É sempre bom voltar a Aveiro. E curioso como não somos nós apenas que mudamos; a cidade também se transforma e ganha novas versões daquilo que já conhecemos — e acarinhamos. Já não sou a mesma Inês que Aveiro conhece melhor; cresci, amadureci. Já não tenho os mesmos gostos, já passei por outras experiências, já vivi coisas que me moldaram... A Inês que se apresenta hoje na cidade é muito diferente. Mas assim é, também, Aveiro.
Cruzo sempre as ruas e os lugares olhando para as coisas que antes estavam lá e já não estão. Tento acompanhar as mudanças e adaptar a cidade que conheço à cidade que agora se apresenta aos meus olhos. E esta adaptação das duas partes, que se podia transformar numa onda de frustração e de não nos reconhecermos uma à outra, acaba por resultar muito bem. A cidade muda, mas não perde o encanto. E eu cresci, mas sou sempre recebida de braços abertos com a mesma vontade, o mesmo carinho, o mesmo cheiro familiar.
Oferecemos sempre uma à outra o alento de que há certos traços que amamos e que, esses sim, não conseguem desaparecer; os cheiros continuam lá. Os sabores também. O meu sorriso ainda é o mesmo e a leveza com que caminho por lá continua igual. Há paisagens que ainda são tal e qual o meu coração guarda, e a minha pronúncia aveirense regressa sempre comigo. O espírito da cidade permanece igual e a minha família ainda olha para mim como se fosse uma menina — e sê-lo-ei sempre, para eles. Continuam a ter o hábito de chamar todas as pessoas com 'Eh', seguido do nome. Continuam a beijar as fotos que estão nas molduras. Continuam a servir três doses de comida extra à que eu tirei. E eu continuo com o mesmo feitio, com a 'pisqueza', com a vontade gulosa de comer tripas. Com a mesma energia, alegria, vontade de fazer trezentas coisas e estar em quatrocentos lugares ao mesmo tempo.
Há coisas que (nunca) mudam. Abraço os dois lados e ela abraça-me também. Aveiro nunca mais será como lhe conheço e eu nunca mais serei a Inês que a cidade conhece. Mas nunca nos abandonamos, nunca nos estranhamos. Abraçamo-nos sempre com a sensação de dois familiares que finalmente se reencontram depois de terem partido para aventuras. E o brilho, a essência que sempre permanece faz com que todas as mudanças valham a pena. Somos mais interessantes e experientes. Mais incríveis de conhecer e amar.
É uma cidade que não conheço, mas quero muito visitar.
ResponderEliminarQue bonito e cheio de sentimento, Inês!
ResponderEliminarBeijinho grande*