BLOGOSFERA || Estou Desmotivada, E Agora?


Nos últimos tempos, tenho recebido algumas perguntas — e desabafos — sobre desmotivação na hora de criar conteúdo. Mais especificamente, a ausência de retorno. Como continuar a trabalhar com vontade quando parece que ninguém está interessado no que temos para comunicar?

A partilha digital tem sofrido transformações rápidas e drásticas ao longo das décadas e isso reflete-se na nossa própria postura a criar conteúdo — seja onde for; há uns anos, a perspetiva comercial estava fora de questão e o conceito de rede ainda era muito real. Não que se tenha perdido completamente mas surgiram novas formas de consumir este conteúdo — a própria palavra denuncia-nos: já não estamos em rede, somos consumidores.

Acompanhados pelas transformações digitais, surgiram também uma série de possibilidades rápidas, embora quase impessoais, de mostrar para o outro que a sua partilha não nos deixou indiferentes; um like, por exemplo. Dura dois toques de polegar. Pouco ou nada exige e torna-se feedback instantâneo. Mas não há likes nos blogs. Há formulários para comentar que exigem preenchimento além de escrever qualquer coisa. Não é uma caixa de comentários simplificada e intuitiva como temos no Instagram. É um formulário que não muda desde, pelo menos, 2008. A preguiça fala mais alto. É mais fácil ler e apreciar em silêncio, esquecendo-nos que o produtor do conteúdo não desconfia que gostámos, que não nos deixou indiferentes, que agregou algo à nossa vida. Eu própria sou culpada.

Onde quero chegar? Que é natural desmotivar. Mas que é também um reflexo da nossa ânsia por feedback instantâneo. E criar conteúdo é um desafio que leva muito tempo a colher frutos.

Como em quase todos os desafios da vida, não há um grande segredo para vencer a desmotivação a não ser contrariá-la com inspiração e vontade de criar. Não estou a ser hipócrita: adorava que o feedback dos meus conteúdos refletisse o meu esforço e dedicação mas a minha postura nunca foi a de cobrar — ou comparar com o sucesso dos outros — porque não me faz sentido. Quero, isso sim, oferecer mais para ter mais razões para merecer um bom feedback (que é tão gostoso!).

Lembrar por que razão começámos. Quando comecei a criar, sabia perfeitamente o número da minha audiência: um redondo zero. Mas mesmo assim eu quis fazê-lo. Claro que tinha perspetivas de criar uma comunidade de leitores mas algo mais me move: comunicar, partilhar, quiçá inspirar. Tenho muito presente a ideia de que, tal como muitas vezes sou uma leitora silenciosa, outros tantos também serão. Devo muitos agradecimentos a bloggers, youtubers, criadores de conteúdo que me reconfortaram em momentos difíceis graças aos seus conteúdos. Que me desanuviaram, inspiraram, mudaram a minha vida graças às suas dicas, reflexões, partilhas. E eu limitei-me a consumir. Parece irreal mas o mesmo acontece com o nosso próprio conteúdo.

É desconcertante quando temos um conteúdo que nos deu o maior dos trabalhos, que exigiu investimento de tempo e dedicação a ser esquecido no arquivo. Mas não foi. Alguém leu, alguém gostou, alguém se inspirou, alguém agradeceu por dentro este conteúdo ter surgido precisamente no momento em que a pessoa mais precisava de escapar, por uns momentos, à realidade. Não é arrogância ou prepotência; isto existe e é real. Só que nem sempre vamos sabe-lo. Resta-nos lembrar por que começámos e aceitar que nem todos os nossos momentos a criar são repletos de ideias e fases de sucesso. Por vezes, o melhor a fazer é dar descanso ao nosso projeto, falar com outras pessoas, conhecer novas coisas e voltar com ideias e com vontade de partilhar de novo. Porque é isso que nos move e nos cativa. E talvez olhemos para estes momentos de desmotivação como uma oportunidade para despirmos a pele de leitores silenciosos e reagirmos aos conteúdos que consumimos e não nos deixam indiferentes. Porque não há maior gesto de empatia do que nos lembrarmos que, provavelmente, o outro também pode estar a pensar que ninguém valorizou um conteúdo que gostámos tanto.

12 comentários

  1. Eu faço parte dessa categoria de leitores silenciosos mas este texto deixou-me a pensar. Realmente tens razão, era bom receber um pouco de feedback de quem lê/vê os conteúdos... Aproveito então para dizer que adoro o teu blog e leio as tuas publicações há já algum tempo!! Bom trabalho, Inês 😊

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  2. E já agora 😅 Adoro o teu novo corte de cabelo, fica-te mesmo bem!

