Depois de uma leitura muito pesada e com uma história densa, quis aproveitar uma tarde de sol no jardim para mergulhar num livro mais curto, mais simples. Home Body, por estar mais à mão, foi a escolha.
Talvez seja importante começar por endereçar que tenho as minhas questões com a Rupi Kaur. Por um lado, acho que ela abriu portas para alguns leitores terem o seu primeiro contacto com a poesia e com a sensibilidade poética. Não consigo concordar com as visões um pouco exageradas – por vezes, elitistas – de que o que ela faz não é poesia, ou que é uma escrita simplista com quebra de linha. Dar a mão aos leitores e levá-los ao mundo (por vezes assustador, inacessível e datado) da poesia é de louvar. A modernidade da literatura passa por diferentes abordagens e a poesia não pode ficar para trás. A sensibilidade poética tem vários contornos, alguns mais suaves e óbvios que outros. Neste ponto, acho que é inequívoco para mim que a Rupi Kaur tem sensibilidade poética e deu o seu contributo pela popularização da poesia numa geração de leitores que a temia.
O meu eterno conflito com esta autora é: quanta dessa sensibilidade poética é sua? Rupi Kaur tem sido sucessivamente acusada de plágio, algo que, sendo eu uma pessoa que escreve (mesmo não sendo uma autora) e que produz conteúdo, inflige uma certa revolta. Ao acompanhar os casos, há sempre uma componente derivativa que protege a Rupi Kaur legalmente, mas moralmente sinto-me muito dividida.
Ainda assim, Home Body veio parar às minhas mãos e foi uma leitura rápida, tranquila e menos pesada do que os seus outros poemas. Home Body faz uma celebração do corpo, a nossa primeira casa, e da forma como ele nos acompanha em todos os momentos da vida, se transforma, se magoa e sem mantém. A forma como nós tratamos, magoamos, cuidamos, rejeitamos e abraçamos a nossa própria casa.
Achei uma premissa muito bonita e senti que as passagens procuram, em geral, empoderar quem as lê. Tem uma conotação mais positiva, mais inspiradora, mesmo que alguns dos seus poemas sejam sobre pedidos de desculpa, dismorfia e outros temas que, advirto, podem ser gatilho. Essencialmente, tem um tom de perdão, de reconciliação com o corpo e de homenagem. Tendo em conta que já li os três volumes publicados pela autora, Home Body pareceu-me ser o fechar de um arco de progresso e recuperação de traumas e idiossincrasias.
Embora os poemas sejam muito bonitos, no geral, senti que não foi um registo muito diferente das outras duas obras – embora, sem dúvida, a mensagem seja mais positiva – e esperava alguma frescura, alguma defesa das mais recentes acusações, uma Rupi Kaur que pegasse na sua arte, na sua sensibilidade e escrevesse uma obra que não despertasse a menor dúvida de que a ponta da caneta não olhou para o lado, não bebeu de nenhum outro conhecimento que não o seu. Esperava mais garra, mais alma. Senti que muitos poemas eram absolutamente lindos, mas sem vida. Sem assinatura por baixo.
É um livro lindíssimo, muito especial se também têm tido uma batalha de aceitação com o corpo, faz-nos pensar no quanto ele é bonito, capaz, único. Mas não esperem algo diferente do que a autora já lançou.
Hmm 🧐 não fazia ideia das polémicas em torno da Rapi Kaur. Nem tão pouco estava a par do seu novo livro.
ResponderEliminarQuanto ao meu corpo.... já sabes que tem sido uma jornada. Nunca me senti tão bem nele, respeitando-o através dos treinos, da alimentação, e muito recentemente, ao desmontar as minhas rotinas de descanso. 😴
Vou incluir na lista. Não sei para quando, mas que sirva de lembrete para a sua existência.
Beijocas,
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