Estar presente no aniversário da amiga custa uma manhã de autocarro ou uma deslocação de 10 minutos até ao restaurante. Para abraçar a mãe, viajamos 3 horas de carro. Custa um voo de 8 horas para dar um biscoito ao cão gordinho que nos viu crescer.
O preço da sopa da avó está nas centenas de euros para uns e a 5 minutos a pé para outros. Aos 9 anos, custa uma viagem de corredor até à cozinha. Para outros, já não tem preço. O restaurante favorito está a uma paragem de metro, mas a melhor pastelaria está na outra ponta do globo. O Natal custa peso a mais na bagagem de porão.
No lugar onde nos sentimos em casa, o sol põe-se num ponto diferente da nossa casa. Para voltar a acordar com neve, custa poupar durante um verão escaldante para regressarmos a esse lugar. Dizer que se tem saudades não custa nada. Uma chamada ou uma mensagem. Não custa, mas também não salda. O diploma da faculdade está num lugar diferente de onde o diplomado encontrou trabalho para aquilo a que se formou. Ver o jogo da equipa de sempre em direto custa acordar de madrugada.
O peluche de infância dorme num quarto a milhares de quilómetros. Ver um sobrinho crescido custa o tempo que o levou a crescer sem lá estarmos. E o álbum de fotografias de 2003 está disponível para folhear se arrancarmos já de manhã para o recordarmos à noite.
Marcar o dentista dentista no local é caro, por isso, gastamos centenas de euros num bilhete de avião para o fazer mais barato - e compensa. Cortamos o cabelo quando encurtamos a distância entre nós e a cabeleireira. Dizer bom dia quando a nossa pessoa acorda custa-nos acordar de madrugada, onde ainda não há dia. Chegar a tempo depende do trânsito ou de o comboio não atrasar as chegadas. O atraso, logicamente, não será o mesmo. Beijar quem amamos custa atravessar a casa ou 7000km, mais coisa, menos coisa.
Jantarmos todos juntos pode custar um grito de aviso para a mesa, uma chamada coletiva de facetime ou uma coordenação de grupo para, em horários diferentes, todos estarem a fazer a mesma coisa. Ler em na língua mãe custa umas férias em casa. E as férias custam um regresso que nem sempre sabe a férias. Viver no lugar onde se fala a mesma língua com que pensamos custa mudar de vida.
A saudade não tem tradução ou quantificação possíveis, comparáveis. Mas não perguntem a ninguém com bilhete de ida se tem a mesma dimensão e significado para todos.
O preço do bilhete de volta varia consoante a época, numa janela de navegação anónima, onde todos ditam o seu valor.
Comecei a manhã a chorar enquanto li este texto? Sim <3
ResponderEliminarQue bonito Inês ❤️
ResponderEliminarGuardei para reler
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