FILMES | Novembro • 2021


Ainda em cartaz, Spencer tem sido uma produção muito aclamada pela crítica, mas confesso que não consegui gostar da proposta deste filme. O filme retrata um fim de semana da família real durante as festividades, num paradoxo entre o luxo e o excesso de acomodações e o vazio e sensação de não-pertença da Princesa Diana naquele seio familiar. Interpretado por Kristen Stewart, a prestação tem sido muito bem cotada, com alguns elementos do círculo pessoal de Diana a confirmarem o retrato fiel com que a atriz encarnou a Princesa. No entanto, não consegui sentir empatia nem envolver-me na história (nunca senti que estava a ver a Diana mas sim que estava a ver a Kristen a fazer de Diana, faço-me entender?). Entendo que, com uma produção como The Crown, Spencer não quisesse ficar à sombra e decidisse fazer uma interpretação da história à sua imagem. Mas os gestos não pareceram orgânicos, as referências psicóticas com laivos de demência pareceram-me um pouco deslocadas e quase forçadas para refletir a angústia e, no final, senti-me totalmente desligada da história. Acho que é uma unpopular opinion e que Spencer pode ser o passaporte para o Oscar da Kristen Stewart (ao qual tenho de lhe reconhecer o esforço), mas para mim é um não. Sinto que teremos sempre a Emma Corrin.


Às vezes, em toda a arte, mas no cinema em particular, faz-me falta aqueles rasgos de criatividade sem lógica, sem excesso de realismo. E o Wes Anderson faz esse trabalho com mestria e uma assinatura inimitável. The French Dispatch é o retrato das peças de uma revista de nome homónimo onde, em vez de lermos cada artigo, vemo-lo contado à frente dos nossos olhos no ecrã. É portanto, uma produção com várias histórias numa só, onde o elo aglutinador é a produção da última edição revista, onde todos os cronistas e jornalistas (cada um com o seu estilo e método próprio) fecham a sua última peça. Tudo com um dinamismo, fotografia e cor muito próprios do realizador, que sabe contar uma história cativante em que conseguimos acompanhar a narrativa e ser surpreendidos com alguns elementos fora da caixa. Não há quem não saia criativo depois de ver um filme dele e The French Dispatch, por ter uma ligação com a componente escrita, foi uma experiência muito especial para mim. 

Já estreou em 2011, mas eu só assisti este mês e depois de ter lido o livro que deu origem a esta adaptação. Não tive ainda tempo de partilhar a minha review do livro mas posso adiantar que se tornou num dos meus romances preferidos de sempre. 
A história é muito original: conhecemos Emma e Dexter, dois grandes amigos que orbitam num amor platónico e cuja vida vamos acompanhando durante 20 anos. O twist mais interessante é que acompanhamos a evolução da história ano a ano e sempre na mesma data: 15 de julho, a data em que se conheceram. 
Embora a produção tenha conseguido captar bem a dinâmica cronográfica do livro, acho que ficou muito pobre em refletir a profundidade das duas personagens e da sua própria relação (algo que o livro consegue fazer com mestria). Sinto que o livro concentrou-se mais na componente evolutiva das personagens e o filme centrou-se demasiado no plot e na cronologia, deixando os diálogos, acontecimentos e dinâmicas entre as personagens muito superficiais. Poderia ser porque li o livro, mas acho que não é um filme que, por si só, sobreviva na memória de quem assiste sem conhecer a história, o que é uma pena, já que a história é, verdadeiramente, original. Normalmente, o livro ganha sempre mas, neste caso, é bastante evidente. 

BEAUTIFUL BOY
Em 2019, li o livro que deu origem à adaptação deste filme e só há pouco tempo tive coragem para mergulhar de novo nesta história que me partiu o coração de deixou de lágrimas nos olhos. Beautiful Boy não é uma história de tristeza gratuita, mas não existem dúvidas de que é um testemunho comovente (e verídico) de um pai que observa o filho entregar-se à toxicodependência. Com Steve Carell no papel de pai (com zero comédia) e Timothée Chamalet no papel de Nic, o filme faz um retrato muito fiel da angústia do pai em querer salvar o filho de um ponto de não retorno na sua adição. O que começa por ser uma ligeira preocupação (com confiança na sensatez do filho em tomar as decisões certas), rapidamente escala para um pesadelo. O livro Beautiful Boy foi inteiramente escrito na perspetiva e testemunhos do pai (o que eu achei interessante, já que é uma forma de observar a toxicodependência de um prisma familiar, que tantas vezes é afetado), mas o filme uniu tanto o livro Beautiful Boy como o livro Tweak, a versão da mesma história, mas contada através de Nic. O filme, torna-se, assim, na combinação dos dois testemunhos, e resulta numa produção muito forte, intensa mas extraordinariamente bem feita e que respeita muito quem passa por uma experiência destas.
A banda sonora é fenomenal (se não tiverem estômago para ver o filme, deem uma oportunidade à OST), a fotografia é poderosa e a prestação do elenco é excecional. Fiquei surpreendida que a Academia tenha ignorado completamente este filme.
P.S.- Vale a pena clicarem no link do trailer e verem os comentários. Alguns são de testemunhos de pais a falar da reabilitação dos filhos ou de testemunhos na 1ª pessoa. São um complemento muito bonito a toda esta história.

1 comentário

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