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  3. Concordo com cada palavra. Acho que todos chegámos já a duvidar do nosso potencial pela falta de feedback. Faz parte. Os tempos mudam e temos de nos adaptar à nova realidade da internet. E é uma pena que a própria plataforma não se reinvente e se adapte à realdade atual também. O Blogger há muito que deixou de ser apelativo para os leitores, acho que os criadores de conteúdos daqui merecem o mundo porque continuam a apostar nisto e a dar vida aos cantinhos da melhor maneira que podem.

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  4. Que coincidência. O meu artigo do blog esta semana também foi sobre a falta de feedback que abunda no meio da criação de conteúdos, apesar de numa perspectiva diferente. Deixo aqui o link porque acho que poderás ter interesse. Eu, como sou criadora de conteúdos, para além de consumidora e sinto também essas dores, então tento sempre interagir genuinamente e dar feedback, porque de facto faz toda a diferença :)
    http://ilhoa.pt/2019/09/17/apoiem-os-projectos-dos-vossos-amigos-e-conhecidos/
    Beatriz de Ilhoa.pt

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  5. Este post comeveu-me imenso! Estava a precisar de ler isto. Infelizmente, as pessoas pouco lêm blogs, o que me entristece imenso. Gostava de ter mais leituras, comentários e retorno das pessoas e sei que torna-se difícil na época de hoje, onde tudo é mais automático como disseste. Beijinhos xx

    Breeze Of Beauty  |  Instagram   |   Canal do Youtube   ♡

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  6. Este texto disse tudo o que andava a refletir há uns tempos. Leitores silenciosos. Consumimos sem dar feedback e inconscientemente esperamos que os outros nos consumam em "outloud mode".
    Parabéns pela capacidade refletiva, Inês! E estás giríssima, boa aposta no novo look :)

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  7. Neste momento encontro-me numa fase em que estou tão entusiasmada para criar conteúdo que se calhar não me estou a importar tanto com isso, é mais para ficar registado. No entanto, já me encontrei muitas vezes na situação onde eventualmente esse entusiasmo se desvanece com a falta de feedback
    Tenho notado um crescimento dos leitores silenciosos nos últimos anos aqui na blogosfera, mas confesso que é algo que já me incomodou mais. Como disseste, enquanto criadores acabamos por estar dos 2 lados: somos leitores silenciosos e temos leitores silenciosos.
    Acho que podemos ou aceitar esta mudança (referente ao crescimento do número de leitores silenciosos) ou se calhar arranjar outras estratégias que agradem mais ao público "consumidor"

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  8. Já ha muito que não vagueava pelo mundo dos blogues. Mas, realmente, agora que regressei ao meu cantinho apercebi-me da diferença por estas bandas. O blog já não é o que era. Tantos blogues incríveis que eu seguia e que agora estão "abandonados" e os blogues que continuam activos têm muito pouco feedback dos respectivos leitores. Este texto retrata perfeitamente a realidade dos últimos tempos nesta rede!

    https://glamourandsparkletrends.blogspot.com/

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  9. Muito obtigada por estes palavras!
    Eu, sendo muito pequenina nisto, já sinto esse peso todo e sei bem o que é essa desmotivação! Acabei de voltar ao blogue porque precisei de um tempo afastada da frustração que sentia.
    Gosto muito do teu cantinho e espero que continues!

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  10. Ando numa fase de desmotivação que dura já alguns meses (4 meses se não estou em erro) e sinceramente não sei bem o que fazer porque quando tento contrariar notasse que o resultado final foi algo que saio sobre pressão e não gosto, no entanto também não tenho uma solução melhor...

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  11. Apercebi-me de que, anualmente, há uma altura em que sinto uma grande necessidade de me renovar, e isso implica deixar de lado muitas coisas de que gosto, incluindo o blogue. Nunca deixo de pensar nele, é certo, mas quando reconheço não ter a energia total e necessária para dar tudo por ele, prefiro deixá-lo descansar e, consequentemente, descansar a minha cabeça. Consumir outros conteúdos, dar um certo feedback - peco bastante por não fazê-lo, por exemplo, no YouTube -, retomar certas rotinas que me ajudarão a estimular o pensamento... Deixar de ter medo destes buracos criativos, deste engenho, também é bastante importante, para que possamos dar uma certa abertura aos nossos próprios objetivos! Nada como nos aconchegarmos num novo casulo e dar lugar a uma nova borboleta! 💫

    Há imenso que não te leio, confesso, e penso ter recomeçado pelo texto ideal!! Beijinhos, Inn!

    LYNE, IMPERIUM BLOG

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