VÍDEOS || The Bowl


Provavelmente, já estão a revirar os olhos ao ver que estou a partilhar convosco mais um vídeo do Peter McKinnon. É justo, porém, hoje não partilho o vídeo por causa dos tutoriais ou das dicas de fotografia, como habitual. Hoje o assunto é completamente diferente e recomendo que assistam primeiro ao vídeo, agora, antes de começarem a ler toda a minha publicação.
Esta curta, gravada pelo próprio Peter, foi feita no Quénia, o que despertou a minha curiosidade. Mas quando ele mostrou a fotografia do balde é que me transportei imediatamente para aquela aldeia que visitei, no Senegal. Nunca um discurso fez tanto sentido para mim e fui ao encontro das palavras dele durante todo o vídeo, recordando-me da minha viagem.

Como em qualquer lugar, cada país é um país, com a sua cultura única, tradições e formas de viver distintas e próprias. No entanto, as dificuldades e as condições trágicas que Peter observou numa aldeia do Quénia, também eu observei no Senegal, e aquilo que o emocionou foi precisamente o mesmo que me emocionou a mim: a resiliência e capacidade de serem felizes com pouco.

Este assunto não é novo, aqui no Bobby Pins, e já me fartei de falar o quanto eu admiro este facto, tanto na República como em Cuba e, mais evidente ainda, no Senegal. Mas é mais importante do que imaginam porque ser feliz com pouco é uma coisa que nenhum de nós sabe o que é. Tendo cama, comida, tecto seguro, família estável, liberdade para escolhermos o que queremos fazer, o que queremos estudar, o que queremos comer, quando queremos comer e com quem queremos estar é ser feliz com muito e nem nos apercebemos.

Ainda hoje fico confusa com o paradoxo: nós é que fazemos a visita, mas também somos nós que passamos a maior parte do tempo com os olhos aflitos. Não têm nada e estão famintos, mas há um brilho no olhar que nunca mais encontrei em ninguém. Têm uma força e vontade de viver que eu não encontro num feed no Instagram. Têm uma resiliência, uma esperança, uma força para quererem superar os problemas e adversidades que me inspira. Para eles, o mundo não lhes virou as costas, é apenas mais um desafio e isso é evidente quando temos dois dedos de conversa. E é inspirador.

Na vida, vamos encontrar muitos baldes partidos e a maior parte de nós vai sofrer com isso e, logo a seguir, deitá-los fora. Sofrer é inevitável e justo, mas podemos sempre decidir que temos a linha na mão e remendá-los, mesmo que não tenha lógica, mesmo que nos digam que é um "caso perdido, mais vale arranjares outro". Por vezes, não há outro balde e remendá-lo, por mais imperfeito que fique, é a solução e é o significado de esperança. Talvez não remende tudo, mas corrige o principal. Não desistir, mesmo quando parece o caminho mais natural e lógico, não deixar de inventar soluções para assuntos que parecem perdidos e dar sempre novas oportunidades de recompor o mundo (o nosso, cá dentro do coração, e o nosso, lá fora, com árvores bonitas).

Eu continuo a ter obstáculos, eu continuo a ter as minhas tristezas e a chorar mesmo tendo uma vida privilegiada. Mas ter tido um contacto tão orgânico com a persistência e a felicidade pura ensina-me, todos os dias, a ser melhor e maior que os meus problemas porque há, todos os dias, pessoas inspiradoras a fazê-lo, com problemas maiores que os meus. Todos os dias dão-me força para relativizar e para olhar para os recursos que tenho. Dão-me força para voltar a ter esperança e voltar a ser feliz quando as nuvens negras se abatem sobre mim. Todos os dias, eles relembram-me que eu tenho uma linha que dá para coser o balde. Mesmo que me digam para deitar o balde fora.

1 comentário

  1. Que vídeo espetacular, Inês, e que lições tão bonitas que retiraste dele e da tua viagem! A tua resiliência inspira-me :)

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