ISTO É TÃO INÊS | Estação dos 27


'Os 20 são uma viagem'. Ouvi isto vezes sem conta, principalmente quando troquei a vela do '1' para '2'. É uma década especial, e agora que me aproximo da reta final, observo em retrospetiva que estou, neste momento, numa fase de redescoberta. 

Já não fico ansiosa com algumas coisas  mas fico com outras. Deixei de achar delicioso certos doces e passei a gostar de outros sabores. Apercebi-me de que gosto  e tenho jeito!  para fazer yoga. Já não me irrito com muita coisa. Gosto de fazer cerâmica (nunca desconfiei de tal coisa). Já não respondo da mesma forma a circunstâncias que levava muito a peito. Mudei o prato preferido. Acho graça a coisas diferentes.

Não estou transmutada, nem sinto que isto seja uma luz divina do amadurecimento, mas sim o resultado do meu percurso e de manter a mente aberta. Sinto que, na frescura dos 20, somos muito definitivos: até aos 19, a vida é muito simples, mas pouco livre: temos muitas obrigações, muita gente ao nosso redor a ditar o que gostamos, o que temos de gostar, o que temos de evitar e muitas expectativas. Mimetizamos as vozes, comportamentos e reações dos outros. E no início dos 20 damos o Grito do Ipiranga e concretizamos quem somos, o que gostamos, como somos. 'Isto sou eu', com uma liberdade e autonomia que sabem a novidade e que nos fazem sentir que nos devemos lealdade. Temos de ser leais à imagem que trabalhámos sobre nós. 

É uma fase tão convicta. E talvez seja por isso que também pode ser tão desesperante. Porque temos muita objetividade nos caminhos, e quando eles não são como queremos, ficamos totalmente perdidos. Nada mais serve em nós a não ser aquele percurso que idealizámos, aquele círculo que criámos, aquelas roupas que comprámos, aqueles hobbies que desenvolvemos. E por isso, construímos o caminho que não existe. E é tão bonito...!

A segunda metade não traz descanso, mas oferece uma certa flexibilidade  ou só aconteceu comigo? Já não me sinto tão convicta com tanto do que achava de mim, dos meus gostos e aspirações  acho que a minha vivência até à data também foi uma excelente aprendizagem disso mesmo. Já não sinto que não me reconheço ou que estou a ser desleal comigo. Sou só uma nova Inês. Há coisas que já não gosto e que eram viscerais em mim, outras que eu nunca tinha visto da forma como vejo agora. Outras que recuperei depois de achar que estavam perdidas. Mas talvez o segredo seja mesmo manter a mente aberta e permitirmo-nos a ir atrás do que a maturidade tem para oferecer.

É uma experiência muito interessante. Faz-nos perceber que achar que sabemos tudo sobre nós aos 20 é um pouco cómico. É necessário, e faz parte, mas é cómico. Achar que já vivemos tudo o que tínhamos para viver, amámos tudo o que havia para amar, fizemos tudo o que tínhamos para fazer. 

Não acho que seja necessário sermos condescendentes com o nosso eu mais novo (era o que sentíamos, era o que sabíamos), mas sem dúvida que a reta final dos 20 tem-me feito sair da gruta e ver um bocadinho a luz do Sol, conhecer novas partes de mim que ainda não existiam ou nunca tinha investido tanto. Sem cobranças, sem aflições. E mais resoluta de que, provavelmente, esta não será a minha última versão.

2 comentários

  1. Como principiante nos vintes, olho-me também como te descrevias quando eras mais novinha e é deveras interessante perceber a tua perspetiva e pode ser que venha a concordar contigo quando rondar os 27, também! E gosto tanto desta tua leveza e desta tua auto redescoberta, brilhas tanto! <3

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