E se Hitler voltasse e observasse o mundo tal como ele é agora? Conseguiria moldar-se aos desafios e evoluções do momento? Adaptaria o seu discurso? Continuaria a ter popularidade entre fanáticos? Parece uma pergunta absolutamente macabra — e é — mas é esta a história de Ele Está de Volta.
Numa narrativa completamente bizarra e cheia de parágrafos com visões arrepiantes, Ele Está de Volta coloca-nos no interior da mente de Hitler ao acordar no mundo tal como ele é hoje e esforçando-se para emergir, de novo, nas forças políticas.
Embora não seja um livro extraordinário e tenha, ao longo dos capítulos, acontecimentos um pouco irrealistas (além da já tão improvável premissa), sinto que Ele Está de Volta vai um pouco mais além do caso insólito do regresso de Hitler e explora, isso sim, a conformidade com que toleramos o intolerável, como facilmente mascaramos os discursos de ódio, corrupção e censura para nos protegermos de observar as coisas (as intenções, as ideologias, as pessoas) tal como elas são, sem floreados (neste caso, humorísticos).
É uma chamada de atenção brilhante para o facto de existirem muitas (e mais do que zero já é a mais) pessoas ao nosso redor que acreditariam. Que votariam. Que realmente achariam que aquela pessoa é de confiança porque ‘diz as verdades’, sem grande interesse em aprofundar quem está a dizê-lo e que verdade é essa. E é também um dos possíveis desfechos do que ficar de braços cruzados, fingir que não se vê e não se ouve, não denúnciar ou reportar, pode resultar.
Foi uma leitura absolutamente desconfortável, onde ler aquilo que uma mente retorcida é capaz de acreditar mexeu comigo. Mas também levantou algumas questões sobre a minha função e importância enquanto cidadã ou simplesmente consumidora de conteúdos. O que é que eu deixo que transmitam? O que é eu aceito que transmitam? Até onde podemos acobertar o ódio?
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Bertrand
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