ISTO É TÃO INÊS || Terminei o meu Five Year Journal


Lembro-me com uma precisão inesperada do dia em que preparei este artigo para vocês a comunicar que ia iniciar um Five Year Journal — e a ensinar-vos como podiam fazer o vosso. Em setembro de 2016, imediatamente após a minha licenciatura, comecei esta jornada com as expectativas controladas, principalmente porque nunca tinha mantido um diário ou feito um projeto de continuação diária. 

Neste bloco de notas, respondi todos os dias, durante 5 anos, às mesmas questões e, além de encapsular a fase mais conturbada da minha vida, também observei a minha evolução natural. É muito difícil pensar onde vamos estar daqui a cinco anos, e mais audacioso é fazer um projeto que implique uma rotina para tanto tempo, mas este bloco esteve na minha mesa de cabeceira todos os dias e, antes de me deitar, respondia a uma questão até se tornar num hábito. Quando não o tinha por perto, respondia às questões no momento de regresso. 

Para mim, um dos segredos para este Five Year Journal ter resistido ao tempo — e à rotina — com sucesso foi a elasticidade das perguntas. É tentador preencher todas as páginas com perguntas profundas, que denunciem quem já fomos no passado, mas a verdade é que não estamos inspirados (ou para aí virados, sinceramente) para embarcarmos numa viagem dessas todos os dias. As páginas do meu Five Year Journal iam intercalando perguntas mais interessantes e introspetivas com as mais corriqueiras e ágeis, que não denunciam muito sobre quem sou mas revelam algo sobre a época em que vivi (e que, por isso, são igualmente interessantes. Uma das que recordo era o que dizia a manchete do jornal desse dia). E isto, para mim, é viajar no tempo. 

Na primeira folha, fiz uma breve apresentação de mim própria, em 2016. Aquilo que fez sentido para mim, na altura, de escrever e partilhar. Nunca mais li essa folha até ter terminado o journal e apenas depois de ter feito o mesmo exercício na última folha, agora em 2021. Quando comecei este projeto, pensei várias vezes no que estaria a escrever naquela última folha: será que seria exatamente igual? Será que ia pensar sobre o mundo da mesma forma? Será que as minhas respostas iam ser sempre iguais? Será que ainda ia ter um blog para falar sobre a experiência? Se a encontrasse hoje, iria gostar dessa Inês? O que é que eu estaria a fazer? Estaria feliz?

A sensação é de que passou uma vida entre nós. Perdas muito dolorosas, um transtorno de ansiedade que fez uma fossa profunda e quase me levou ao abismo. Dentro daquelas páginas, senti-me perdida, feliz, impaciente e esperançosa. Em muitas ocasiões, não respondi o que achava que iria responder (como, por exemplo, quando a Laika faleceu no dia do animal de estimação e a pergunta desse dia era ‘Quantos animais de estimação tens?’. A vida, às vezes, consegue ser dolorosamente irónica). Mas em tantas outras perguntas, eu dei por mim positivamente surpreendida, respondendo com uma alegria, esperança e vivacidade que, nas linhas acima, não reconhecia (como quando respondi a uma questão a dizer que nunca conseguiria fazer uma coisa e, no ano seguinte, estava a responder que tinha precisamente conseguido fazê-la). 

Acho que é isso que me fez adorar tanto o Five Year Journal: é um reflexo muito fiel da vida tal como ela é. É monótona e surpreendente, dececionante e extraordinária. Aborrecida umas vezes, deliciosa noutras. Mas nunca é o que esperávamos. E ainda bem. 

Não sou mais a Inês de 2016. Desconfio que ela iria gostar muito de mim — até acho que sentiria uma pontinha de inveja — e sinto que terminei este journal a abraçá-la, a agradecer-lhe por ter tido esta ideia, e a levar comigo uma grande lição: tudo é possível de acontecer em 5 anos e, embora pareça que o tempo segue imutável e lento, grandes transformações vão acontecendo dentro (e fora) de nós.

Gostei tanto que já quero fazer mais um (aproveitando que o hábito já está enraizado). Desta vez, a começar em Janeiro e, uma vez mais, com as perguntas totalmente personalizadas por mim. Agora que já tenho a experiência, irei reaproveitar algumas questões e introduzir outras tantas que me foram surgindo e que acho mais interessantes (mas mantendo a estratégia da diversificação). Lembro-me de muita gente, na altura, ter aderido e desejado participar. Hoje, não sei se seguiram firmes no registo, mas se desistiram a meio do caminho ou se nunca fizeram e gostavam de experimentar, eu recomendo com o coração inteiro. Façam, criem essa rotina, não desistam. É uma das cápsulas do tempo mais especiais que tenho na minha vida. Obrigada, Inês. Juro que estou feliz.

3 comentários

  1. Tenho um diário desses (comprado na Tiger) mas que iniciei a 1 de janeiro de 2020. E todos os dias o preencho, mas eu sou bem mais básica: funciona como se fosse mesmo um pequeno diário, vou registando as lembranças de cada dia.

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  2. Nunca tinha ouvido falar mas achei super interessante. Não é para mim, pois sei que iria desistir a meio mas acho uma ideia deliciosa.
    Beijinhos
    Coisas de Feltro

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