FILMES || Março • 2021



Aproveitei a programação especial Studio Ghibli, da RTP2, para me estrear n’O Mundo Secreto de Arrietty, sobre a protagonista do mesmo nome que é um ser humano minúsculo a viver secretamente com a sua família por baixo de uma casa em Tóquio. Como em quase todos os filmes deste estúdio, tem uma história envolvente e que fala de uma forma muito subtil, mas especial, sobre a morte e a amizade, e a importância de seguirmos em frente de cabeça erguida. É um filme incrível. 

Esta curta de animação para adultos é um soco no estômago. Não subestimem os 10 minutos de duração. Aborda, essencialmente o luto e o processo duro, muitas vezes cruel, que envolve a perda de uma pessoa que amamos — principalmente quando nos deixa inesperadamente e de uma forma tão desconcertante. É um tema muito sensível e melancólico, mas está representado com muito tato e é inevitável sentirmos empatia pelas personagens. Tem um final forte, desenhado ao pormenor para que nunca nos esqueçamos que, além da morte, há também um tema urgente a ficar presente na nossa memória (e na agenda política). 

Vencedor do Óscar de Melhor Atriz, A Favorita conta a história da intrigante relação entre a rainha Anne e a duquesa de Marlborough que se vê abalada com a chegada de uma nova aia que parece ganhar a preferência da rainha. Além da prestação sublime das atrizes, da fotografia e do guarda-roupa de sonho, gostei imenso de conhecer esta interpretação da história porque, de facto, estas três mulheres são figuras muito interessantes na História do Reino Unido e cada uma tem um percurso e legado individual muito rico. É curioso vê-las, assim, reunidas e interligadas, quase que oferecendo um paralelismo à sua história principal. Recomendo imenso! 

Este original da Netflix, nomeado para os Oscars, reproduz o julgamento verídico de 7 arguidos suspeitos por conspiração e incitação à violência durante uma manifestação contra a guerra do Vietname. Houve vários aspetos que me fizeram gostar bastante deste filme, sendo que o principal é que 90% do filme decorre no interior de um tribunal, ou seja, num só cenário. Este tipo de dinâmica, normalmente, necessita de uma fotografia excelente e de bons diálogos, que nos distraiam do facto de que estamos a assistir a um filme com pouca mudança de ambiente. E The Trial of the Chicago 7 consegue cumpri-lo com mestria. Tem uma narrativa muito simpática de acompanhar e realmente envolve os espetadores, deixando-nos investidos na história. Tem um foco essencial no racismo e na opressão velada pelo sistema, dois aspetos retratados no filme de uma forma desconcertante e que nos deixa inconformados. Por outro lado, tem um toque de humor muito sofisticado, que traz uma frescura à história e uma nova dinâmica. No final, confesso que me surpreendi bastante com a média de idades dos soldados que foram combater para o Vietname. Uma grande ignorância da minha parte — especialmente porque gosto de me intitular como uma amante fervorosa de História — mas não tinha, de todo, perceção de que os 19-20 anos eram a média de idades destes soldados e fiquei muito sensibilizada. É um filme que paira nas nossas reflexões muito depois de ter terminado e que nos dá vontade de vocalizar tudo o que aconteceu, só para processar. Tem uma mensagem clara, política e muito atual. 

Este foi um dos meus filmes preferidos deste mês. Protagonizado por Tom Holland, Cherry conta a história de um jovem que — num total desgosto de amor — segue a carreira militar e, depois de experiências verdadeiramente traumáticas no Iraque, regressa para uma vida praticamente destruída e à mercê da droga. Não é uma premissa original e, contado desta forma, quase que nos dá a entender que será mais um filme sobre o tópico de sempre, e até confuso pela mescla de temas. No entanto, acho que é precisamente a prestação do elenco e o próprio script do filme que demonstram que às vezes não precisamos de histórias inusitadas, apenas de contá-las através de novos ângulos. Todo o filme está dividido por partes e essa estrutura, combinada com a fotografia sublime, o jogo de luzes e a quebra da terceira barreira pelo protagonista, fazem de Cherry um filme muito interessante, muito artístico, mas também muito acessível. É um soco no estômago e o final — que me surpreendeu bastante pela positiva — deixa o público confortável para retirar desta produção interpretações diferentes. Será quase inato pensar que Cherry é um filme altamente crítico da glorificação militar (e é), mas retirei também a ideia de que expõe muito o quanto estes veteranos ficam desprotegidos depois de passarem por um inferno, e no quanto um sistema prisional (embora punitivo) consegue oferecer mais apoio do que uma vítima em liberdade a pedir ajuda — uma conclusão que também não é novidade. Em conclusão, não é um filme superficial, de todo, e desperta a vontade de conversar sobre o que acabámos de assistir num ecrã.

Já assistiram a algum destes filmes? Qual foi o vosso filme preferido de março?

2 comentários

  1. Não vi ainda nenhum mas quero ver "A Favorita". É um dos géneros que aprecio bastante.
    Boa semana
    Coisas de Feltro

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  2. O Mundo Secreto de Arrietty, é um dos que mais gosto do Studio Ghibli 😊

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