terça-feira, 27 de setembro de 2022
Na The Notting Hill Bookshop – em Londres, e não se preocupem, assim que terminar os artigos de Berlim iniciaremos essa viagem e não vos deixo escapar nada! – existia uma adorável secção de Blind Dates With a Book e eu nunca tinha aderido ao desafio antes. Acabei por trazer um comigo com as seguintes pistas: contemporary fiction, mystery e science-ish. Ao desembrulhar, The Dreamers esperava por mim.
A premissa é, sem dúvida, intrigante: numa pequena e remota cidade da Califórnia, surge um fenómeno inexplicável e assustador: as pessoas estão a adormecer sem conseguir acordar. Por mais que familiares, amigos, conhecidos e profissionais de saúde tentem despertar as vítimas, elas permanecem num sono profundo e imperturbável. Pior: parece ser contagioso.
Começa, então, uma epidemia sem precedentes e uma corrida contra o tempo para conseguir conter aquilo que se acredita ser um vírus, mas, ao mesmo tempo, garantir que os pacientes mantêm os seus sinais vitais e que uma solução é encontrada para os despertar.
Se o trauma da pandemia vos está a assombrar neste momento, partilho desde já o alerta de que, claro, existem inúmeras menções a máscaras, procedimentos de higiene, contenção de doença, cordões sanitários e isolamento, pelo que, se ainda estão muito sensibilizados com a época que vivemos, talvez não seja uma leitura recomendada. Mas a narrativa é brilhante.
É quase chocante pensar que este livro foi escrito e publicado antes da pandemia porque, tirando alguns exageros sociais (que, felizmente, a pandemia permitiu-nos perceber que continuamos a ter algum civismo, pelo menos no grau mais basilar e menos apocalíptico), as descrições são muito precisas e quase proféticas ao que acabámos por viver (bom, falhou na loucura do papel higiénico, mas quem poderia prever tamanha insanidade, certo? Há componentes do ser humano que só vivendo se descobrem – para o bem e para o mal).
The Dreamers revela uma cuidada inspiração na mente de Saramago, embora não o concretize com a mesma mestria, na minha opinião. Enquanto Saramago consegue imaginar cenários sórdidos e concretizar a premissa, não acho que o mesmo aconteça com The Dreamers.
A escrita é fabulosa e poética, de uma forma que parece quase impossível num livro deste género. Mas a concretização final da história deixa a desejar – senti que Karen Thompson Walker não foi capaz de fechar a história que construiu, deixando o final com pouca substância e o tema principal da história pouco desenvolvido.
Julgo que o objetivo da autora era fazer um ensaio social quando a Humanidade tem momentos de crise e não tanto debruçar-se nos detalhes do vírus, mas não acho que execute bem nem um ponto, nem o outro. Faltava um extra-mile (ou talvez nós estejamos mal-habituados ao nosso Saramago). Mas não estragou a experiência de leitura, verdadeiramente envolvente e entusiasmante.
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
Qual é o custo da ambição e a unidade de medida do talento? São duas perguntas que atravessam os séculos e gerações de artistas, com várias tentativas de resposta. Balada para Sophie é mais uma abordagem possível.
Esta novela gráfica conta-nos a história de Julien Dubois, um pianista absolutamente talentoso e aclamado pelo público, mas com uma vida privada muito reservada.
Sophie, uma jovem promissora jornalista, vai atrás desta história e nem acredita quando consegue uma entrevista com o músico, mas está determinada em conseguir contar a verdadeira história de como Julien Dubois se tornou no extraordinário artista que é reconhecido nos dias de hoje – mesmo que ele tenha uma visão contrária.
Balada para Sophie é uma história que nos faz mergulhar pela criatividade e pelas dores de artista, as comparações, rivalidades, gratidão e ambição de chegar ao topo – ou perder-se assim que a meta é atravessada. Não há nada na resposta às duas perguntas com que arranquei este artigo que seja propriamente fresco nesta história, mas a forma como é contada reforça que, às vezes, não precisamos de narrativas diferentes e sim de contar a história à nossa maneira, com a nossa arte e assinatura. Talvez as respostas não se encerrem apenas na história do livro, mas também na produção da história em si.
A ilustração é magistral e o ritmo da leitura é irresistível e envolvente, onde simpatizamos e antagonizamos com as personagens. Um trabalho verdadeiramente bem conseguido e que explora a mente e criatividade humana (com toda a sua genialidade e fragilidade).
sábado, 17 de setembro de 2022
1. Consigo ler e ouvir música ao mesmo tempo. E adoro porque transporta-me ainda mais para a atmosfera da história e sinto que me envolve mais!
