FILMES || Os Dois Papas


Numa época muito sensível para a igreja católica, marcada por escândalos e descrença, o Papa controverso Bento XVI reúne-se com o Cardeal Jorge Bergoglio — atualmente, mais conhecido como Papa Francisco —, ambos com propostas distintas um para o outro. Eternizar os encontros entre estas duas figuras num filme não se cingiu a propósitos meramente dramáticos. Refletiu os acontecimentos insólitos que decorreram a seguir.

A transição de um Papa conservador e tradicional, como Bento XVI (após a sua renúncia ao cargo, um acontecimento inédito), para um Papa liberal e progressista como Francisco — e, mais inusitado ainda, com o aval do primeiro — consagrou-se num momento inesperado e misterioso. Ambos eram conhecidos pelas suas divergências categóricas na abordagem e visão da igreja e da fé. Os encontros revelaram-se uma tentativa do Papa Bento XVI de encontrar um ponto de convergência com o Cardeal que ele ambicionava que lhe sucedesse após a renúncia ao cargo. E assim surge, baseado em factos reais, Os Dois Papas.

A minha relação com a fé é um processo ad aeternum em construção mas admito que a minha relação com qualquer igreja é mais objetiva: distante. Reconheço a minha ignorância face a muitos (inúmeros!) aspetos da religião Cristã — e da sua própria história — mas assisti a este filme totalmente absorvida. São mais de duas horas de longa metragem que, para mim, passaram num sopro enquanto os dois Papas conversavam, discutiam, debatiam e confessavam as suas fragilidades. O filme tem uma componente filosófica muito forte e que nos impele a discutir e refletir a nossa própria visão. A prestação — e caracterização — de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce é sublime e faz jus às duas figuras que representam. Os dois Papas são expostos com mais humanidade e menos divindade sem que isso lhes retire a dignidade ou a meritocracia dos seus cargos.

São poucos os filmes que me fazem sentir que preciso de voltar a assistir e prestar atenção a outros detalhes, mas Os Dois Papas é um exemplo perfeito dessa necessidade. Com uma fotografia sublime mas uma cinematografia um pouco mais fraquinha, este é um dos poucos defeitos que encontro na produção. Numa atualidade cada vez mais intolerante para divergências de opinião, onde a discordância gera conflito e ostracismo ao invés de aprendizagem e debate, é incrível existir uma obra que nos mostra que duas figuras com visões absolutamente discrepantes podem convergir, admirar-se e criar laços de amizade.

4 comentários

  1. Adorei este filme, mesmo! Gostei imenso da personagem do Bergoglio, alegre, simpático e sempre tão bem humorado, gostei muito de ver os contrastes tradicional/reformista e evolução da conexão entre ambos. Muito bom :)

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  2. Quero muito ver este filme! Não só pelo incrível Anthony Hopkins, mas porque tem uma proposta invulgar e todas as opiniões alimentam ainda mais a minha curiosidade a respeito dele! :)

    Não Digas Nada a Ninguém

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  3. Este filme está em toooodo o lado!! :o Curiosa como sou em relação a todo o tipo de assuntos, já o tinha adicionado na minha lista, mas agora como falaste dele - tens uma capacidade incrível de nos motivar a ver e a fazer coisas!! -, não o posso deixar perder!! :P

    Beijinhos,

    LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO - PODCAST

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  4. Eu adorei este filme! Grandes dois actores, muitíssimo bem caracterizados e que trazem ao público um pouco dos bastidores daquilo que não se vê no Vaticano.
    Muito bom mesmo!

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