FAMÍLIA || 10 Lições que Aprendi com a Belka


Há um ano, nasceu um elemento da nossa família que nunca imaginei que fosse ser tão importante: a Belka. Desde então, a nossa vida nunca mais foi a mesma. Num 2017 tão pesado, tão cheio de derrotas, que simplesmente não correu bem e que nem recordo com carinho, a Belka foi — e é — o foco de luz que me faz lembrar o ano passado com um sorriso que só pode significar que tudo valeu a pena. Afinal de contas, jamais poderei garantir que outros caminhos mais felizes poderiam levar-me ao seu encontro, portanto, só posso sentir-me grata por tudo o que aconteceu (o bom e o mau) para que nos encontrássemos.

Conviver com este novo membro tem sido uma aprendizagem e aventura constante. São novos desafios, uma nova personalidade e, em geral, estamos todos mais maduros e em etapas de vida diferentes de quando recebemos a Laika. Para marcar este primeiro ano tão especial desta minha companheira, quero partilhar convosco dez lições que a Belka já me ensinou.

1. Tenho um medo exacerbado de a perder | Desafiando uma qualquer lógica, perder a Laika — e viver todo este processo da forma brutal como vivi — fez-me ter um medo desmedido de perder a Belka. Eu sempre tive medo de perder a Laika, não me interpretem mal! Mas tudo aquilo que sentia, agora, converte-se num desespero com medo de ter de passar por tudo de novo. Qualquer situação que, de alguma forma, deixe a Belka mais vulnerável acaba comigo, tira-me horas de sono e faz-me sentir que sou uma mãe galinha em constante vigilância. Quando a Belka foi picada por uma abelha foi quase o fim do mundo, para mim. É um medo que estou a aprender a lidar e que acredito que isto aconteça com mais intensidade por nunca termos tido mais de um cão em casa. A perda, a ausência e o jardim vazio custam muito mais e é uma sensação que eu não quero experimentar tão cedo — e angustia-me só de pensar.

2. Aprendi como é ser a favorita da família | Todos os bichinhos adoram todos os elementos da sua família, mas também é facto de que há sempre alguém que consideram o 'favorito'. Julgo que quem tem animais de estimação compreende o que estou a escrever. E, surpreendam-se, eu não era a favorita da família para a Laika. Claro que ela me adorava e tínhamos um laço fortíssimo, mas o meu pai é que era o favorito. Com a Belka, descobrimos que sou a favorita. Não sei o que fiz em particular para o ser, mas é a primeira vez. A Belka segue-me para todo o lado, ressente-se muito mais quando eu estou ausente de casa, obedece-me mais rapidamente e refugia-se mais em mim. É uma sensação que traz uma certa responsabilidade, afinal de contas, este ser está a oferecer-me o seu lado mais vulnerável e a sua confiança total para eu cuidar. Mas é também uma sensação recompensadora (sou a menina dos seus olhos!).

3. Os cães não têm todos a mesma personalidade | Saber é diferente de aprender, é o que afirmo constantemente e aqui aplica-se na perfeição. Por já não sermos donos de primeira viagem, sentimo-nos muito mais seguros e experientes na hora de acolher a Belka. Sabíamos que seria uma cadela diferente mas que já estávamos preparados para o que daí vinha. Não podíamos estar mais enganados. A Belka ensinou-nos que cada cão é uma página em branco e que o que resultava para uma (disciplina, brincadeiras...) não resultava para a outra. Começámos do zero, uma vez mais, mas lidar com os novos desafios e sabermo-nos reinventar tem sido uma experiência muito enriquecedora.

4. É uma responsabilidade | Era uma miúda quando fomos buscar a Laika, o que significa que as verdadeiras responsabilidades (as chatas e as nojentas) pouco ou nada passaram por mim. Sempre compreendi que ter cães (e qualquer outro animal de estimação) era uma responsabilidade, mas não passava por mim e sim pelos meus pais. Com uma nova idade e maturidade, fiz questão de me envolver muito mais nos cuidados da Belka. Levo-a ao veterinário, cuido dos horários e doses da sua alimentação, estou atenta aos seus sinais, limpo-a, troco coleiras, mudo água (...). E finalmente posso dizer que compreendo — por estar na linha da frente das responsabilidades — que ter animais é maravilhoso porque são únicos, família, engraçados e muito queridos, mas que exigem uma responsabilidade gigantesca e muito dura que não pode ser em nenhum momento esquecida ou descartada. Eles contam connosco.

