LIVROS | Fevereiro em 3★


Starter For Ten 
Gostei tanto da escrita de David Nicholls em Um Dia que decidi aventurar-me num segundo livro da sua autoria. Starter For Ten refere-se ao University Challenge, um concurso de trívias no Reino Unido pelo qual o nosso protagonista, Brian, é aficionado (por uma série de razões que vamos desvendando ao longo da leitura). 

Brian é o típico unreliable narrator que se tem em alta consideração: embora esteja a navegar pelo 1º ano de faculdade, julga-se mais maduro do que os outros rapazes e idealiza uma vida (pessoal, mas, principalmente, romântica) que o leitor já sabe de antemão que é vítima de uma inocência pura de quem ainda não esfolou vezes suficientes o joelho. E eu adorei essa inversão de papéis, o facto de o autor colocar mais experiência e maturidade do lado do leitor do que do lado da personagem. O próprio livro tem observações e acontecimentos muito cómicos, já para não falar de reflexões interessantes que têm ganho mais notoriedade agora (o que é curioso, já que o livro é de 2003). 

Mas, então, o que falhou? Na minha opinião, o arco. Embora o livro tenha 400 páginas, a narrativa desacelera ao longo do livro ao ponto de não ter um momento de redenção ou amadurecimento da personagem – o que me parece quase injusto, tendo em conta tudo o que acontece no livro. Um outro detalhe que não gostei foi o consumo preocupante de álcool da personagem. Embora a cultura britânica ainda normalize muito os excessos (principalmente se a personagem é estudante universitária), achei que alguns dos episódios roçavam mais os primeiros traços de alcoolismo do que apenas um jovem a contabilizar mal os copos durante uma saída com amigos. Tinha potencial para ser um livro melhor, no fundo. 


The Pursuit of Love 
Fiquei totalmente rendida pela capa, mas foi um dos casos em que não correu bem. The Pursuit of Love acompanha a história e amadurecimento de Linda, filha de uma abastada família inglesa que tenta navegar entre as expectativas sociais que se esperam de uma mulher nos anos 30 e as suas próprias aventuras amorosas, tudo isto com a sombra da II Guerra Mundial a aproximar-se. Embora a premissa seja muito interessante, não me conectei de todo com a escrita. Para um livro tão curto e conciso (embora seja, na verdade, o primeiro de uma trilogia), demorei mais do que o razoável para o terminar porque o recurso estilístico de Nancy Mitford não me conquistou. 


One Italian Summer 
Katy inicia a sua viagem rumo à Costa Amalfitana no pior dos contextos: para além de estar numa fase de rutura com o seu marido, processa também o luto pela morte da mãe, com quem estava programada esta viagem. Pelo significado do destino para a mãe, Katy decide avançar com a viagem, ainda que a solo, e é entre dias luminosos, limoeiros e pratos de massa que encontra duas pessoas completamente inesperadas e que tornam a sua aventura inesquecível e surreal. 

Se procuram o livro perfeito para o verão – daqueles que se divide entre mergulhos ou leituras ao pôr do sol antes de um jantar marcado – este é o livro que podem escolher de olhos fechados. One Italian Summer tem o clima maravilhoso dos dias despreocupados de verão e o sabor especial de Itália (aliás, daria quatro estrelas sólidas pela capacidade da autora nos transportar para as ruas íngremes e pitorescas de Positano). No entanto, não foi um favorito de Rebecca Serle, deste lado. Choquei muito com a protagonista (incapaz de estar sozinha, muito centrada em si própria e com laivos de egoísmo) e achei, várias vezes, o plot incongruente, o que não me deixou convencida com a rapidez com que se chegaram às conclusões da narrativa. Aliás, todos os momentos finais pareceram-me construídos com papel molhado. Embora as massas e pizzas sejam os pratos adorados de Itália, houve momentos em que esta história pareceu mais uma salada e, por isso, não foi uma experiência linear e tão sólida quanto esperava. 


Cada Verão Passado
E já que falamos de leituras de verão, esta é mais uma sugestão segura: em Cada Verão Passado, acompanhamos Persephone e Sam, dois adolescentes que vivem em cidades diferentes e que têm a típica dinâmica de amizade de verão. No entanto, algo (que é o verdadeiro mistério de toda a trama) os separa e, 10 anos depois, voltam a confrontar-se. 

Cada Verão Passado é o livro perfeito para a nostalgia das férias de verão, onde os dias eram intermináveis e despreocupados, com mergulhos no lago, amigos especiais e amores de verão. Sim, tem detalhes na narrativa muito irrealistas, superficiais e até, por vezes, irritantes, mas não deixa de ser uma história que nos envolve e que se lê num sopro, sem precisar da nossa atenção total ou de muita disponibilidade emocional. É ideal para ler entre mergulhos ou numa tarde de espreguiçadeira. 


A Minha Avó Pede Desculpa 
“Imagina o ‘Aqui Não Há Quem Viva’ mas sem a comédia barata, num prédio sueco e com camadas mais profundas” foi a minha tentativa de resumir A Minha Avó Pede Desculpa a uma amiga e, embora pareça rebuscado, não acho que esteja muito longe da realidade. 

A Minha Avó Pede Desculpa apresenta-nos Elsa, uma criança de 7 anos, neta de uma avó que desafia a sua idade num paradoxo entre a inconsequência e a sensatez. É com o falecimento da avó que descobrimos não só o impacto que a ‘Avozinha’ teve na própria neta, como nos vários inquilinos do prédio onde morava. 

Aquilo que mais gostei N’A Minha Avó Pede Desculpa foi a característica que me parece ser apanágio do autor: a sua capacidade de mostrar que cada personagem secundária é a protagonista na sua história (como na vida real) e que determinados comportamentos, escolhas ou diálogos que vamos testemunhando no plot principal só são compreensíveis se conseguirmos entender a história da respetiva personagem.

Ao longo da leitura, vamos criando empatia com as personagens e com a trama, no entanto, há uma componente de fantasia que não me prendeu e que impactou o meu ritmo de leitura e o próprio proveito da experiência.


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Já leram algum destes livros? O que acharam deles?

1 comentário

  1. ADORO como decidiste criar uma rubrica literária em torno de livros 3✨, sob o teu ponto de vista. Falas deles, talvez não com a profundidade que um artigo único faria, mas não deixas de os mencionar. Pois fizeram parte de ti e também merecem destaque. Muito bem! 👏

    O único livro que li de David Nicholls também foi "Um dia". Nunca o terminei (fiquei a umas 20/30 páginas de o concretizar) porque vi o filme nessa reta final e confesso que perdi a tesão, tendo em conta o desfecho 🥹😂
    Outro dele que quero muito ler é o "Us". Tenho-o no Goodreads há algum tempo, quem sabe se não o mando vir futuramente.

    Sobre os restantes, nunca tinha ouvido falar. Porém, adorei a sugestão de leituras de verão, que demandam essa descontração. Obrigada! 🩵

    Beijocas,
    Lyne, Imperium Blog

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