Numa das minhas manhãs lentas de fim de semana, onde não me parece que exista algo melhor e mais reconfortante no mundo do que um ótimo sofá, uma chávena quente de chá e umas torradas com manteiga, fui ao Youtube para uma sessão de vídeos simples, à moda antiga, descontraídos e que me inspirassem para o dia. No topo, e porque o algoritmo sabe o que faz, estava o mais recente vídeo da minha youtuber preferida, mas o sentimento foi ‘não me apetece ver’. Surpreendida comigo mesma, fui atrás do canal e procurei o último vídeo que tinha visto: há mais de 4 meses.
Crescer e passar por mudanças traz aprendizagens duras, mas nem todas são assim: algumas são mais subtis e inócuas, como quando percebermos que um criador de conteúdo que adorávamos já não conversa connosco.
Para mim, nunca chega a existir uma mágoa ou revolta porque talvez nunca exista a idolatração em primeiro lugar: idolatro muito pouco quem não conheço e personalidades da internet não são exceção. Mas é inegável que os nossos criadores de conteúdo preferidos trazem-nos alguma forma de conforto, inspiração e até aspiração.
É muito curioso porque, ao contrário de personagens fictícias, que nós adoramos e permanecem imutáveis no tempo, os criadores de conteúdo também crescem, amadurecem e mudam - afinal de contas, são humanos! E acho caricato que nem mesmo quando acompanhamos youtubers, influencers, criadores, tenhamos uma relação paralela e forte para sempre. Porque entramos em fases de vida diferentes, mudamos de perspetiva e deixamos de a sentir tão alinhada com a que eles comunicam ou porque acumulámos experiências diferentes que nos moldaram para formatos que já não se complementam, não conversam.
Parece que falo sobre uma relação entre amigas, mas a verdade é que nem todos nós estamos plenamente cientes de que os nossos criadores de conteúdo preferidos poderão não o ser para sempre - até porque esta é uma forma muito recente de acompanhar pessoas, na nossa geração. Não é assim tão incomum interpretar um crescimento natural e uma divergência de caminhos como ‘este youtuber já não me diz nada e passou a fazer conteúdo mau’. Isso não é necessariamente verdade. Não nos identificarmos mais com o conteúdo – ou com o novo rumo que o conteúdo está a tomar – não significa que ele se tenha deteriorado. Significa que seguiu outra abordagem, outra linguagem e já não temos a mesma disposição para a acompanhar. E tudo bem. Estar alinhado com um conteúdo não tem de significar que tenha qualidade. Significa apenas que conversa connosco.
Numa escala muito mais microscópica, mas pessoal, também eu, enquanto blogger, reparo nisto – sem mágoa! Afinal de contas, ao fim de 8 anos, já foram muitos os leitores que fizeram deste espaço casa para, um dia, sair e deixar a chave para trás. Em algum momento, deixámos de nos alinhar e de conversar um/a para o/a outro/a e está tudo bem. Estamos todos a crescer e a acumular experiências, bagagens e aspirações diferentes nos nossos caminhos. Nem sempre serão paralelos, às vezes são bifurcações – sem promessa de reencontro lá à frente.
Deixar de seguir, deixar de acompanhar nem sempre é um gesto de revolta. Às vezes é um adeus, um abraço de obrigada por tudo aquilo que trouxe no momento certo, no conteúdo certo. Há mais conteúdo para descobrir e mais pessoas para nos alinharmos. Sem ressentimento nem dó.
Adorei este texto e revi-me nas tuas palavras. Há coisas que com o tempo simplesmente deixam de fazer sentido.
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