ISTO É TÃO INÊS | Operar por medo


Estava na minha caminhada habitual, na companhia do podcast Anything Goes, quando a Emma referiu algo que me deixou a refletir durante praticamente todo o percurso. A tradução livre do que ela disse poderia ser algo como ‘Toda a minha vida, eu operei por medo e não por motivação”. 

Foi uma observação que ficou em total sintonia comigo, não só porque sinto, graças à ansiedade, que operei muitas coisas da minha vida por medo, tal como ela o diz, mas também a sinalizar cada etapa como uma despedida, como se vivesse num eterno adeus. 

Eu despeço-me da casa e dos hotéis quando viajo. Despedi-me dos tempos de escola – que, já agora, odiei visceralmente. Quando comecei a enfrentar os desafios da vida adulta, senti-me a despedir da juventude mais simples. Quando estou no último dia de viagem, despeço-me do destino. Quando fui para a faculdade e quando saí da faculdade, senti-me a despedir dos grupos que tinha feito porque nunca mais as coisas seriam as mesmas. Ou despeço-me de rotinas quando começo uma nova fase. 

O mais curioso é que o faço mesmo quando a etapa seguinte é melhor e mais desejada, quando sei que vai trazer mais felicidade. Ainda assim, sinto-me nostálgica e inicio automaticamente um processo de despedida. Pode parecer inócuo, mas é exaustivo não ter um 'chip' diferente e não encarar as etapas da vida não como um eterno ‘adeus’, mas como um eterno ‘olá’. 

Sim, cada fase é uma despedida de rotinas, lugares e pessoas que não vão voltar a ser as mesmas coisas, mas também é um ‘olá’ a outras rotinas, lugares e pessoas. É um começo, uma nova temporada - por vezes, muito desejada. E observar as coisas dessa perspetiva faz muita diferença na forma como encaramos o nosso crescimento, amadurecimento e as mudanças que a vida acarreta. 

A Emma Chamberlein dizia que se movia para a frente por medo de estagnar ou falhar, e não pela drive de ir e saber e fazer mais, uma dor que eu compreendo. Tenho muito medo de viver sem criar as minhas histórias. E se, para muita gente, os atos superam as palavras, então é fácil olhar para mim e pensar que eu avanço. Mas, para mim, existe uma diferença abismal entre ‘eu quero ter histórias’ e ‘eu tenho medo de não ter histórias’. É o último que me move, sendo que, a cada passo, não encaro as mudanças como a chegada à etapa que eu desejava, mas sim como a despedida do que deixo para trás. Se nascemos já a morrer, eu sinto que me despeço do mundo todos os dias. 

Não acho que a nossa forma de ver o mundo mude de um dia para o outro, especialmente quando está tão enraizado em quem nós somos. Mas sinto que ter consciência da forma como vivemos e encaramos cada etapa faz muita diferença para avaliarmos se vale a pena permanecer dessa forma. O meu exercício tem sido esse: avançar porque me dá prazer e curiosidade em avançar – e dá, é um gosto e um alívio descobrir isso. E a cada etapa que termina, não olhar para trás com a romantização da nostalgia e do adeus e sim com a inspiração de olhar em frente, para uma página em branco, uma nova temporada, com outros plots, personagens, cenários e desafios. Afinal, esta é a minha história. E nós nascemos já a contar uma.

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