O Rouxinol


O Rouxinol foi a minha escolha de leitura depois de vários meses de abstinência de qualquer história ou livro relacionado com a II Guerra Mundial. A obsessão em capitalizar o sofrimento e em alimentar uma obsessão quase sádica a um momento muito, muito triste da História fez com que precisasse de fazer um reset para poder, então, pegar nesta história – muito aclamada pela crítica. 

O Rouxinol apresenta-nos duas irmãs e é através delas que acompanhamos o desenrolar da guerra: Vianne e Isabelle não podiam ser mais distintas – na sua forma de agir, pensar e manifestar – e, por isso, observamos dois lados muito diferentes da ocupação Nazi na França através daquilo que ambas tiveram de suportar e gerir (em escalas e dinâmicas, tal como elas, totalmente diferentes). Vianne vive com a sombra do medo do marido ter sido levado para combater e com o inimigo, literalmente, dentro que casa. A sua subtileza e compaixão trabalham a favor dos princípios que leva na sua consciência. Já Isabelle é reativa e incapaz de observar toda a crueldade e insanidade de uma guerra de forma modesta e prudente, pela causa maior da proteção das vítimas e da paz. Ambas, no fundo, querem o mesmo, com meios diferentes. 

Este elemento foi o que mais gostei na história, a par do facto de ser centrado nas figuras femininas – uma homenagem a tantas mulheres que fizeram a diferença nesta época e que foram completamente apagadas dos manuais. É também uma visão diferente da guerra, na perspetiva de quem viu o seu país ceder e ser ocupado por um regime com o qual não se identifica – e rejeita, mesmo. A par de uma narrativa muito dinâmica e fluida, fez com que O Rouxinol fosse rápido e envolvente de ler e com ângulos frescos numa narrativa saturada. 

Mas… tenho pontos negativos fortes e que me fizeram terminar a leitura com uma sensação muito agridoce. A mais óbvia é a clara incoerência temporal desta história – algo que, se estiverem a par cronologicamente com os acontecimentos da II Guerra Mundial, é impossível ignorar. Há licença poética para fazer os ajustes necessários para a narrativa? Bem, sim, mas neste contexto, achei de mau gosto – a par de uma certa vitimização de uma personagem (que não faz o menor sentido tendo em conta o cargo que ocupa) e que me fez desenvolver repulsa genuína para determinados capítulos. Sinto que foi tão desperto em alguns assuntos e tão ignorante noutros que a conclusão mais lógica é que a ignorância seja propositada e, em pleno 2022, não se pode ser condolente com isto. 

A par disto, embora a narrativa seja, de facto, dinâmica e envolvente, a escrita necessitava de uma revisão urgente. Há incongruências não só históricas, mas das próprias personagens (nas idades, na coerência do clima, a direção que os personagens estão a seguir – a sério, às vezes parecia que estava a testemunhar um bug do The SIMS - e até o próprio poder financeiro das personagens é incoerente), o que torna a leitura um pouco desconfortável em alguns momentos (e não no sentido poético). 

Algumas críticas falam da violência gratuita presente no livro, e sobre isso não consigo ter uma posição concreta – principalmente porque é uma história que se passa num período bélico e com grandes demonstrações de crueldade. O que acho que aconteceu foi que a autora transformou O Rouxinol numa história tão romantizada, tão melodramática, que quando se lembrou que tinha de referir a guerra pura e dura e a crueldade do regime Nazi, tudo caiu a seco, sem harmonia. Para mim, os contras foram mais fortes que os prós e concluí que não recomendaria esta leitura a quase ninguém – sinto-me até um pouco embaraçada de dizer que li, de tão mal embrulhado que resultou. Que sirva a review para eu poder justificar que li para que vocês não tivessem de ler.

3 comentários

  1. Não conheço, mas parece interessante. 😃

    ResponderEliminar
  2. Respostas
    1. Que parvoíce, é o que dá não fazer pausas... Muito obrigada pelo alerta, Inês, já está corrigido :)

      Eliminar

Partilha comigo o teu comentário ou opinião sobre este artigo. Sempre que possível, respondo às perguntas diretamente no comentário. Obrigada por estares aqui :)

Desde 2014

Instagram


P.S: HÁ SEMPRE BOAS NOTÍCIAS AO VIRAR DA ESQUINA
_______________________
Bobby Pins. Theme by STS.