DAILY || Os Embrulhos


Abrir a oficina. Lareira acesa, um filme de Natal, uma chávena de chocolate quente e uma montanha de miminhos para embrulhar. Para nós, o embrulho é tão importante quanto o presente em si, e embora recebamos os mais queridos elogios quando mostramos o resultado final, uma observação com que nos cruzamos todos os anos — quer embrulhemos a papel ou em opções mais sustentáveis — é: “têm um trabalho enorme para ser desembrulhado e esquecido em segundos!”


Há algum tempo que tenho vindo a pensar nesta observação e nunca conseguia encontrar o porquê de a achar errada. Mas cada vez mais tem sido claro para mim que nem tudo o que é especial tem de durar para sempre ou ser vitalício. Há gestos muito especiais que duram o tempo que têm de durar. Às vezes, são segundos. O tempo que a pessoa leva a desembrulhar.


E se existem gestos com validade que são tão especiais e inesquecíveis, porque razão desvalorizamos o embrulho? Deixa de ser bonito ou memorável só porque não dura para sempre? Quando recebem um embrulho lindo e aprimorado, não fica na vossa memória o empenho com que a pessoa preparou o vosso presente? Porque para mim, na minha memória, fica.


É a primeira impressão que temos do gesto de dar, e é tão bonito quanto transparece dedicação…! Bem sei que o tema dos presentes — principalmente nesta época — é sensível para muitos por estar ligado a um conceito consumista, mas o gesto de dar e presentear pode-se manifestar de muitas maneiras, assim como o gesto de embrulhar. Está provado que oferecer presentes fortalece o vínculo entre quem recebe e quem dá, e uma das formas de fazer este gesto perdurar (e ficar ainda mais forte) é através de duas formas: o destinatário mostrar ao remetente de que forma é que aproveitou o seu presente, através de fotografias, vídeos ou mensagens (tem um impacto muito forte na relação!) ou através do embrulho, porque é simbólico do esforço que o dador depositou naquele gesto do início ao fim. Não é interessante que os dois momentos mais importantes do gesto de dar sejam o embrulho e a manifestação real de que o destinatário gostou do presente?


Não precisa de ter floreados, não precisa ser perfeito. Um dos presentes que mais gostei de receber do Diogo vinha em papel pardo — ele sabe que adoro — e o seu talento para embrulhar estava mais do que evidente no resultado final (pista: usou agrafos em vez de fita-cola) mas eu vi, em cada detalhe, que se esforçou à sua maneira para surpreender e para criar um embrulho bonito, à luz do que sabia e tinha à mão. Já recebi outros embrulhos que também deixaram os meus olhos a brilhar pelo engenho e talento. E é o que tento fazer com os meus: mostrar o meu cuidado e dedicação em cada pormenor.
 
Duram pouco, mas não se esquecem. E há tanta coisa especial que podia ficar encaixada nesta definição... Acho que os embrulhos são uma lição simples de como as coisas não perdem significado só porque não duram para sempre.

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