2. Apesar de ser uma booklover, não gosto de receber livros de pessoas com quem não tenho uma relação muito próxima porque sinto que a escolha cai sempre ao lado. E, por isso mesmo, também só ofereço livros a pessoas que conheço mesmo muito bem e cuja história sinto que fará sentido para o destinatário;
3. Consigo abrir a diagramação dos livros sem partir a espinha (e ensinei-vos como o fazer no Instagram, está nos destaques e acho que foi o tutorial onde mais recebi mensagens de agradecimento de outros cuidadosos leitores!);
4. Uso sempre marcadores para os livros, nunca nada aleatório (aborrecida, eu sei, mas os meus marcadores são lindos!);
5. Sou capaz de interromper a leitura em qualquer parte do livro, não necessito de esperar pelo fecho do capítulo. Desde que termine o parágrafo, está tudo bem.
Partilham comigo os vossos factos literários?
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
A poucos minutos da East Side Gallery, vão encontrar uma cabine telefónica muito original: uma discoteca.
Se acham difícil existir uma discoteca no interior de uma cabine telefónica, então têm de ver (e dançar!) com os vossos próprios olhos nesta Teledisko, em Berlim.
Os passos são simples: do lado de fora existe uma ranhura para colocar moedas e um ecrã onde escolhem a música que querem ouvir no interior da Teledisko – e a playlist tem uma seleção fabulosa. Podem também escolher se querem ser fotografadas no interior ou não (as fotos são sempre enviadas por e-mail, mas a impressão é incerta – na altura em que fomos, não estava a funcionar). Escolhida a música, a porta abre-se e eis a vossa humilde e minúscula discoteca.
É apenas uma graça, mas lá dentro dá para gerir as luzes, fazer efeito de fumo e, bem, têm de cantar a plenos pulmões a música escolhida. Dancing Queen, dos ABBA, foi a nossa escolha e lá estávamos nós, quatro miúdas dentro de uma cabine telefónica a cantar e com as preocupações lá fora. Aproveitem.
quarta-feira, 14 de setembro de 2022
segunda-feira, 12 de setembro de 2022
Não me é característico, mas começo a review deste livro pelo seu defeito: saber que a capa e o título vão fazer com que muitos – ainda toldados pelo preconceito – não leiam Talvez Devesses Falar com Alguém. E é mesmo uma pena, porque não sabem o que estão a perder.
Talvez Devesses Falar com Alguém é da autoria de Lori Gottlieb, uma psicóloga que nos transporta para os bastidores da psicologia da forma mais ampla e extraordinária: mostrando-nos como é a terapia no lugar do terapeuta e no lugar do paciente.
Ao longo destas páginas, verificamos que todo o livro é contado sob duas perspetivas (ambas verídicas): a Lori terapeuta, que acompanha a evolução de 4 pacientes – um produtor com problemas de ego, uma jovem com doença terminal, uma idosa que se sente pouco realizada e tem ideações suicidas no seu dia de aniversário e uma mulher que se sente na sombra das suas relações falhadas e do vício; e a Lori paciente que, após um evento que a deixa sem chão, procura um psicólogo e permite-nos, assim, perceber a sua própria evolução terapêutica.
Talvez Devesses Falar com Alguém é um livro com informação rica, histórias envolventes e verdadeiramente frescas, tocando num tema que, em muitos contornos, ainda é tabu. Mas o destaque vai para a conclusão final: todos nós beneficiamos com a terapia e tornamo-nos melhores com ajuda.
Em cada capítulo, vamos criando empatia por todos os pacientes de Lori e com a própria Lori, que pega na nossa mão e nos mostra como não há idade ou circunstâncias que nos impeçam de tornar pessoas mais gentis para os outros e para nós. Mostra também (através da sua abordagem clínica e da abordagem do seu terapeuta) que os profissionais não são todos iguais e que não têm uma abordagem padrão para os mesmos problemas – e que isso não significa que um é melhor que o outro, mas sim que um irá combinar mais com uma tipologia de paciente do que o outro.
Embora a capa tenha todos os clichés, não há nada de artificial no interior deste livro e destas histórias que me reconfortaram, emocionaram e surpreenderam.
Comecei este livro ao acaso, num voo de regresso e com o coração apertado. Não acredito no destino, exceto quando o livro certo vem parar à minha mão e com as mensagens perfeitas no melhor timing. A mensagem final? Invistam na vossa saúde mental da mesma forma que vão ao dentista ou a uma consulta de rotina no médico. E leiam este livro.
sábado, 10 de setembro de 2022
São raros os vestígios evidentes da passagem da Segunda Guerra Mundial por Berlim. Olhos mais atentos reparam em memoriais e remendos, mas nada tem tanto impacto quanto olhar para Kaiser Wilhelm Gedächniskirche.
A igreja do Imperador Guilherme I é um dos poucos monumentos de Berlim que não foi restaurado propositadamente, com os efeitos da guerra e dos bombardeamentos à vista.
sexta-feira, 9 de setembro de 2022
A necessidade de encontrar uma série amorosa e que me permitisse desligar levou-me ao encontro de Woo, Uma Extraordinária Advogada. Passada na Coreia do Sul, Woo é uma advogada (caso o título não seja óbvio o suficiente!) brilhante, obcecada por baleias e que dança a valsa para conseguir atravessar portas giratórias. Tem também Transtorno do Espectro Autista, o que a faz navegar por desafios sociais, tanto na sua vida pessoal (nas suas relações com o pai e colegas), como na sua vida profissional, enquanto se afirma enquanto uma advogada muito competente e defende o seu lugar na profissão que adora.
