BLOGOSFERA || 'Como vais?'


Há uns tempos, uma antiga colega de faculdade enviou-me uma mensagem. Foi uma notificação inesperada mas que trouxe uma sensação reconfortante de saudade e lembrança. Tínhamos muito carinho uma pela outra mas a conclusão da licenciatura e da rotina conjunta, a vida a acontecer e os rumos diferentes afastaram-nos de uma forma natural. Já não sabia dela há algum tempo e fiquei contente com a aproximação. Queria saber como estava, se estava feliz, realizada, quais eram as novidades. Mas saí surpreendida. Do seu lado, tive como resposta “Já sei que estás bem, que estás a fazer A, B e C. Vou lendo o blog e acompanhando as redes!”.
 
Esta resposta — sincera e lisonjeadora, por sinal — fez-me refletir um pouco sobre como os outros interpretam a nossa exposição online. É inegável que o facto de ser mais ativa em algumas redes sociais e de manter um blog com conteúdos que orbitam a minha vida faz com que me exponha mais do que alguém que não crie conteúdos online ou que até tenha pouca expressão em redes sociais. É natural. E embora existam muitas formas de nos expormos e de expormos conteúdos, já conheço o meu percurso o suficiente para saber que 1) sou extremamente ponderada com aquilo que publico em qualquer canal digital; 2) raramente tiro ilações sobre o que os outros publicam.
 
Eu escolho o que quero publicar no meu blog ou nas minhas redes mas isso não é uma janela aberta para a minha vida — mesmo que possa parecer. E esta é uma regra que funciona para praticamente todos os utilizadores de meios digitais. A sensação que fica é de que, como tenho um planeamento de conteúdos regular, muitas pessoas que estimo — ou com quem me cruzei em vários caminhos académicos/profissionais — têm a ideia de que sabem tudo o que se passa: se estou bem, o que estou a fazer, em que fase de vida me encontro, as novidades.
 
Uma das melhores partes de um reencontro — entre amigos, colegas, conhecidos — a meu ver, é o ‘como vais?’. Esta é uma pergunta que nunca será superficial para mim (embora eu saiba quando o estão a ser comigo): eu gosto genuinamente de saber. Mas também gosto que seja uma troca pessoal, fruto de uma pergunta, de um interesse genuíno de bom fundo, e não de uma interpretação digital. Esta é, provavelmente, uma das coisas que mais perco por escrever num blog e uma das maiores desvantagens de o manter: muito pouca gente pergunta como vou porque julgam saber. Tenho perceção de que muita gente que conheço e estimo, a quem pergunto como vão, não tem essa iniciativa porque saciam essa curiosidade através do digital.
 
Este artigo não tem como objetivo vitimizar-me nem tem uma mensagem subentendida — creio que é importante deixar este ponto claro. Não tenho o menor rancor nem mágoa por isto acontecer porque é uma consequência de criar algo que eu amo — e eu amo este blog. É um facto que encaro com uma curiosidade quase cientifica (porque acompanhar um blog realmente traz uma sensação de proximidade e empatia pela pessoa) e que me faz questionar se outras pessoas com blog sentem o mesmo. Vocês sentem que o vosso círculo próximo e afastado de pessoas acha que já sabe tudo o que está a acontecer? Acham que têm mais curiosidade em perguntar ‘como vais?’ do que quem está do outro lado? Estou sozinha nesta reflexão?
 
Para mim, faz sentido finalizar este artigo com o reforço de que o digital é uma extensão do mundo offline mas que não é um espelho da vida de quem cria conteúdo digital. Também não é uma farsa — sou o que sou fora e dentro do digital, não vejo porque mudar — mas é controlado tanto quanto nos é possível. Talvez seja um cliché, mas há momentos, ocasiões e sensações que nem sempre cabem num post, num artigo, numa fotografia, num story. Bons e maus. Normalmente, são esses pequenos momentos engarrafados que ficam guardados para quem tem a audácia de nutrir uma relação (seja ela de que ordem for). As relações nutrem-se de forma bilateral. E ser um espectador — embora me deixe muito lisonjeada pelo meu trabalho — não me ajuda a percecionar que estamos a nutrir uma relação. 

5 comentários

  1. Eu não sinto isso talvez porque no meu blog não falo muito diretamente de mim, não sei. Também muitas pessoas que conheço não acompanham o blog, até por falta de iniciativa minha para o divulgar.
    De qualquer das formas, se te sentes bem com o que fazes, o julgamento dos outros não te deve moldar, haverá sempre quem pense que sabe da nossa vida até por nos verem passar na rua, deixa para lá e segue em frente :)
    beijinhos e bom fim de semana
    Coisas de Feltro

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  2. Aquilo que dizes faz todo o sentido. É muito fácil assumir que sabemos tudo sobre a vida de uma pessoa pelo que vemos nas suas redes mas na verdade não é bem assim!

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  3. Não sinto isso porque as pessoas próximas de mim não acompanham o meu blog. Provavelmente isso acontecerá mais pela minha conta do Instagram, mas mesmo assim, nunca falo muito de mim, além do mais básico. Mesmo assim, sei que o que partilho dá para ter uma ideia vaga de como estou ou o que estou a fazer. E acredito que essa informação vaga é suficiente para a generalidade das pessoas. Sinto que importa cada vez menos ir ao fundo das questões e talvez seja por isso que as pessoas vão tirando os seus "juízos de valores" com o pouco que partilhamos. Vêm-nos como querem, não como somos.

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  4. Percebo perfeitamente o que queres dizer. No meu caso, a regularidade com publico no blog, por exemplo, não quer de todo dizer que está tudo bem comigo, até porque o blog para mim é também como um escape aos meus momentos de ansiedade.
    Tal como tu, acho que há muitas pessoas que não conseguem fazer a distinção entre o digital e a vida real e às vezes isso pode ser tóxico.
    Beijinhos,
    Six Miles Deep

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  5. Que texto perfeito!!!!
    Concordo plenamente que de alguma forma a nossa vida pessoal fica de alguma forma entrelaçada as redes sociais só que isso é apenas um recorte, nunca é um todo, não é algo completo que vivemos e é impossível acompanhar a jornada de outra pessoa apenas por uma telinha.
    Beijos.



    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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