LIVROS | The Dreamers


Na The Notting Hill Bookshop – em Londres, e não se preocupem, assim que terminar os artigos de Berlim iniciaremos essa viagem e não vos deixo escapar nada! – existia uma adorável secção de Blind Dates With a Book e eu nunca tinha aderido ao desafio antes. Acabei por trazer um comigo com as seguintes pistas: contemporary fiction, mystery e science-ish. Ao desembrulhar, The Dreamers esperava por mim. 

A premissa é, sem dúvida, intrigante: numa pequena e remota cidade da Califórnia, surge um fenómeno inexplicável e assustador: as pessoas estão a adormecer sem conseguir acordar. Por mais que familiares, amigos, conhecidos e profissionais de saúde tentem despertar as vítimas, elas permanecem num sono profundo e imperturbável. Pior: parece ser contagioso. 

Começa, então, uma epidemia sem precedentes e uma corrida contra o tempo para conseguir conter aquilo que se acredita ser um vírus, mas, ao mesmo tempo, garantir que os pacientes mantêm os seus sinais vitais e que uma solução é encontrada para os despertar.

Se o trauma da pandemia vos está a assombrar neste momento, partilho desde já o alerta de que, claro, existem inúmeras menções a máscaras, procedimentos de higiene, contenção de doença, cordões sanitários e isolamento, pelo que, se ainda estão muito sensibilizados com a época que vivemos, talvez não seja uma leitura recomendada. Mas a narrativa é brilhante. 

É quase chocante pensar que este livro foi escrito e publicado antes da pandemia porque, tirando alguns exageros sociais (que, felizmente, a pandemia permitiu-nos perceber que continuamos a ter algum civismo, pelo menos no grau mais basilar e menos apocalíptico), as descrições são muito precisas e quase proféticas ao que acabámos por viver (bom, falhou na loucura do papel higiénico, mas quem poderia prever tamanha insanidade, certo? Há componentes do ser humano que só vivendo se descobrem – para o bem e para o mal). 

The Dreamers revela uma cuidada inspiração na mente de Saramago, embora não o concretize com a mesma mestria, na minha opinião. Enquanto Saramago consegue imaginar cenários sórdidos e concretizar a premissa, não acho que o mesmo aconteça com The Dreamers

A escrita é fabulosa e poética, de uma forma que parece quase impossível num livro deste género. Mas a concretização final da história deixa a desejar – senti que Karen Thompson Walker não foi capaz de fechar a história que construiu, deixando o final com pouca substância e o tema principal da história pouco desenvolvido. 

Julgo que o objetivo da autora era fazer um ensaio social quando a Humanidade tem momentos de crise e não tanto debruçar-se nos detalhes do vírus, mas não acho que execute bem nem um ponto, nem o outro. Faltava um extra-mile (ou talvez nós estejamos mal-habituados ao nosso Saramago). Mas não estragou a experiência de leitura, verdadeiramente envolvente e entusiasmante.

WOOK

Bertrand

Este artigo contém links de afiliada.

1 comentário

Partilha comigo o teu comentário ou opinião sobre este artigo. Sempre que possível, respondo às perguntas diretamente no comentário. Obrigada por estares aqui :)

Desde 2014

Instagram


P.S: HÁ SEMPRE BOAS NOTÍCIAS AO VIRAR DA ESQUINA
_______________________
Bobby Pins. Theme by STS.