quinta-feira, 30 de setembro de 2021
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O outono é sempre a minha época preferida para me atualizar nos filmes de terror. No caso d’A Visita, não existem órgãos virados do avesso, banhos sangrentos nem imagens excessivamente gráficas, mas a história não deixa de nos perturbar. Dois irmãos partem numa viagem para conhecer os seus avós — cujo o contacto haviam perdido e nunca os tinham visto. A história adensa-se quando os dois descobrem que os avós são um pouco...peculiares.
Curiosamente, não terminei este filme com a pele arrepiada nem com medo do escuro, mas com uma pena profunda. Quem já assistiu vai perceber o que quero dizer! Um aspeto que achei muito original, é o facto de todo o filme ser observado do ponto de vista da câmara de filmar da protagonista. É ousado, mas interessante.
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Terminaram, para já, as minhas aulas de cerâmica — embora eu já esteja a sonhar com as próximas! — e este foi um processo que quis partilhar convosco (de forma mais comedida aqui no blog, mais expansiva no Instagram, onde partilhei convosco os registos de cada etapa e o resultado final — bom ou mau, sem me preocupar com a perfeição). Não estava à espera de tantas perguntas e dúvidas, mas achei interessante explorarmos todas neste artigo. Esta é uma partilha de tudo o que aprendi/recomendo, se querem colocar as mãos na massa (ou, neste caso, no barro)!
sábado, 25 de setembro de 2021
Cruzei-me com esta livro de uma forma inesperada. No ano passado, o catálogo da Netflix sugeriu-me uma série espanhola que estava prestes a sair da rede de streaming chamada O Tempo Entre Costuras. Fiquei imediatamente rendida aos episódios, porém, o facto de existir uma contagem decrescente para a série sair do catálogo não foi suficiente para eu perder o hábito de ver tudo muito devagar. Moral da história: a série saiu do catálogo precisamente no momento em que estava a descobrir o enredo principal desta história!
Uma pessoa normal teria ido atrás da série e continuado a ver. Mas depois existo eu, que só praticamente um ano depois comprei o livro para continuar a história.
Sila é uma mulher de origens humildes, delicada e muito talentosa para a costura. Vive em tempos instáveis e numa Madrid que depressa vai sofrer grandes transformações. Uma série de acontecimentos e decisões — que não vou revelar para manter o efeito surpresa — levam-na a Tetuán, onde conhece personagens improváveis e é levada para uma verdadeira aventura onde quem vence são os espertos e oportunistas.
O livro está dividido em quatro partes, mas eu diria que toda a narrativa estaria, facilmente, segmentada em três acontecimentos principais que influenciam a protagonista e, por conseguinte, toda a história. Embora seja um volume de páginas considerável, a leitura faz-se a bom ritmo e sem espaço para grandes divagações — embora eu sinta que esta é uma perceção influenciada pelo facto de uma parte da história eu já conhecer graças à série. Em outras opiniões que tive a oportunidade de ler, muitos leitores queixaram-se do ritmo da primeira parte, sem saberem ao certo para onde estavam a ser encaminhados.
O Tempo Entre Costuras tinha tudo para correr mal, na verdade: a narrativa tem três locais principais, fala sobre duas culturas distintas, decorre em três regimes políticos diferentes e ainda envolve temas como alta costura e espionagem, sem contar com o enredo natural entre as personagens. É tanta informação, contexto, detalhe e referências que é muito fácil um livro acabar confuso, com pontas soltas ou frágil em alguns temas — raso. E é por isto que tiro o meu chapéu à autora, María Dueñas, por conseguir pegar em todos estes temas e fazer um verdadeiro remate sem pontas soltas e com muita substância. É um livro que denuncia o empenho da autora em saber do que escreve — e isto é mais raro e louvável do que se pensa.
Envolvente, feminino e muito interessante, O Tempo Entre Costuras promete uma história cheia de reviravoltas, uma protagonista evolutiva e descrições que nos transportam para uma Madrid empobrecida, uma Tetuán cheia de cores e uma Lisboa desconfiada. Não tenho curiosidade para ler os livros que se seguem desta história — eu gostei do final e, honestamente, fico desiludida por quererem dourar a pílula — mas fiquei feliz por ter terminado esta história entre páginas e não entre episódios.
