ISTO É TÃO INÊS || Linha de Campo


Uma coisa que o basquetebol me ensinou muito depressa é que os jogos não esperavam pelo meu estado de espírito ou os acontecimentos da minha vida. Todos os fins-de-semana, fizesse chuva ou sol, tivesse uma semana incrível ou péssima, tivesse centenas de compromissos ou não, sentisse ótima ou miserável, havia jogo. E era convocada. E porque não somos apenas jogadoras mas também humanas, com preocupações, pensamentos que nada têm a ver com uma bola no cesto e, por vezes, até atritos de equipa, havia uma mensagem habitual dos treinadores no balneário: “deixem tudo fora da linha de campo”. 

Deixar tudo fora da linha de campo. Significava que, assim que pisasse as limitações do campo, eu deixava ali, arrumadinhas, a minha ansiedade, as minhas derrotas, as minhas vitórias, as coisas que devia ter dito e não disse, as coisas que queria dizer, as divagações, a checklist de tarefas que tinha de tratar mais tarde, os afazeres e as pessoas. A Inês ali ficava, fora da linha, assim como qualquer atrito possível. Entrava apenas em campo o meu número e a minha performance. Tudo o resto ficava para lá da linha e não interferia nas minhas capacidades de jogo. 

Curioso que foi uma mensagem que impregnou tão bem que ainda a aplico, mesmo já não jogando há anos. Incrível como tem um efeito tão benigno na minha ansiedade. Tenho várias linhas de campo nas esferas da minha vida, e deixo tudo fora antes de entrar. A linha de campo da minha casa não traz o trabalho. A linha de trabalho não traz a vida pessoal. A linha social não traz as tarefas que tenho ainda de tratar. E assim vou jogando com a certeza de que, mal termine, elas voltam a reunir-se comigo. Mas isso não me faz sentir mais ansiosa ou preocupada. Faz-me sentir que estou simplesmente a ser competente. 

Nem sempre resulta, tal como nem sempre resultava nos jogos. Ser humana também é ter estes pequenos deslizes. Mas devo dizer que é bastante eficaz e que me faz sentir mais estável, especialmente num trabalho que requer muita força emocional. Abro a porta de casa. Passo a linha. E deixo tudo lá fora.

4 comentários

  1. A minha linha de trabalho não traz mais nada - e isso ajuda-me muito quando a vida é matreira. No entanto, não posso dizer que não levo trabalho para casa… e é péssimo.

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  2. Acho que aprender a fazer isso tem sido uma parte muito importante do meu crescimento, e sinto-me muito melhor quando consigo separar as águas :)

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  3. Eu acho que todas as pessoas entendem a mensagem passada nesta publicação, mesmo que nunca tenham jogado basquetebol. "Deixem tudo fora da linha de campo" é uma mensagem que se pode aplicar em todos os aspetos da nossa vida. Parece algo tão simples e, no entanto, tão difícil de praticar. Vou guardar este post para ler quando estiver a ser difícil concentrar-me naquilo que tenho de fazer num determinado momento presente.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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  4. Esta é mesmo uma bela mensagem. Nem sempre é fácil de aplicar essa regra à nossa vida, mas é de facto importante sabermos separar mais as coisas, tornando-nos menos ansiosos, menos preocupados e fazendo-nos aproveitar e dar mais em todos os momentos.
    Biejinho

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