PASSAPORTE || Cliché


Sinto que há uma conotação negativa — ou desinteressante — em tudo o que é cliché ou óbvio. Não se aplica apenas no mundo das viagens, mas é um universo onde se verifica bastante uma aversão pelo óbvio. Há uma necessidade de procurar tudo o que não esteja nos guias ou nas recomendações e que seja 'secreto' ou 'local'. E é algo fantástico que também gosto de procurar. Quem não adora descobrir lugares ou espaços giríssimos, cheios de identidade local e sem filas de turistas?

Por outro lado, adoro o cliché e não creio que o óbvio tenha de ter qualquer tipo de relação com desinteresse para pesquisar mais, com superficialidade ou ausência de originalidade. Eu gosto das fotos típicas, das comidas populares, dos lugares registados nos guias, dos monumentos da praxe, das ruas turísticas... O previsível, o cliché, o óbvio não tem de ser negativo.

Atribuímos um requinte ao inevidente que me parece insensato. Uma foto original não tem de ser mais bonita que uma cliché só por não o ser. Pode, só não é garantido, como se implícita. Os lugares 'secretos' podem não ser tão interessantes. Os locais podem adorar um restaurante menos popular, mas talvez não seja tão estimulante para nós, que nunca fomos ao destino e nunca provámos a sua gastronomia e sabores clássicos.

Ser previsível e óbvio não reflecte desconhecimento ou desinteresse para ver e fazer de forma diferente. Apenas corrobora que o cliché, muitas vezes, é bom e que não há problema em reconhecê-lo. Não é menos sofisticado ou estimulante, pelo contrário; na grande maioria das vezes, reforça a beleza e pertinência de certos lugares turísticos por um número variado de pessoas de diferentes origens e interesses. E isso é igualmente fascinante. O óbvio apenas reafirma o que é merecedor de destaque e em nada reflecte os interesses, intelectualidade ou sofisticação de quem viaja. É lamentável o que vão perder pelo medo do cliché, do óbvio e do previsível. Libertem-se.

6 comentários

  1. Se algo é "cliché" é porque em algum momento, ganhou relevância e, se é relevante, é porque agrada às pessoas e, honestamente, não percebo como é que pode surgir tanta repugnância à volta disso... Se formos então a resumir, toda a nossa vida é cliché porque já lhe conhecemos as idiossincrasias: nascemos, vivemos, morremos. Se fosse para levarmos o nosso quotidiano, somente com estas ideias na cabeça, de que nos valeria estar aqui?
    De facto, deveríamos aprender a seguir o teu último conselho que é libertarmo-nos dos limites que impomos a nós mesmos. A quantidade de experiências que não deixamos passar por pura teimosia e "nojinho"... É triste, de facto!
    Felizmente, todos os momentos são perfeitos para recomeçarmos e tentarmos de novo. Eventualmente, algo há de mudar! 💪🏾

    Beijinhos,
    LYNE, IMPERIUM BLOG

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  2. Dou sempre esse exemplo, por isso, achei mesmo engraçado que o tenhas referido. A verdade é que, quando vivemos numa cidade, acabamos por escolher sítios que gostamos muito e que podem mesmo passar por óbvios/clichés, mas isso não é mau, como é tantas vezes associado!
    Um assunto bem pertinente.

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  3. Esta tua publicação trouxe-me à memória uma crónica da Clara Ferreira Alves que li, há tempos,na revista do 'Expresso'. A senhora,no seu escrito, assumia-se como "viajante" e desancava naqueles que se deslocam como turistas, essa horda selvagem que conspurca e menoriza os locais que visita.
    Pedantismo? Snobismo? Fica à tua escolha ,Inês!
    Gente fina é outra coisa...

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    1. Não há uma forma correta, mais interessante ou perfeita para viajar! Cada um tem a sua jornada e os seus interesses e é super válido. Não me parece muito sensato condenar a forma de viajar de ninguém. Não é libertador, não é estimulante e não agrega nada de valor. Sejamos todos viajantes que seguem as suas vontades e que se libertam de regras desnecessárias. Não me parece fazer muito sentido esse tipo de crónicas inflamadas mas, lá está, a forma dela de viajar será tão válida quanto a minha :D

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  4. Concordo plenamente com a tua opinião.

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  5. "É lamentável o que vão perder pelo medo do cliché, do óbvio e do previsível. Libertem-se." Tão isto, Inês.
    O importante é a nossa própria experiência, que importa se é "cliché" ou não? Se queremos e se para nós tem significado, fazemo-lo. Tão simples quanto isso, eu viajo para onde me fizer sentido e não devo ser julgada por isso.
    Beijinho

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