5. Podemos sempre voltar a amar | Nunca tive mais de um cão ao mesmo tempo, e depois de perder a Laika, saber que íamos ter um novo animal de estimação mexeu muito comigo, no sentido em que me preocupava poder não voltar a sentir amor. Nunca tive aquela sensação de não querer mais animais de estimação (que é comum e natural, no luto). A ideia de poder dar um abrigo a um novo patudo deixava-me feliz e realizada. Mas tinha medo de não voltar a conseguir criar um laço. A Belka destruiu todas essas barreiras à primeira vista, quando me escolheu, e ensinou-me uma das lições mais valiosas da minha vida e que, no fundo, acho que já sabia: temos sempre espaço para amar de novo e podemos sempre voltar a amar. O nosso coração expande na mesma medida dos novos sentimentos que vamos criando e nunca fecha portas a mais um coração digno do nosso amor, cuidado e admiração. Não amo as duas da mesma forma (nunca amamos nada nem ninguém da mesma forma) mas a intensidade e qualidade do meu amor é inquestionável.

6. Os nossos bichinhos são insubstituíveis | Esta não é uma lição que eu só tenha aprendido com a Belka — porque, no fundo, sempre soube — mas é uma lição que preciso de deixar publicada e que tenho a certeza de que quem já teve mais do que um bichinho de estimação vai compreender porquê. A Belka não substitui a Laika e a Laika não substitui a Belka. Nenhum patudo neste mundo substitui outro. E a existência de um não anula nem abafa as saudades do outro. Eu continuo a ter saudades da Laika. O jardim é vazio à mesma, simplesmente porque ela não está lá. A Belka acrescenta às nossas vidas, não substitui. E eu abomino quando oiço coisas como 'agora tens a Belka' ou 'tens saudades mas agora podes matá-las com a Belka' e a pior 'gostas mais da Laika ou da Belka?'. Imploro que jamais digam algo do género a qualquer pessoa que já tenha tido mais do que um animal de estimação. Não é reconfortante, não é apreciativo e tampouco é verdadeiro. Os nossos patudos são únicos e é isso que os torna tão especiais. Não se sintam culpados por darem casa e abrigo a um novo patudo — porque sei que esta sensação também é recorrente em muitos donos —. Não há nada de errado. Não estão a esquecê-lo, não estão a substituí-lo e nunca vão gostar mais de um do que de outro. Não há comparações possíveis.

7. Estabelecimentos veterinários são os melhores locais para fazer amigos | A Laika nunca chegou a ir a uma clínica veterinária porque tínhamos um amigo da família que era veterinário e fazia todas as consultas com a Laika ao domicílio — o que nos poupava um enorme stress para a levarmos de carro até uma clínica —. Mas, hoje em dia, o nosso amigo é reformado e as visitas à clínica passaram a ser uma rotina na vida da Belka. E aprendi que a sala de espera de uma clínica pode ser o local perfeito para conhecer pessoas a fazer amigos. Uma sala de espera de veterinário em nada se compara a qualquer outra sala de espera. Isto porque nós, humanos, somos todos muito comedidos e envergonhados com estranhos, mas os nossos patudos não. As interacções entre eles e o tempo de espera implicam conversas, apresentações e que falemos dos companheiros que trazemos connosco. As histórias começam sempre pela razão que nos trouxe a todos lá, mas rapidamente convertemo-nos em mães em plena reunião de pais a falar dos filhos, babadas. Peripécias, fotografias e momentos engraçados são assuntos de conversa garantidos entre pessoas que não ficam aborrecidas por falarmos dos nossos patudos (especialmente, com entusiasmo). Conhecemos os mais variados tipos de pessoa e saio sempre de cada ida ao veterinário com a sensação de que vivi uma autêntica experiência social.

8. Aprendi a fazer uma 'vozinha' | Provavelmente a aprendizagem mais absurda de sempre, mas quem já me viu a interagir com a Belka sabe que esta aprendizagem não podia escapar. Assim que trouxemos a Belka para casa, criei uma voz e umas expressões que só uso quando estou a falar com ou para ela. Sempre tive uma 'voz' para falar com animais — e quem não tem, simplesmente não é de confiança — mas era uma voz 'abebezada', comum. A voz com que falo para a Belka é diferente e surgiu de uma forma totalmente natural e despropositada. É uma voz digna de desenho animado e é totalmente ridícula. Tenho consciência disso. No entanto, criei um fenómeno; já ninguém cá em casa consegue olhar para a Belka sem imaginar a voz que eu faço (não estou a exagerar, isto está mesmo a acontecer). Qualquer coisa que queiramos falar com ela, usamos esta voz — que a mim sai de forma automática, aos restantes membros de toda a família é uma imitação do que eu faço —. É a aprendizagem mais tosca, mas se não estivesse aqui, não estávamos a falar da Belka. A Belka tem voz muito cómica.

