LIVROS | Little Women


Consegui a proeza de chegar à idade adulta sem conhecer Little Women: sem ter lido os livros nem ter assistido às adaptações. Quando os Oscars de 2019 tinham esta obra adaptada nos nomeados, assumi a minha curiosidade com um livro que é, para muita gente, o seu preferido. Mergulhei na leitura sabendo muito pouco sobre o enredo à exceção de que seria uma narrativa de época sobre quatro irmãs — Jo, Amy, Meg e Beth — e as suas peripécias.

Entre episódios e acontecimentos muito sóbrios, onde as irmãs vão alternando o protagonismo — tendo, no entanto, a referência da anti-heroína Jo como figura central — cada enredo tem uma mensagem moral e religiosa muito forte, mas sempre manifestado de uma forma monótona, sem climax.

Foi também durante esta leitura que me apercebi de que não tinha noção de que existia uma sequela; terminei Little Women numa (belíssima!) edição da Wordsworth Editions convicta de que aquela era a história na íntegra e, preciso de confessar, achei aborrecida de morte. Existem alguns pontos muito interessantes (a personalidade da Jo, o drama que se adensa, a dinâmica de Laurie com todas as irmãs...) mas, no geral, é uma narrativa extremamente insonsa e onde a carga moral causava-me um certo desconforto (mesmo fazendo o esforço para me recordar da época em que o livro foi publicado). Terminei Little Women sem compreender muito bem porquê o fascínio. E então assisti à adaptação de 2019 e senti-me defraudada! Todos os acontecimentos estimulantes do filme não existiam no livro! Como assim? Estava absolutamente confusa até me explicarem que existe um segundo volume desta história, Good Wives, onde a narrativa parece ganhar um rumo mais profundo e estimulante.

Embora este seja um clássico muito acessível de ler — e evoque outros tempos e outras exigências — livros onde o primeiro volume tem de servir para dar arranque ao segundo não me convencem. Vejo muitas vezes o Little Women associado ao feminismo mas senti que é uma combinação forçada. Sem dúvida que é um livro de época onde as mulheres brilham, com uma protagonista que não quer casar nem ser dona de casa (arrojado, certo?), mas o nó final é desapontante e altamente moralizador. A nota final transmite mensagem como: se não queres casar é porque não encontraste o homem certo, se não queres construir família é porque te falta maturidade enquanto mulher. E embora o casamento e a família possam ser perfeitamente feministas, deixam de o ser são embandeirados como o único caminho para uma mulher se sentir empoderada ou realizada. Valores como a castidade, humildade e subserviência são representados como elementos fundamentais para a dignidade de uma mulher. São princípios que eu compreendo na sua época de publicação, mas já não quando pautados como um livro feminista à luz dos dias de hoje (especialmente quando fazemos uma análise atenta ao livro).

Há que ter em consideração a pressão que a autora sofreu, na época, para mudar o rumo de Jo de forma a ter o seu livro publicado. Na altura, não podiam existir livros onde mulheres terminassem a sua aventura solteiras e felizes. Esta foi uma injustiça que o filme vingou e que me fez ter uma inclinação notória para a adaptação. Tenho perceção de que a minha ignorância em relação à dinâmica dos volumes também não ajudou a construir uma imagem mais sólida e fantástica desta leitura. Fico satisfeita por finalmente desvendar o véu do universo Mulherzinhas mas acho que, mais do que uma referência feminista, esta é uma obra que eu acho muito mais interessante de colocar sobre a mesa e discutir o quanto tem expectativas e imposições na mulher subterfugiadas de empoderamento (algo que, ainda hoje, encontramos no universo cultural de filmes, séries e livros).

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Bertrand

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3 comentários

  1. Ainda não me aventurei por este livro, tão falado como dizes, embora tenha lido algumas opiniões semelhantes à tua, o que certamente tem vindo a contribuir para o adiamento desta leitura. Quem sabe se 2021 será o ano para ler Mulherzinhas ;)

    Não Digas Nada a Ninguém

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  2. Não conhecia. Obrigada pela sugestão :)
    Beijinhos

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  3. Tenho esse livro numa edição antiga, já peguei nele diversas vezes mas desisti sempre porque a narrativa é meio parada e só isso não me cativa.

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