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Bertrand
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quinta-feira, 23 de setembro de 2021
Ah, o outono...! Confesso que me despeço sempre do verão com uma pequena saudade prematura, mas assim que o outono chega, entrego-me de braços abertos. A minha estação preferida, a mais aconchegante e spooky! Não tem sido fácil deste lado atualizar o blog — o meu computador está em fase terminal e estamos em processos de troca —, mas tinha de celebrar a chegada do outono! Partilho 7 sugestões aconchegantes para experimentarem!
sábado, 11 de setembro de 2021
Gosto muito de uma canção da Amália em que ela confidencia que, todas as noites, dorme acompanhada: pelo medo. O poema, na verdade, é da origem de Reinaldo Ferreira, mas é na voz dela que ganha vida a canção sobre uma emoção que, também ela, parece ter corpo e pulsação.
Recordo-a sempre que me cruzo com a minha companhia: a Síndrome do Impostor. Uma companhia que, ao que parece, se desdobra em milhões e assombra a mente de tanta gente.
A Síndrome do Impostor mora comigo e, numa meta-análise exaustiva, consigo traçar um milhão de caminhos e razões que me levam a encorpar este sentimento: o facto de ter a perceção que, no mundo, existem milhares de milhões de pessoas capazes de fazer o que eu faço, ou melhor; o facto de eu querer ser sempre a pessoa com menos conhecimento numa sala; o facto de ser insegura com algumas das minhas capacidades.
Diminuo muito do que faço, não sei aceitar elogios e penso sempre por baixo. Já perdi a conta das vezes em que isso me prejudicou, e quando a Síndrome do Impostor me deixa sossegada uns instantes, observo com clareza que não havia razão para me diminuir. Mas no olho do furacão, tudo parece enevoado. E mesmo a olhar para o chão, não tenho qualquer perceção da minha grandeza.
Há uns dias, quis reproduzir a receita de arroz doce da minha avó. Ela ensinou-me passo a passo, deixando-me mexer e participar no processo para sentir todas as texturas, para perceber quando estava no ponto, para me familiarizar com a receita. Comprei os mesmos ingredientes, mas desta vez aventurei-me a solo. Ficou ótimo, delicioso. Mas não ficou igual.
É que ninguém faz arroz doce como ela. Isto é uma referência muito comum na culinária, o ingrediente amor. É uma ideia quase etérea mas que combate muito bem a Síndrome do Impostor: é que não importa só a técnica, o conhecimento, as bases, o know-how. Há o saber fazer, e há o como se faz, e este ‘como’ nunca é apenas funcional. Ninguém faz arroz doce — e outras receitas — como a minha avó, e essa é a razão pela qual os vizinhos batem à porta a pedir-lhe uma taça. E assim como a minha avó é única a fazer arroz doce, também todos nós temos uma forma de fazer que não prima pela (só) técnica nem pelo protocolo: é porque é feito por nós e não é reproduzível, mesmo quando passível de copiar.
É difícil dar forma a esta impressão digital que marca o que fazemos? É. Mas a Síndrome do Impostor é igualmente vaga e disforme, sem rosto, feitio ou engenho. É tão vaga quanto aquilo que nós fazemos e que nos torna bons e inimitáveis. Mas nós damos realismo à Síndrome do Impostor. Porque não dar realismo à nossa impressão digital? Pode ser pelo empenho, pode ser pelo amor, pode ser pela nossa assinatura invisível, que deixamos em tudo o que fazemos e que não é palpável, mas é percetível. É o que nos torna únicos. E é o que expulsa o impostor, mesmo que o medo, tal como a Amália canta, continue a morar connosco.
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
O que é que um diretor falhado da Broadway, uma jovem introvertida e um ator que vive na sombra do seu sucesso têm em comum? Para além de serem vizinhos, partilham uma obsessão por podcasts de true crime. E é precisamente um estranho homicídio no seu prédio que vai unir estes três protagonistas improváveis.