A minha primeira reação quando descobri a premissa da série foi pensar em The Good Doctor (que também é uma série adaptada de uma série original coreana) e, de facto, quem já tiver visto esta última série, encontrará alguns elos de ligação, no entanto, acho que ambas acabam por explorar as personagens principais de formas ligeiramente diferentes. Tem também uma vertente cultural muito interessante – ou, pelo menos, eu acho fascinante poder, com um toque de comando, conhecer um pouco mais sobre a cultura social coreana.
Woo, Uma Extraordinária Advogada tem uma fotografia incrível, um estilo próprio muito original e divertido, mas, acima de tudo, é uma série reconfortante onde sabemos que, na próxima hora, vamos acompanhar os casos criminais de Woo e ver baleias adoráveis nos lugares e ocasiões mais improváveis.
É uma ótima escolha se estão à procura de algo para absorver o peso do dia. As ilustrações no final de cada episódio são adoráveis.
quarta-feira, 7 de setembro de 2022
Faço parte da população que assume a mudança das estações logo no primeiro dia do mês e setembro, para mim, marca o início do outono – quer esteja ansiosa por ele, quer tenha vontade que o verão se alongue. Já não sabe a verão, sabem?
Por isso mesmo, teremos uma to do list outonal – ou pronta para receber os momentos de céu nublado, bebidas quentinhas e serões de leitura e filmes.
Sabemos que agosto se faz passar mais devagar e que setembro traz uma atmosfera de renovação e recomeço, por isso, este é o mês para colocar tudo em ordem e fazer um reset para entrarmos em força no último trimestre do ano!
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
Admito que, de todos os maridos d’Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, o último que eu esperava que viesse a ter um livro e uma história só seus era o Mick Riva. Mas foi a escolha da autora Taylor Jenkins Reid para dar o mote ao livro Malibu Renasce – não é necessário ler Os Sete Maridos de Evelyn Hugo para acompanhar esta história.
Passada em Malibu nos anos 80, Malibu Renasce é uma história que decorre (quase) num só dia, mas que está em constante alternação entre a história e ascensão de Mick Riva no mundo na música até se tornar num artista mundialmente reconhecido e adorado pelas massas, e a história do presente, contada na perspetiva dos seus quatro filhos – os irmãos Riva – que não conhecem o pai fora das manchetes e do círculo público.
Nina, Jay, Hud e Kit são unidos pelo sentido de família e pelo trauma, mas sempre puderam contar com o surf e com a sua festa anual (a lendária Festa dos Riva, que reúne entusiastas e figuras públicas, onde o convite é simples: se sabem a morada do local da festa, então estão convidados) para elevar o espírito e celebrar o fim do verão. E é no dia desta festa que vemos passado e presente mesclarem-se.
Mesmo sendo uma história com as suas falhas – gostava que tivesse mais densidade, gostava que a personalidade de Nina não tivesse sido escrita de forma tão rasa, por exemplo – Malibu Renasce é o livro perfeito para uma despedida do verão e para alternar entre mergulhos no mar. É uma história muito orientada para o enredo e que não deixa pontos mortos (ideal para devorar num sopro). Já é apanágio da autora criar um imaginário que é difícil acreditar que não é real, transportando-nos totalmente para o universo das personagens, e essa evasão da realidade é maravilhosa para escapar do mundo numa sessão de leitura.
É uma leitura de verão incrível para quem está à procura de uma história compatível com momentos de praia, mas com substância.
sábado, 3 de setembro de 2022
8 anos de Favoritos. Assinalados sempre em agosto, um mês sempre tão descontraído e luminoso. Confesso que me custa que vá embora, que não quero que o verão se despeça já de mim. E sei que muitos dirão que setembro ainda aguarda muitos dias de calor, mas, na minha consciência, setembro vem carregado de dias nublados, chuva, bebidas quentes, outono. E eu amo, por virtude. Mas este ano gostava que o verão se mantivesse junto a mim, num eterno agosto. Na impossibilidade de acontecer, vamos recordá-lo antes de me despedir oficialmente.
sexta-feira, 2 de setembro de 2022
Bode Museum – muito sugestivo na língua portuguesa, eu sei, mas é em homenagem ao seu fundador, Wilhelm von Bode – reserva-nos uma gigantesca coleção de arte sacra e bizantina.
Tenho de admitir que fiquei muito dividida na minha opinião sobre este museu; embora arte sacra não seja, de todo, a minha favorita – e, por isso, tenha sentido que não aproveitei nem me senti satisfeita com o acervo como seria expectável -, o Bode Museum foi o museu que achei mais bonito em Berlim.
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