'Os 20 são uma viagem'. Ouvi isto vezes sem conta, principalmente quando troquei a vela do '1' para '2'. É uma década especial, e agora que me aproximo da reta final, observo em retrospetiva que estou, neste momento, numa fase de redescoberta.
Já não fico ansiosa com algumas coisas — mas fico com outras. Deixei de achar delicioso certos doces e passei a gostar de outros sabores. Apercebi-me de que gosto — e tenho jeito! — para fazer yoga. Já não me irrito com muita coisa. Gosto de fazer cerâmica (nunca desconfiei de tal coisa). Já não respondo da mesma forma a circunstâncias que levava muito a peito. Mudei o prato preferido. Acho graça a coisas diferentes.
Não estou transmutada, nem sinto que isto seja uma luz divina do amadurecimento, mas sim o resultado do meu percurso e de manter a mente aberta. Sinto que, na frescura dos 20, somos muito definitivos: até aos 19, a vida é muito simples, mas pouco livre: temos muitas obrigações, muita gente ao nosso redor a ditar o que gostamos, o que temos de gostar, o que temos de evitar e muitas expectativas. Mimetizamos as vozes, comportamentos e reações dos outros. E no início dos 20 damos o Grito do Ipiranga e concretizamos quem somos, o que gostamos, como somos. 'Isto sou eu', com uma liberdade e autonomia que sabem a novidade e que nos fazem sentir que nos devemos lealdade. Temos de ser leais à imagem que trabalhámos sobre nós.
É uma fase tão convicta. E talvez seja por isso que também pode ser tão desesperante. Porque temos muita objetividade nos caminhos, e quando eles não são como queremos, ficamos totalmente perdidos. Nada mais serve em nós a não ser aquele percurso que idealizámos, aquele círculo que criámos, aquelas roupas que comprámos, aqueles hobbies que desenvolvemos. E por isso, construímos o caminho que não existe. E é tão bonito...!
A segunda metade não traz descanso, mas oferece uma certa flexibilidade — ou só aconteceu comigo? Já não me sinto tão convicta com tanto do que achava de mim, dos meus gostos e aspirações — acho que a minha vivência até à data também foi uma excelente aprendizagem disso mesmo. Já não sinto que não me reconheço ou que estou a ser desleal comigo. Sou só uma nova Inês. Há coisas que já não gosto e que eram viscerais em mim, outras que eu nunca tinha visto da forma como vejo agora. Outras que recuperei depois de achar que estavam perdidas. Mas talvez o segredo seja mesmo manter a mente aberta e permitirmo-nos a ir atrás do que a maturidade tem para oferecer.
É uma experiência muito interessante. Faz-nos perceber que achar que sabemos tudo sobre nós aos 20 é um pouco cómico. É necessário, e faz parte, mas é cómico. Achar que já vivemos tudo o que tínhamos para viver, amámos tudo o que havia para amar, fizemos tudo o que tínhamos para fazer.
Não acho que seja necessário sermos condescendentes com o nosso eu mais novo (era o que sentíamos, era o que sabíamos), mas sem dúvida que a reta final dos 20 tem-me feito sair da gruta e ver um bocadinho a luz do Sol, conhecer novas partes de mim que ainda não existiam ou nunca tinha investido tanto. Sem cobranças, sem aflições. E mais resoluta de que, provavelmente, esta não será a minha última versão.
Concordo plenamente! Beijinhos
ResponderEliminarComo principiante nos vintes, olho-me também como te descrevias quando eras mais novinha e é deveras interessante perceber a tua perspetiva e pode ser que venha a concordar contigo quando rondar os 27, também! E gosto tanto desta tua leveza e desta tua auto redescoberta, brilhas tanto! <3
ResponderEliminar