9. Aprendi a encontrar novas alcunhas | Claro que a chegada de um novo membro trouxe também novos nomes e alcunhas, todos muito criativos, como sempre. Os mais habituais são Belksy, princesa, coelha e pançoca.

10. Os cães podem-nos salvar | É a frase cliché de todos os filmes sobre cães no mundo, mas é também uma verdade especial. A Belka veio para os meus braços numa altura muito escura da minha vida: tinha acabado de sair de um susto a nível de saúde, recebia más notícias de minuto a minuto, estava exausta, tinha perdido a minha melhor amiga e tudo aquilo que amava na minha vida tinha um obstáculo gigantesco a testar-me. E eu estava exausta demais para trepar cada muro, portanto, permiti-me a descansar um pouco, o que me custou a tristeza por não ter as coisas que mais me faziam feliz à distância de um simples desejo. Tudo parecia complicado, complexo e desafiante demais para mim. A Belka trouxe para a minha vida a leveza que, naquele momento, eu precisava. Amava-a sem distâncias nem obstáculos, era feliz ao seu lado sem contradições e tudo com ela era fácil. Ela não tinha barreiras nenhumas e, se existissem, saltava-as com a graciosidade que só ela consegue ter quando pula. A Belka deu-me amor, tranquilidade e agitação na medida certa, um cocktail doce e energético que me puxou para cima e impediu de chegar ao fundo do poço. Hoje em dia, quando oiço que os cães podem-nos salvar, não penso mais em filmes comoventes de animais e sim nela. Porque é verdade. Ela foi a minha vela numa fase escura.

Feliz aniversário, Belka!

9 comentários

  1. Que maravilha de texto, Inês! E olha, sendo uma cat lady, consigo identificar-me ainda sim com quase tudo o que escreves. Principalmente no que diz respeito ao espaço que o nosso coração tem sempre para mais um amor. Bem sei a culpa que senti quando fui buscar o Bao por estar a "substituir" o Milo e o Tim, que deixei com os meus pais. Mas o que é certo é que eles agradecem - os três! - e tudo continua como antes, com a diferença de que agora tenho mais um patudinho a fazer-me feliz!

    Muitos parabéns à tua pançoca <3

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  2. Quando escreveste a publicação sobre a perda da Laika, eu vim cá dar os meus sentimentos, falar sobre um montão de coisas e (quase) implorar-te para teres outro patudo. Há pessoas que amam tanto os animais, que não deviam sucumbir à dor de não querer mais nenhum. Há tantos, tantos animais a precisar de ajudar e é tão raro existir alguém com este amor puro que seria um desperdício de amor. Não sabes como fico feliz de ler esta publicação (e como fiquei feliz quando soube que decidiste ter outra patuda).
    Feliz aniversário, Belka!

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  3. Que coisas tão lindas aqui escreveste! O que me tocou mais foi o ponto 2, porque sinto o mesmo cá em casa. O meu cão também me tem a mim como favorita. Anda sempre atrás de mim e se fico fora de casa alguns dias por algum motivo, ele anda mais apático e quase não come. E apesar de ser algo bom de se sentir, traz ainda mais responsabilidade, a meu ver! Outra coisa que eu também aprendi foi a fazer uma "vozinha"... acho que é quase como quando falamos para um bebé. Mas quando o bebé cresce, nós temos de deixar essa "vozinha" de lado, enquanto que com os cães nós não damos valor ao facto de eles terem crescido! xb

    Parabéns à Belka! :)

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  4. Sinceramente, quando arranjei a minha patuda Bianca pensei no inicio que não fosse capaz de gostar tanto dela como ela gostou logo de mim por estar habituada a gatos e o meu gatinho ter acabado de fugir mas a minha maluquinha veio e como me tinha dito a minha melhor amiga que também tinha arranjado um cão há pouco, os cães vêem como as pessoas são e "escolhem"-nas por isso. Continuo a adorar gatos, com esta "tonteca" descobri que também gosto de cães e que é possivel ser surpreendido e adorar mais do que um bichinho igualmente. Não fazia ideia mas num dia em que estava bastante mal foi o dia em que ela nasceu (também fez 1 aninho) e depois veio para dar-me lambidelas, saltar-me para o colo e saltar de felicidade quando chego a casa, o universo às vezes tem maneiras misteriosas de colocar as coisas no nosso caminho x

    themerrymarie.blogspot.com

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  5. Feliz aniversário à adorável Belka! <3
    Felizmente, nunca passei pela dor de perder um animal de estimação. Mas o meu gatinho Nico veio viver, "oficialmente", para minha casa, na altura em que perdi a minha avó, pelo que compreendo muito bem o que dizes quando dizes que a Belka foi a tua vela numa fase escura! A companhia que os nossos animais nos fazem, o amor que nos dão, é tão bonito e insubstituível!

