Um dos aspetos que acho mais interessantes e fundamentais da alimentação é o seu caráter social. Confesso que era um elemento que eu esperava que fosse mais vezes abordado ao longo do meu curso de nutrição, que tantas vezes teve um foco (essencial!) na componente técnica, científica e fisiológica, e que outras tantas vezes esqueceu a componente social. Existem uma série de aspetos que gravitam o ato de nos alimentarmos, entre eles a componente interativa das refeições (porque não nos alimentamos apenas para sobreviver, ou, se apostássemos em políticas de segurança alimentar em vez de as ignorarmos, ninguém seria submetido a tal condição) e a influência económica e cultural na nossa rotina alimentar.
O Eat Up! procura explorar este lado mais social, cultural e económico da nutrição. Numa narrativa muito acessível e próxima, Ruby vai dedicando cada capítulo a um aspeto do nosso quotidiano ou da atualidade que influencia os nossos comportamentos à mesa. Desde a comida de conforto à dicotomia do slow fashion no acesso de roupa a mulheres que não estão dentro do padrão económico ou fisionómico, passando pelo contexto histórico de alguns alimentos e até regimes alimentares.
Sou suspeita, mas este livro foi uma lufada de ar fresco que gostava de ter lido durante a minha fase académica na Faculdade. Oferece a visão social e comportamental que eu esperava ter encontrado nos conteúdos programáticos e que eu acho que, enveredando para uma prática clínica ou de contacto com o público, é fundamental. Não podemos esquecer que, atrás dos cálculos e dos planos perfeitos de ""pão com ar"", existe uma pessoa do outro lado que, além de precisar de energia para sobreviver, também faz da alimentação uma extensão dos seus valores, idiossincrasias e mundividências. Sempre disse que os pratos na mesa são uma troca silenciosa de culturas e personalidades, e Ruby Tandoh não só compreende na perfeição o que quero dizer, como o conseguiu escrever com uma eficácia admirável.
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Bertrand
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