DUBLIN
Já tive o (enorme) privilégio de poder visitar restaurantes incríveis, que se destacam não só pelo mérito dos seus sabores e pratos mas também pelos espaços que lhe dão uma cara e uma casa. Mas arrisco-me dizer que nunca antes tinha vivido uma experiência tão original quanto esta: fazer uma refeição no interior de uma igreja.
The Church resultou da recuperação da igreja St. Mary, fundada em 1697 e que fechou portas em 1986, acabando por ser abandonada e completamente vandalizada. Desenganem-se se pensam que esta igreja, entregue às ruínas até 2007 — ano em que foi restaurada e convertida num restaurante —; era só mais uma igreja entre as várias em Dublin; The Church está cheia de história e muito bem homenageada.
Foi terminada pelo mesmo arquiteto que conduziu a biblioteca de Trinity College, Thomas Burgh, e foi nesta igreja que Sir Guinness se casou — razão pela qual encontram um busto no interior. O célebre compositor Händel — que compôs esta música que toda a gente conhece e canta em momentos de alívio — vivia muito perto da igreja e visitava-a frequentemente para tocar no enormíssimo orgão que ainda ali está instalado e que podem admirar — no entanto, necessita de restauração e uma parte das receitas do restaurante visa reverter para esse objetivo. A igreja foi, também, pioneira em inúmeros elementos arquitetónicos em Dublin, porém, não era bem recebida, em geral, pelos seus residentes. Quando St. Mary Street se tornou num local mais comercial e menos residencial, a igreja cedeu e acabou por fechar portas, ficando entregue à decadência. Porém — e porque este lugar é absolutamente cheio de factos curiosos e fascinantes —, até ter sido recuperada, era a igreja com o interior preservado mais antiga de Dublin, e muitos desses elementos foram mantidos, aquando da sua restauração.
The Church nasceu, assim, como um espaço de restauração e bar, estando o bar centrado na nave e a área do restaurante, mais sossegada e tranquila, no segundo andar, com vista privilegiada. O ambiente é paradoxal e absolutamente estimulante: por um lado, toda a arquitetura e todos os elementos permanecem inalterados e temos a confirmação total de que estamos numa igreja; por outro lado, o ambiente é de convívio, entre pessoas a conversar e a rir, empregados a trocar indicações, sapateado celta num palco improvisado e música acústica ao vivo.
Perguntei-me muito como é que um projeto altamente audaz e talvez um pouco polémico podia nascer numa cidade tão conservadora e religiosa, como Dublin. Mas, no final, a igreja serve o seu propósito, mesmo que não tenha um vínculo religioso: unir pessoas, estreitar laços, recordar bons momentos e lembrar, com carinho, os que já não estão cá para partilhar a experiência. Promover o afeto e a comunicação. E mesmo os propósitos comerciais acabam por vir em boa hora: trouxeram de volta uma finalidade a uma igreja cheia de História (e de histórias) que mais ninguém quis recuperar e glorificar. Sentei-me numa das mesas do restaurante com a sensação de que tudo fazia sentido.
Perguntei-me muito como é que um projeto altamente audaz e talvez um pouco polémico podia nascer numa cidade tão conservadora e religiosa, como Dublin. Mas, no final, a igreja serve o seu propósito, mesmo que não tenha um vínculo religioso: unir pessoas, estreitar laços, recordar bons momentos e lembrar, com carinho, os que já não estão cá para partilhar a experiência. Promover o afeto e a comunicação. E mesmo os propósitos comerciais acabam por vir em boa hora: trouxeram de volta uma finalidade a uma igreja cheia de História (e de histórias) que mais ninguém quis recuperar e glorificar. Sentei-me numa das mesas do restaurante com a sensação de que tudo fazia sentido.
Acabámos por selecionar o menu de degustação Händel e aproveitar a diversidade de pratos para partilhar e experimentar. De entrada, veio para a nossa mesa uns wild atlantic chilly & garlic tiger prawns, roaring bay mussels e um baked Irish goats cheese wrapped in prosciutto. Apenas não provei os mexilhões, porque não gosto, mas as restantes entradas estavam absolutamente deliciosas, sendo a dos camarões a minha preferida!
Para prato principal, provámos o prime Irish tender fillet steak — o meu pedido —, prime sirloin steak e roasted rump of slaney valley lamb. Tudo estava no ponto; a carne estava tenra, os molhos temperados, os ingredientes frescos. Admito que não fiquei fã do puré — o que é quase irónico, visto que a Irlanda é a terra da batata! — porque estava um pouco seco e eu sou mais apreciadora da consistência cremosa e leve. Mas todos os elementos combinados proporcionaram um jantar excecional!
As sobremesas foram compostas por um chocolate fondant divinal, Baileys Irish cream cheesecake e um warm chocolate & cherry brownie. Os doces perfeitos para terminar esta experiência em grande.
Terminámos a nossa refeição visitando a torre da igreja, cujo o chão pertencia ao Adelphi Cinema/Theatre, que foi palco de inúmeros artistas como The Beatles, Rolling Stones, Louis Armstrong, The Dubliners, Bee Gees, Ella Fitzgerald (...). Uma outra curiosidade acerca de The Church é que o armazenamento das bebidas é feito numa pequena casa do outro lado de St.Mary Street e o trajeto entre a igreja e a casa é feito de forma... subterrânea! Isso significa que, se pedirem alguma bebida, podem ter a certeza de que ela viajou por baixo da cidade!
Foi uma experiência totalmente original e, embora não seja uma refeição, de todo, acessível, recomendo-vos muito que visitem The Church. O serviço de bar está sempre disponível e acaba por ser uma opção mais em conta para poderem desfrutar na mesma da experiência com toda a qualidade. Também existem tours mas, sinceramente, o que vos recomendo é que entrem, escolham algo para beber e explorem o lugar ao vosso ritmo. É totalmente único!
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Junction of Mary St. and Jervis St., D01 YX64
Dublin
Contato: +353 182 801 02
Que conceito fantástico! E agora fiquei a salivar...
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