experiência a caminhar por aqueles corredores pesados e labirínticos foi avassaladora e paradoxal; quanto mais avançava naquelas sombras escuras, mais sozinha me sentia, sem segurança porque um passo em falso podia fazer-me desequilibrar e cair (o chão é mesmo irregular). É uma sensação de isolamento, claustrofobia e insegurança total, principalmente porque não conseguimos ver as pessoas que percorrem o mesmo caminho em paralelo – apenas sentimos, ouvimo-las, sabemos que elas existem e que estão lá também.
No entanto, embora todos os blocos me façam sentir isolada num lugar sombrio, também me fizeram sentir que bastava esticar a mão, mudar de caminho ou olhar para o lado e encontrar um rosto como o meu, um humano, estoico e na mesma caminhada que eu.
Terminei o percurso a sentir que, embora todo o sistema esteja feito para me sentir sozinha, perdida e isolada, nunca estaremos sós. Que há um fim ao percurso tortuoso que atravessamos e que a luz irá sempre entrar em qualquer brecha. Mesmo num lugar tão estéril, confuso e desprovido de nada, senti que a esperança não me deixou no ponto de partida.
Apesar de tudo e de toda a dor, parece ser um local bonito e interessante.
ResponderEliminar