Only Murders In the Building é a nova série disponível na Disney+ que, além de toda a atmosfera de mistério e crime, aborda dois temas que dão alguma frescura e inovação a um género tão saturado nas produções para televisão: a popularidade dos podcasts de crime — uma tendência muito atual — e o universo dos vizinhos, com quem convivemos, às vezes, apenas separados por uma parede mas tão pouco sabemos sobre eles. O segredo do que está para lá das portas que são iguais em todos os corredores, que vidas é que se escondem em cada andar é um mistério que nos assola em qualquer escadaria ou elevador de um prédio, e a série explora esse imaginário com alguma graça.
Apesar de ainda só ter disponíveis 3 dos 10 episódios — e de a espera ser um pouco longa, na minha opinião, e vocês já sabem que não sou assim tão impaciente — Only Murders In the Building tem sido a série que me acompanha ao pequeno-almoço, com um elenco muito original e uma edição muito interessante, cómica no ponto certo, teatral quando necessário e dramática sempre que se justifica. Esta é uma partilha precoce, mas que me tem entusiasmado tanto que não me importo de a recomendar já!
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
Um dos aspetos que acho mais interessantes e fundamentais da alimentação é o seu caráter social. Confesso que era um elemento que eu esperava que fosse mais vezes abordado ao longo do meu curso de nutrição, que tantas vezes teve um foco (essencial!) na componente técnica, científica e fisiológica, e que outras tantas vezes esqueceu a componente social. Existem uma série de aspetos que gravitam o ato de nos alimentarmos, entre eles a componente interativa das refeições (porque não nos alimentamos apenas para sobreviver, ou, se apostássemos em políticas de segurança alimentar em vez de as ignorarmos, ninguém seria submetido a tal condição) e a influência económica e cultural na nossa rotina alimentar.
O Eat Up! procura explorar este lado mais social, cultural e económico da nutrição. Numa narrativa muito acessível e próxima, Ruby vai dedicando cada capítulo a um aspeto do nosso quotidiano ou da atualidade que influencia os nossos comportamentos à mesa. Desde a comida de conforto à dicotomia do slow fashion no acesso de roupa a mulheres que não estão dentro do padrão económico ou fisionómico, passando pelo contexto histórico de alguns alimentos e até regimes alimentares.
Sou suspeita, mas este livro foi uma lufada de ar fresco que gostava de ter lido durante a minha fase académica na Faculdade. Oferece a visão social e comportamental que eu esperava ter encontrado nos conteúdos programáticos e que eu acho que, enveredando para uma prática clínica ou de contacto com o público, é fundamental. Não podemos esquecer que, atrás dos cálculos e dos planos perfeitos de ""pão com ar"", existe uma pessoa do outro lado que, além de precisar de energia para sobreviver, também faz da alimentação uma extensão dos seus valores, idiossincrasias e mundividências. Sempre disse que os pratos na mesa são uma troca silenciosa de culturas e personalidades, e Ruby Tandoh não só compreende na perfeição o que quero dizer, como o conseguiu escrever com uma eficácia admirável.
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Bertrand
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sábado, 4 de setembro de 2021
Lembro-me com uma precisão inesperada do dia em que preparei este artigo para vocês a comunicar que ia iniciar um Five Year Journal — e a ensinar-vos como podiam fazer o vosso. Em setembro de 2016, imediatamente após a minha licenciatura, comecei esta jornada com as expectativas controladas, principalmente porque nunca tinha mantido um diário ou feito um projeto de continuação diária.
Neste bloco de notas, respondi todos os dias, durante 5 anos, às mesmas questões e, além de encapsular a fase mais conturbada da minha vida, também observei a minha evolução natural. É muito difícil pensar onde vamos estar daqui a cinco anos, e mais audacioso é fazer um projeto que implique uma rotina para tanto tempo, mas este bloco esteve na minha mesa de cabeceira todos os dias e, antes de me deitar, respondia a uma questão até se tornar num hábito. Quando não o tinha por perto, respondia às questões no momento de regresso.
