LIVROS | Abril em 3★


Conversas Entre Amigos
Não tive a melhor experiência de leitura com Normal People, mas o regresso a Dublin despertou a vontade de dar uma segunda oportunidade a Sally Rooney. Com tantas juras de amor à autora, precisava de testar de novo e compreender se tinha sido apenas uma primeira má impressão ou se a autora não era mesmo para mim. 

Conversations With Friends não mente no conteúdo: não faltam diálogos entre aquele que é um grupo de amigos particularmente interessante; com o avançar das páginas, conhecemos Frances e Nick, que vivem numa relação de adultério, Melissa, que é a mulher de Nick, e Bobbi, melhor amiga e ex-namorada de Frances. 

Com uma rede de relações tão intrincada e vulnerável, estão reunidas as condições para dinâmicas próprias, diálogos muito íntimos e decisões altamente questionáveis – ou, pelo menos, eu passei toda a leitura a questionar. 

Eu percebo o charme Rooney. Sei onde ele está: está na mundanidade das suas histórias, na capacidade de pegar em pessoas como nós e em relações como as nossas e em criar uma história que prima pelo existencialismo, pelas reflexões, pelas coisas que as personagens dizem e pensam (e o seu paradoxo quando comparado com o que fazem). É a poesia na normalidade. 

No entanto, não consigo ignorar a falta de evolução do plot, a escassez de arco na maioria das personagens, a predileção quase patológica por caracterizar personagens femininas como magras e fumadoras (e quando se aperceberem disso, não vão conseguir ignorar mais esse detalhe) e uma certa romantização do decadente que não me atrai. Fico no precipício da Rooney, mas não consigo cair. E com este livro resolvo a minha relação com a autora. Sei que será amada por muitos outros. 


A Lista de Leitura 
Descobri inesperadamente este livro em Viena e a premissa encantou-me de imediato: A Lista de Leitura apresenta-nos o ponto de vista de várias personagens diferentes, todas elas com origens, idades e aspirações completamente distintas: um jovem universitário perdido, uma adolescente que não tem a mínima ligação com a leitura, um velho viúvo que procura nos livros preferidos da mulher uma forma de trazer um pouco dela de volta. O que é que une estas (e outras) personagens? Uma lista de leitura misteriosa que vai surgindo de forma inesperada, mas que impacta cada uma destas personagens. Nessa lista, estão uma série de livros (com títulos e histórias reais, que também nós podemos ler). 

Quis muito adorar este livro, porque tinha tudo de bom. Mas a evolução muito lenta, os capítulos desnecessários e algumas personagens insonsas fizeram com que fosse mais uma jornada do que uma leitura. No entanto, tenho de destacar os pontos altos do livro e que fazem com que, ainda hoje, olhe para a lombada dele na minha estante com carinho: a fuga do óbvio (do romance e dos momentos água com açúcar); a caracterização perfeita de como é que somos impactados pelos livros e como é que eles nos transformam e ajudam a superar situações ou a ver alguns problemas com perspetiva; um acontecimento que me deixou surpreendida (que não posso desenvolver para não estragar a experiência); e a escolha das personagens, tão diversa e tão humana. 

Com um pouco mais de edição e revisão, não tenho dúvidas de que seria um livro mais marcante. Assim, fica à beira do potencial, mas com a certeza de que é a escolha perfeita se quiserem algo com substância (e até duro em algumas partes, não vou mentir), mas reconfortante. 


Quero Morrer, Mas Quero Comer Tteokbokki 
Um título sugestivo. Mergulhei neste livro sabendo muito pouco sobre ele, mas percebi de imediato que estava dividido em duas partes: na primeira, a transcrição dos diálogos que decorreram em consultas de terapia entre a terapeuta e a autora do livro; e na segunda parte, uma série de crónicas sobre a saúde mental e as circunstâncias atuais do mundo.

A maioria dos leitores tem sido unânime a preferir a segunda parte, mas eu admito que preferi a primeira. Ao contrário das críticas que tenho lido, senti total empatia pelos momentos de consulta e pelas conversas (com muitos insights que poderiam perfeitamente estar dirigidos a mim, de tão cirúrgicos). Também achei extraordinário que uma parte do livro tenha sido reservada para a terapeuta, para que ela também pudesse colocar o seu ponto de vista e as suas reflexões. Mas admito que foi a segunda parte que quebrou a minha fluidez de leitura e que me fez demorar mais a terminar o livro. 

