LIVROS | Março em 3★


O Sol Também É Uma Estrela 
Numa fase em que estava a precisar de uma leitura leve e descontraída, iniciei este young adult sem grandes expectativas. O Sol Também é Uma Estrela leva-nos até Nova Iorque e acompanhamos as 24 horas mais decisivas dos nossos protagonistas: Natasha será deportada para a Jamaica no dia seguinte e está a tentar de tudo para reverter a decisão e Daniel tem uma entrevista de emprego importante. De uma forma inesperada, os caminhos de ambos se cruzam e testemunhamos o nascer de uma relação que só tem um dia para durar e sobreviver. 

Embora seja bastante dinâmico e divertido de ler – perfeito se estiverem a precisar de um livro com bom ritmo – acho que teria desfrutado muito mais da leitura se fosse mais nova. Há partes dos diálogos ou dos comportamentos das personagens que o meu cinismo já não absorve nem acredita com o mesmo encanto. Ainda assim, foi a prova perfeita de que, numa história ligeira, facilmente podemos abordar temas como a emigração, racismo e a necessidade de sermos nós a ditar o nosso caminho, por muito que os nossos pais queiram o melhor para nós. 


Piranesi 
Piranesi é o tipo de livro que é tão confuso de explicar quanto é de ler. É uma proposta em que mais vale mergulhar de olhos fechados, sem procurar saber grande coisa. Foi o que fiz. 

O que posso partilhar sobre a experiência de ler este livro? É um absoluto labirinto que pisca o olho à mitologia e que nos deixa completamente perdidos até à chegada do plot twist. O desespero para nos localizarmos é tão grande que é irresistível agarrarmo-nos a todos os pormenores no arranque da leitura, mas recomendo-vos que assumam só que estão perdidos e que se deixem levar. 

Para mim, foi uma leitura mais mediana do que extraordinária porque não sou apreciadora de histórias que sobrevivem apenas do plot twist. Sem o momento eureca, não conseguiria tirar qualquer proveito do Piranesi, o que me faz sentir que é uma experiência pouco rica. Mas é uma viagem que recomendo se estiverem à procura de algo estimulante. 


I Didn’t Do The Thing Today 
Produtividade é a palavra da minha geração e já passou por várias fases de reputação. Se durante o meu crescimento foi vangloriada ao expoente máximo (a ‘hussle culture’), percebemos agora, adultos e trabalhadores, que nos venderam um conceito completamente venenoso e que perdemos todo o equilíbrio entre a produção e o descanso, marcados pela culpa. Este livro é uma reflexão disto mesmo, da importância do descanso, das várias formas de produtividade e de relaxamento, da desmistificação de ideias como a preguiça. 

Não foi uma leitura arrebatadora, não houve nenhum capítulo que me marcasse em particular ou que me trouxesse algo novo. Mas fomos tão formatados para uma cultura de ‘não parar’ que é mesmo essencial, por vezes, voltarmos a ler o óbvio e podermos reprogramar a nossa forma de pensar. 


Argonautas
Trouxe-o comigo de Dublin e estava completamente convencida pela premissa. Argonautas é um ensaio onde a autora explora as várias esferas da nossa identidade e de como nos vamos transformando ao longo do tempo, à medida que crescemos, sem que deixemos de ser… nós! 

O ponto de partida é a analogia à história do barco Argo, que parte para uma jornada e, à medida que vão navegando, várias peças do barco vão sendo reparadas, substituídas e transformadas. Quando chegam ao destino, percebem que o barco que partiu já não é o mesmo que chegou, embora seja o mesmo Argo. Um pouco como nós, humanos, nos vamos transformando ao longo da vida. 

Toca em particular, nas questões e conflitos emocionais com que a autora se depara com a maternidade e com a relação com o seu marido transsexual. Achei uma leitura super interessante porque aborda um tema que me é um pouco desconhecido e porque fala sobre ser mãe de uma forma única, como nunca antes tinha lido. No entanto, houve momentos do ensaio que não me prenderam tanto ou que senti que se inclinavam para o pretensioso e que me fizeram não adorar tanto esta leitura quando esperava, quando a iniciei. Ainda assim, um livro excecional se quiserem refletir um pouco sobre o papel da mulher como mãe e sobre os desafios e conflitos de um homem trans.


Sete Dias em Junho 
Este livro teve uma das minhas premissas preferidas dos últimos tempos: Sete Dias em Junho intitula-se em homenagem à semana em que os dois protagonistas, Eva e Shane, partilharam uma relação intensa na juventude, acabando por cortar contacto desde então. No entanto, ambos são escritores e têm escrito um para o outro, ao longo de todos estes anos, através dos seus livros – de géneros, também eles, muito distintos: Eva é uma escritora de romances eróticos de nicho e Shane é um escritor ultrapremiado com histórias de renome. 

Sete Dias em Junho é o livro ideal se precisam de uma história simples, mas com alguma substância e um toque de romance que nos transporte para relações complexas, segundas oportunidades e coisas que ficaram por dizer. É, sem dúvida, entretenimento puro, embora sinta que, com os devidos ajustes, poderia ter sido mais do que entretenimento. 

Sinto que, no geral, as relações destas personagens são exploradas de uma forma um pouco superficial (não só entre elas, mas também das duas com a escrita. Gostava que a autora me tivesse convencido melhor de que a escrita foi o ponto de libertação e catarse para os dois). Gostava também que, no que toca às observações político-sociais, a autora tivesse privilegiado uma abordagem de ‘show, don’t tell’: tendo dois protagonistas negros e uma mulher que se sente inferiorizada pelo tipo de livros que escreve, acho que teria sido perfeito que as observações estivessem à luz do que as personagens sentem e vivem, e não dos diálogos (que acabam por ficar forçados). Neste aspeto, acho que a autora foi brilhante a fazê-lo na questão da saúde mental, do abuso de substâncias e de um tema que é tão raro aparecer numa história: as enxaquecas crónicas. Foi perfeita a forma como nos sentimos envolvidos pelo diagnóstico e histórico de consumo destas personagens, o que só reforça que a autora sabe fazê-lo. 

É uma boa aposta se precisarem de uma leitura descontraída, que podem devorar, com um toque de sensualidade, mas que agrega qualquer coisa, no final.


Já leram algum destes livros?

2 comentários

  1. Eu preciso de saber o teu truque para conseguires ler tanto num mês, por favor partilha conosco!!
    Tenho tantos livros que quero ler, mas não consigo acompanhar a lista enorme que tenho :(

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  2. Fiquei tão feliz por saber que ainda escreves! Acompanhei-te bastante tempo, até deixar o meu blogue há alguns anos. Confesso que já tinha perdido a esperança das pessoas que seguia naquele ano.
    Vou seguir-te, Inês! :)

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