Para mim, um dos segredos para este Five Year Journal ter resistido ao tempo — e à rotina — com sucesso foi a elasticidade das perguntas. É tentador preencher todas as páginas com perguntas profundas, que denunciem quem já fomos no passado, mas a verdade é que não estamos inspirados (ou para aí virados, sinceramente) para embarcarmos numa viagem dessas todos os dias. As páginas do meu Five Year Journal iam intercalando perguntas mais interessantes e introspetivas com as mais corriqueiras e ágeis, que não denunciam muito sobre quem sou mas revelam algo sobre a época em que vivi (e que, por isso, são igualmente interessantes. Uma das que recordo era o que dizia a manchete do jornal desse dia). E isto, para mim, é viajar no tempo.
Na primeira folha, fiz uma breve apresentação de mim própria, em 2016. Aquilo que fez sentido para mim, na altura, de escrever e partilhar. Nunca mais li essa folha até ter terminado o journal e apenas depois de ter feito o mesmo exercício na última folha, agora em 2021. Quando comecei este projeto, pensei várias vezes no que estaria a escrever naquela última folha: será que seria exatamente igual? Será que ia pensar sobre o mundo da mesma forma? Será que as minhas respostas iam ser sempre iguais? Será que ainda ia ter um blog para falar sobre a experiência? Se a encontrasse hoje, iria gostar dessa Inês? O que é que eu estaria a fazer? Estaria feliz?
A sensação é de que passou uma vida entre nós. Perdas muito dolorosas, um transtorno de ansiedade que fez uma fossa profunda e quase me levou ao abismo. Dentro daquelas páginas, senti-me perdida, feliz, impaciente e esperançosa. Em muitas ocasiões, não respondi o que achava que iria responder (como, por exemplo, quando a Laika faleceu no dia do animal de estimação e a pergunta desse dia era ‘Quantos animais de estimação tens?’. A vida, às vezes, consegue ser dolorosamente irónica). Mas em tantas outras perguntas, eu dei por mim positivamente surpreendida, respondendo com uma alegria, esperança e vivacidade que, nas linhas acima, não reconhecia (como quando respondi a uma questão a dizer que nunca conseguiria fazer uma coisa e, no ano seguinte, estava a responder que tinha precisamente conseguido fazê-la).
Acho que é isso que me fez adorar tanto o Five Year Journal: é um reflexo muito fiel da vida tal como ela é. É monótona e surpreendente, dececionante e extraordinária. Aborrecida umas vezes, deliciosa noutras. Mas nunca é o que esperávamos. E ainda bem.
Não sou mais a Inês de 2016. Desconfio que ela iria gostar muito de mim — até acho que sentiria uma pontinha de inveja — e sinto que terminei este journal a abraçá-la, a agradecer-lhe por ter tido esta ideia, e a levar comigo uma grande lição: tudo é possível de acontecer em 5 anos e, embora pareça que o tempo segue imutável e lento, grandes transformações vão acontecendo dentro (e fora) de nós.
Gostei tanto que já quero fazer mais um (aproveitando que o hábito já está enraizado). Desta vez, a começar em Janeiro e, uma vez mais, com as perguntas totalmente personalizadas por mim. Agora que já tenho a experiência, irei reaproveitar algumas questões e introduzir outras tantas que me foram surgindo e que acho mais interessantes (mas mantendo a estratégia da diversificação). Lembro-me de muita gente, na altura, ter aderido e desejado participar. Hoje, não sei se seguiram firmes no registo, mas se desistiram a meio do caminho ou se nunca fizeram e gostavam de experimentar, eu recomendo com o coração inteiro. Façam, criem essa rotina, não desistam. É uma das cápsulas do tempo mais especiais que tenho na minha vida. Obrigada, Inês. Juro que estou feliz.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Agosto é sempre a anfitriã perfeita do verão; chega quando a festa já tem vida, calor e energia, e vai embora no timing certo, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Despede-se sem obedecer aos que lhe pedem para ‘ficar mais um bocadinho’. É sempre assim que simbolizo agosto: completo, protagonista, rico em momentos de verão. Revemos alguns?
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