Salzburg Postcards


O comboio deixou-nos na estação de Salzburgo, as nossas mochilas a carregar música no coração e a bagagem de uma viagem curta. Fomos recebidas com um tempo carregado, cinzento, alegremente compensado pelos coloridos trajes tradicionais, cada um simbólico de uma região diferente – que não saberíamos identificar, mas que não nos impedia de admirar. Salzburgo estava em festa e nós, sem o saber, tínhamos aceitado o convite. 




Embora fosse a minha primeira vez na cidade, Salzburgo marcava as minhas referências e memórias musicais. No meio do caos organizado das vozes entusiasmadas, das pessoas nas praças e dos pequenos pingos da chuva, fiquei parada a olhar para o monumento dedicado a Mozart, compositor onde Salzburgo foi casa. Tanto estudei as suas obras que me parecia estar frente a frente com o meu mestre, enfim. 




Estávamos acompanhadas por um local, emprestando-nos as lentes para vermos o lugar aos seus olhos – não sem, de vez em quando e sorrateiramente, baixarmos a armação para observarmos a cidade à luz da nossa visão.




Onde é filmada a cena do Do-Re-Mi
De Salzburgo, guardo-lhe um postal organizado de casas pitorescas, igrejas impressionantes e letreiros sem letras que, hoje em dia, já não precisam de sinalizar nada, mas que nos transportam para a época em que foram protagonistas, cada um com símbolos que representam a sua atividade comercial. No chão, os símbolos são outros; as pequenas placas douradas indicam – e homenageiam, lembram – aqueles que foram expulsos das suas casas durante a II Guerra Mundial e torturados, assassinados, em campos de concentração. Não é necessária muita atenção – na calçada escura, as brilhantes placas douradas destacam-se, numa solene constelação melancólica. 





No nosso passeio, recriámos as cenas que fizeram parte do nosso imaginário na Música no Coração e saboreámos a energia pulsante da cidade. O cansaço era evidente, mas a trégua da noite limpa motivou-nos a conhecer aqueles que são os Santos Populares de Salzburgo. As pequenas barraquinhas de comida típica nas praças celebram os sabores da região, uma língua universal gastronómica que nos leva pela história de cada lugar através das receitas. Ainda não entendo alemão falado a correr, regado a álcool e com pronuncia – a minha expressão confusa quando fui elogiada pela minha escolha ao jantar assim o comprova -, mas acredito que nos tornamos fluentes quando provamos os pratos históricos uns dos outros. 



Onde foi gravada a cena em que estão escondidos no convento. O convento onde a verdadeira Maria Von Trapp se encontrava também pode ser visitado, mas apenas por mulheres.
São mais as coisas que nos aproximam do que as que nos separam, não precisamos de atravessar fronteiras para o aprender, mas compreendemo-lo melhor. As músicas não são as mesmas, mas a alegria com que são cantadas sim. Os santos mudam de nome, mas não de significado para quem neles aloja a sua fé, a sua crença. As comidas não são iguais, mas o cheiro nas ruas é familiar, a sua base é a mesma: a dos que passaram fome e precisaram de criatividade para inventar com o pouco que havia. 





Quando partimos para o destino seguinte, de manhã, as ruas estavam em sossego, mas nas minhas amigas sobrou a inquietação de quem quer voltar a um lugar e ver outra vez, ver melhor. Não partilho com elas o desconsolo – sinto que Salzburgo encheu as minhas medidas à primeira. Entrei no autocarro que nos levaria para a próxima aventura com vontade de seguir em frente, satisfeita.

1 comentário

  1. Adorei este post. É uma das cidades europeias que quero muito visitar. As tuas fotos estão magníficas.
    Beijinhos

    ResponderEliminar

Partilha comigo o teu comentário ou opinião sobre este artigo. Sempre que possível, respondo às perguntas diretamente no comentário. Obrigada por estares aqui :)

Desde 2014

Instagram


P.S: HÁ SEMPRE BOAS NOTÍCIAS AO VIRAR DA ESQUINA
_______________________
Bobby Pins. Theme by STS.