Pontas soltas

(fonte)
Uma turista cruzou-se comigo e com uma amiga no supermercado e disse que, embora não percebesse o que estávamos a dizer, tínhamos um riso bonito. A veterinária da Belka ofereceu-nos charms para colocarmos na coleira dela. Atravessei a estação de metro a correr porque só tinha 1 minuto para chegar ao autocarro e o motorista, ao observar-me a correr ao longe, não só abriu a porta para sinalizar que esperava por mim, como, quando entrei, disse ‘a senhora tem uma condição física impressionante, veja quão rápido chegou aqui!’. Bati o meu recorde pessoal a nadar. 

captaram-me no momento em que bati o tal recorde (fonte)
Uma das andorinhas da minha jarra partiu-se. Chorei de cansaço a ler e-mails. Não me apeteceu escrever. Não me apeteceu ler. Apeteceu-me observar e escutar. Já decorei partes da casa para o Natal. Comecei a planear os stockings para as meias de Natal da família. Fui pintar cerâmica com a minha mãe e fiz umas ovelhas queridas numa taça. Passeei pelo Porto. Preenchi papelada importante, daquelas em que tremo a escrever porque tenho medo de me enganar até no próprio nome. Trabalhei ao som de obras e, durante uma semana, deitei-me todas as noites com a cama num sítio diferente do quarto. Tomei banho pós-natação com o meu gel de banho de chai e o meu champô de chocolate e senti-me uma bebida do Starbucks humana. Encontrei estacionamento grátis quando mais precisava. Comi várias sopas feitas pela avó. Trabalhei a cantar músicas de Natal. 
é assim que me imagino a trabalhar, não estraguem a imagem. (fonte)
Fiz uma wishlist de presentes e uma giftlist para quem quero presentear. Enviei cartas que atravessam o atlântico. Fiz facetime para contar boas notícias, fiz facetime para chorar as más notícias, fiz facetime para matar saudades, fiz facetime para nos ver a rir, fiz facetime para ver as novidades do Wallmart. Demorei quase um mês a ler um livro e foi delicioso conviver com a mesma história e personagens durante mais tempo do que o normal, não me obrigar a desenvolver uma nova relação com uma história a cada semana por ler rápido. Dei conselhos. Recebi conselhos. Contei uma piada que fez a minha terapeuta rir. Aquele rir em conjunto alto, que reverberou na sala e que acho que se ouviu na sala de espera. Caminhei de manhã, com sol, mas antes de a cidade genuinamente acordar. Senti que o meu TikTok só me mostrava vídeos queridos e pensei ‘construí este algoritmo ao ínfimo detalhe’. Ouvi áudios de update de amigas e senti a falta delas. E matei as saudades de outras amigas também, à mesa.
Tive alta, um ano depois! Contei à minha avó que ia chover durante a tarde e ela respondeu ‘não vai nada porque tenho um passeio marcado com a minha amiga’. Não choveu. Fiz brainstorm com o J de nomes que daríamos a um corgi. ‘Bundinha’ é o meu contributo. ‘Bunds-bunds-bunds’ de alcunha. Visitei a minha livraria preferida. Acendi a lareira pela primeira vez neste outono. Escrevi muito à mão. Fiz quiche pela primeira vez. Vi scout elves à venda no supermercado e desbloqueou-me uma memória – é uma tradição anglo-saxónica onde os pais escondem um elfo que foi enviado do Polo Norte e que ‘vigia’ as crianças antes do Natal para garantir que se portam bem e merecem presentes. Vi três velhinhas na Gulbenkian a conversar e pensei que é isto que quero para a minha velhice. Quando o sol se escondeu atrás dos edifícios, foram embora. 
(fonte)
Reparei que já não acho os meus pais tão diferentes em feições em comparação com os meus avós, como eu achava quando era pequena. É uma observação agridoce. Vi uma chuva de folhas de outono a cair da árvore depois de passar o vento e quis filmar porque achei lindo. Um casal ficou atrás de mim e não quis passar-me à frente, pedi desculpa e disseram ‘Não, é lindo mesmo’. Um amigo enviou-me uma mensagem com a fotografia de um truque que lhe ensinei há 10 anos a dizer ‘ainda me lembro dos primeiros ensinamentos’. Fiquei emocionada por se lembrar. Reparei que as minhas estrelas ligam automaticamente às 18h em ponto e, por isso, sei sempre quando é hora de fechar o dia e desacelerar. Quando elas ligam, eu desligo.
um resumo deste artigo.
Reading...
Heidi! Esta é a altura do ano em que gosto de me entregar às leituras mais aconchegantes e gentis, pedaços de narrativa que não exijam muito de mim e que proporcionem um momento acolhedor à leitura. Tenho sempre alguns clássicos ou cozy readings na minha lista para agarrar e o clássico da Heidi era um deles, que estou a adorar rever, ou não fosse uma das minhas séries de animação favoritas na infância - tinha a coleção completa de cassetes.

Uma pequena graça: comprei este livro numa Waterstones em Hereford que já estava fechada. Mas tinha visto lá esta edição lindíssima e o livreiro disse que não fazia mal e que podia entrar e vender-me o livro. Achei gentil.

Eating...
Francesinha, para matar saudades do Porto. Experimentámos a do Brasão e fiquei muito fã. Têm duas opções de francesinha, uma mais clássica e outra com a assinatura do restaurante – pedimos uma de cada para a mesa – e ficámos fãs. Se não gostam do molho excessivamente picante, é perfeita. 

Playing...
Tenho transitado entre estas duas playlists: se estiver no mood total Natalício e quiser cantar as músicas de sempre no carro, enquanto cozinho ou estou ao computador, inclino-me para esta. Se estiver a precisar do acolhimento das melodias típicas do Natal mas sem correr o risco de me enjoar já, recolho-me nesta

Obsessing...
Depois de admirar e sonhar com as janelas de Natal de tantas fotografias, decidi criar a minha. Coloquei uma garland na moldura de cima da minha janela, pendurei duas estrelas et voilà, tudo com ganchos amigos da parede e sem furos. Não me canso de olhar para a minha janela e suspirar de encanto. Acho que fica bonita em qualquer clima, mas adoro particularmente aquela hora azul antes da noite, que contrasta tão bem com o tom quente da luz.

Recommending...
Este artigo cujo ponto de partida é o absurdo dos croissants da Temu que são embalsamados para se transformarem em luzes de presença e que serve de trampolim para uma reflexão sobre como a comida tem servido não só para nutrir, mas para alimentar cada vez mais a ostentação.

Treating...
Nunca tinha ido a um atelier para pintar cerâmica e fi-lo pela primeira vez, recentemente, no Puracerâmica, em Lisboa. Podem escolher a peça que desejam pintar – já está feita e têm imensas opções ao dispor – e antes de começarem dão-vos todas as dicas de como pintar. Despertou a minha criatividade e foi uma manhã absolutamente tranquila e onde não pensei em mais nada a não ser: tenho de manter a minha fila de ovelhas direitinha.
a tal janela (🫶🏻)

5 comentários

  1. Sabes quando se diz "desta pessoa lia até a lista de compras"?! A primeira vez que percebi o sentido disso foi a ler este texto. 🫶

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  2. Senti-me, de várias formas, reconfortada por este post

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  3. Um texto tão bonito 🥹

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  4. Adorei este post.
    Como referiram acima, transmite-nos conforto. 🤍

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