FILMES | Os Segredos de Dumbledore


Fui à estreia de Os Segredos de Dumbledore por puro amor à saga de Harry Potter. A verdade é que estava francamente desiludida com os dois primeiros filmes – em que o 1º pecou pela história anémica e o 2º tentou ser tanto e com tantas personagens, que acabou numa salada desinteressante – e já não ia com nenhuma expectativa. Só existia uma certeza: o público não estava a gostar do rumo que os dois primeiros filmes tomaram e era fundamental pegar naquela história e dar um caminho sólido. 

E isso nota-se em Os Segredos de Dumbledore. É evidente que houve uma reunião (várias, imagino) para tentarem perceber como é que podiam pegar no ponto de partida que já tinham feito – e que já não podiam voltar atrás – e contar uma história que realmente encantasse os fãs, que fosse robusta e que não tivesse informação a mais. 

O foco, notoriamente, passa a ser para Dumbledore e para a sua relação com Grindelwald – agora protagonizado por Mads Mikkelsen – um plot que, claramente, tem muito mais pernas para andar do que a jornada do Magiozoologista (por muito que achemos as suas criaturas caricatas). 

Por gostar tanto deste universo, optei por escrever um artigo apenas para este filme e alongar-me nos parágrafos que desejar, e, por isso deixo-vos o alerta de que os próximos parágrafos podem conter spoilers

Gostava, em 1º lugar, de falar sobre os dois elefantes na sala desta produção: a ausência abrupta da personagem Tina e a troca de atores entre Johnny Depp e Mads Mikkelsen. Da primeira, é absolutamente lamentável, não chegando a ter um minuto de ecrã. A atriz revela que, devido à pandemia e aos reajustes das datas de gravação, a produção de Os Segredos de Dumbledore coincidiu com outros projetos e teve de priorizar. A dúvida é: sendo ela praticamente uma coprotagonista de uma das sagas mais populares do mundo, que outro projeto é que ela lançou onde estivesse presente e que fosse mais vantajoso para a sua carreira? O público não acredita (honestamente, eu também não) e crê que isto foi uma consequência das declarações que a atriz fez acerca de J. K. Rowling. E sendo a autora também produtora do filme, decisões foram tomadas. 

Entrando para a polémica do vilão, a opinião divide-se: se uns adoraram a entrega de Mads Mikkelsen, outros sentem saudades de Johnny Depp. Colocando todas as polémicas que resultaram nesta troca de lado, eu devo confessar que Mads Mikkelsen parece encaixar melhor no papel de Grindelwald. É certo que este vilão tinha algum carácter quase místico e que os laivos de loucura e misticismo na prestação de Johnny Depp traziam à superfície essa personalidade. Mads Mikkelsen opta por uma abordagem mais fria, mais cruel, mas também mais humana, e no meu imaginário sempre foi assim que o idealizei também. 
Existem muitas comparações entre Voldemort e Grindelwald, e o que eu adoro é que Voldemort é um vilão sem humanidade, até no seu aspeto físico. Ele atinge um padrão quase sobrenatural, um monstro. Mas Grindelwald não tem essa imagem: ele é assustadoramente humano, alguém que poderíamos encontrar na rua sem suspeitar da sua maldade. É essa característica que o torna muito mais assustador, muito mais cruel. E eu acho que Mads Mikkelsen também fez essa leitura. A prestação é soberba e acho que passou muito bem a mensagem de que ele está ali para fazer a sua interpretação própria do vilão, fechando respeitosamente o passado. 

Não é um filme perfeito. Uma vez mais, acho que ‘voaram’ desnecessariamente para inventar novos cenários e elementos num universo que já é excessivamente rico. Alguns acontecimentos não têm nada nenhuma ligação prévia, incluindo diálogos, e algumas personagens não parecem ter sentido em continuar a estar ali. Penso que é uma consequência das histórias anteriores e que desesperadamente procuraram fechar o arco de algumas personagens – e tenho as minhas sérias dúvidas de que continuem nos próximos filmes. Houve, notoriamente, uma limpeza de personagens.

Mas, a verdade é que eu gostei do filme. Não amei, não adorei, mas fiquei positivamente surpreendida e com uma nova esperança de que esta franquia ainda tenha salvação. Não se excederam no número de personagens, deixaram que a história respirasse, que diálogos bonitos acontecessem e que o filme fosse rico tanto nos acontecimentos, como nas interações entre personagens. E isso é um bom sinal de evolução. Gostei muito da prestação de Jude Law, onde identifiquei, pela primeira vez, um Dumbledore (acreditei finalmente na sua prestação e assisti a um Dumbledore ao invés de um Jude Law a fazer de Dumbledore, percebem?)

Existe algum fan service? Claro. Aquele ‘always’ fez-me revirar os olhos. Mas é também reconfortante saber que eles estão a optar por largar a mão de Harry Potter mais devagarinho para criarem a sua própria história. E, no final, fui entretida, ri e tive vontade de saber o que vai acontecer de seguida e de voltar a ver o filme. Para mim, isso é um bom sinal. 

Uma última nota: já li os livros de Harry Potter há algum tempo, é certo, mas não compreendo o buzz que se tem gerado em torno da confirmação de que Dumbledore e Grindelwald tiveram uma relação amorosa. Pareceu-me estar claro nos livros, portanto, os suspiros de espanto no cinema e os comentários que tenho visto de que ‘agora sim, temos a confirmação porque nos livros nunca ficou explícito’ deixa-me intrigada se lemos a mesma saga, onde não podia ter sido mais evidente. Estamos mesmo numa época da arte em que a personagem tem de dizer ‘eu amava-o’ para ser óbvio? 

Muitos também criticaram que a relação entre os dois era naturalmente aceite no mundo da magia e que não houve nenhuma menção ou serviço de consciencialização sobre o preconceito. Sei que não é o meu lugar de fala, mas talvez precisemos de mais filmes que encaram relações homossexuais com naturalidade, sem precisarem de fazer da relação uma bandeira e sim algo espontâneo, natural e real (como qualquer relação amorosa). Se eu fosse homossexual, acho que me sentiria cansada de ver todas as relações gay em filmes e séries como bandeiras de luta, e não algo que seja só aceite (se não o é na realidade, ainda, que a arte possa ensinar a realidade de que é possível, como já o fez com sucesso em tantos temas). Mas entendo que esta possa ser uma perspetiva de privilegiada e gostava de saber a vossa opinião.

Já assistiram ao filme? Saíram do cinema mais esperançosos ou aborrecidos?

2 comentários

  1. Engraçado, eu achei o contrário de ti - este foi o que gostei menos e preferia que o foco voltasse ao Newt e às suas criaturas, e que deixassem de lado o foco no Dumbledore. Na minha opinião, esta nostalgia HP que estão a tentar trazer de volta não está a resultar muito bem. Fiquei desapontada com este filme.

    E não tinha pensado nesse aspeto da relação Dumbledore/Grindelwald e nessa dita falta de preconceito, mas concordo plenamente contigo, embora também não tenha propriedade para falar disso. Obrigada por esta reflexão final que trouxeste :)

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  2. Não li o post todo para não ler os spoilers, mas posso dizer que estou curiosa com o filme e tenciono ver em breve! Em 2020 foi quando comece a gostar do mundo de Harry Potter. Até então, achava que detestava por uma mera experiência da leitura inicial da Pedra Filosofal quando era mais nova. Nunca cheguei a terminar o livro, achei estranho e acabei por nunca ver os filmes até 2020 tê-los visto de empreitada. Agora, tenho a saga completa para ler. 🤭

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