Esperava também que, de alguma forma (e pela sugestão do título) houvesse alguma reflexão cultural (nem que fosse gastronómica), mas passa completamente ao lado. Não era uma promessa, mas o título deixou-me com essa expectativa e lamentei que não tivesse correspondido. 


The Most of Nora Ephron 
Tinha Nora Ephron na minha lista de autores por estrear há imensos anos, mas entre tantos títulos de sucesso, acabava inerte pela indecisão. O lançamento de uma compilação dos melhores textos da autora pareceu-me o ponto de partida ideal para a conhecer. 

The Most of Nora Ephron chegou ainda a ser submetido a curadoria pela própria, antes de, infelizmente, falecer em 2012, mas confesso que gostava que a seleção tivesse sofrido um pouco mais de investimento. Embora seja, realmente, o livro perfeito para conhecer e admirar a capacidade brilhante e humorística de Nora Ephron para falar sobre qualquer tema, a verdade é que muitos dos textos já acusam uma datação significativa. Muitos deles são tão entrosados ao contexto americano que desconfio que é difícil que alguém que não tenha nascido na sua época ou país consiga acompanhar sem ter de ir pesquisar para se inteirar do/a acontecimento/pessoa.

No entanto, é Nora Ephron, e agora posso dizê-lo com propriedade: a sua paixão eterna por Nova Iorque, o humor mordaz, as suas (des)aventuras de amor, as descrições sensoriais de cada receita, o irritante name dropping e a sensibilidade para conseguir entender tudo aquilo que ainda estamos, em vida, aos papéis é notável – e, principalmente, inimitável.


O Último Verão em Roma
Last Summer In the City prometia ser tudo o que precisava para sair de uma reading slump. Um cenário de pleno verão em Roma, onde Leo e Arianna se conhecem e se encantam perdidamente. A premissa prometia horas de conversas intermináveis entre os dois pela noite fora e uma curiosidade imensa para compreendermos como é que uma paixão tão arrebatadora resulta na separação irreparável entre os dois. 

A realidade é que, mesmo sendo um livro curto, terminei esta história com um conflito de emoções e opiniões. Por ignorância minha, julgava que este livro tinha sido publicado em 2021 e não estava a compreender como é que o autor conseguia fazer uma descrição tão rica, tão profunda e poética da cidade e, ao mesmo tempo, um retrato tão pobre e desinteressante de Arianna, supostamente o amor da vida de Leo. Parecia uma espécie de Daisy num Grande Gatsby italiano, regida apenas pela emoção, obcecada pela sua beleza e sem grande diálogo a acrescentar na trama a não ser os seus caprichos ou mudanças de humor inesperadas. 

E depois percebi que, na verdade, isto é um livro reeditado, publicado pela primeira vez nos anos 70. E aí já consigo perceber como é que neste livro a personagem feminina mais interessante e rica em personalidade e insights seja a própria cidade de Roma. 

Last Summer In the City tinha tudo para ser um livro bom. A história pode parecer um leve romance de verão italiano, mas navega na profunda melancolia de Leo, que sente que nada lhe pertence de verdade. Vive das sobras do que os outros já não querem ou já não lhes serve e a forma como ele gere esse sentimento, a par da sua luta contra o alcoolismo e solidão é muito interessante. Mas o retrato das personagens femininas enquanto objetos fúteis e histéricos que servem unicamente a jornada do protagonista aborrece-me. Não consigo ignorar quando já li histórias com personagens tão cativantes e com diálogos ricos que realmente se prolongam pela noite fora. 

É um romance de culto em Itália (descobri depois) e percebo que, no seu tempo, tenha realmente sido. Tem temas muito relevantes e a escrita de Gianfranco Calligarich é sublime, com um dos meus estilos preferidos de ler. Viajei até Roma e sublinhei imensas passagens, mas… Queria mais. Queria melhor.

2 comentários

  1. A minha parte preferida do universo Sally Rooney é a série «Normal people» e todas as cenas passadas em Dublin :)

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  2. O último verão em Roma, amei saber que é um livro reeditado e já fiquei mega curiosa para ler.

    Os outros eu achei interessante e fiquei feliz em saber que conseguiu ler bastante.
    beijos.


    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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