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  6. Muitos parabéns à "Belksy"!
    Quando perdi o meu primeiro cão também sabia que ia querer outro patudo lá em casa, embora precisasse de meses para sequer pensar em fazê-lo. Pelas mesmas razões que tu: temos condições para fazer um cão feliz e somos mais felizes com o chão da cozinha sujo de lama e pêlos. E sim, mesmo amando de coração o meu cachorro Bóris, continuo a ter saudades do Rodolfo. É um espaço que nunca mais será ocupado, mas sinto que quanto mais amo, mais o coração se expande e ganha ainda mais poder para amar.
    Como quase veterinária fico muito feliz pelo companheirismo que se vê nas nossas salas de espera. Os cães não têm mesmo tabus nenhuns e acabam por fazer os donos perder a vergonha.
    Beijinhos e que venham muitos e muitos mais anos de Belka!

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  7. Ler as tuas publicações sobre a tua patuda deixa-me com o coração a transbordar de sentimentos e gritinhos de orgulho.
    Parabéns à Belka!!! Que te ensinou coisas tão bonitas, que criou em ti uma voz que incita curiosidade e que te acompanha como uma verdadeira amiga.
    Não tens noção de como me deixa feliz saber que tu estás para ela como ela está para ti e que a vossa relação é mágica e só tende a crescer.
    Tens um amor e carinho muito especial por animais. É tão único e bonito!

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  8. Ler as tuas publicações é sempre uma experiência maravilhosa, mas de todas elas esta é uma das minhas preferidas. Talvez seja por ter a minha cadela aqui ao lado, deitada e a deleitar-se com os raios de sol que entram pela janela, ou talvez seja porque me fizeste lembrar todos os companheiros de quatro patas que tive a honra de ter ao meu lado. Não me tenha esquecido deles. Aliás, não há dia em que não pense na Didi ou no Diego, mas este teu texto deixou-me com uma lágrima no canto do olho. Uma lágrima de felicidade, atenção!
    Lembro-me perfeitamente da tristeza e da sensação de vazio que a perda de um amigo de quatro patas me casou, fiquei inconsolável durante dias e não queria outro animal de estimação. Queria aquele que tinha perdido. Mas depois surgia um cachorro amedrontado, uma cadela com uma determinação como eu nunca tinha visto e um cão mal tratado que a muito custo se conseguiu levantar do seu alguidar branco. Cada um deles muito diferente do outro, mas todos eles com algo em comum: um carinho que nos enche.
    Quando perdi a minha melhor amiga, aquela cadela que foi oferecida à nossa família quando nasci e que não deixava o meu lado (uma verdadeira guarda-costas!), foi difícil. Senti-me culpada porque achava que não tinha retribuído do o afecto, amizade e carinho que ela me tinha dado. Quando perdemos o Diego, não fui só eu que perdi um amigo. Foram também os meus irmãos. Entrar em casa e não o ver aninhado junto à lareira ou de cauda a abanar de contente por nos ver, foi complicado. Depois chegaram dois cães vindos do canil, tão magros e tão assustados que eles estavam. Essa foi uma das noites mais difíceis para mim porque foi a primeira vez que tive um ataque de pânico. Foi horrível. O mundo estava a desabar. Eu estava a sufocar. Até ao momento em que uma cadela muito magrinha se aninhou junto a mim e dormiu. Até ao momento em que um cão assustado e mal-tratado se deitou junto do sofá e dormiu.
    Em todos estes dez pontos me revi. Em todos estes dez pontos me lembrei dos companheiros que tive e dos companheiros que tenho e lhes agradeci. Agora, espaço para as alcunhas! Embora eles partilhem algumas, só mudando o género, como gorda e tonto, eis a minha preferida: pindérica (para a Shira) e totózinho (para o Marty). Alcunhas muito adequadas se queres que te diga!

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  9. Que publicação tão amorosa! Os animais são mesmo a melhor coisa do mundo e ensinam-nos tanta coisa, muitas vezes sem darmos por isso.
    Foi incrível de se ler, que relação maravilhosa a de vocês as duas.
    Parabéns (atrasados) para a Belka :)

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