30 sobre os 30


Uma das minhas mensagens preferidas de aniversário chegou através da minha prima. Sinto que nos alinhamos nas mesmas formas de observar, e a sua visão sobre os 30 fez-me todo o sentido. Espero que ela não se importe de a partilhar convosco: 

Os 30 são, para mim, uma década muitíssimo especial: somos ainda suficientemente jovens, mas já possuidores de uma maturidade que nos permite ver e aproveitar a vida com outra qualidade. Até agora, a minha preferida! 

Este é o primeiro capítulo da década que se segue e, durante anos, preparei-me para o que achava que poderia sentir ao chegar a este marco. Porque é um marco, vivemos numa sociedade que o cria assim (tal como os 18, os 25, os 50…). E para meu alívio e satisfação, numa receita de partes iguais, senti pura curiosidade. 

Só sou adulta há 10 anos, mas não faço uma década completa de autonomia e amadurecimento. Ao longo dos 20s, fui conquistando as minhas características e competências, fui impondo o meu lugar no mundo e, acima de tudo, fui-me conhecendo. Quem é esta pessoa, que adulta quero ser, que profissão quero seguir, que experiências quero somar, que amigos quero do meu lado, que tipo de amor preciso? Tudo perguntas de resposta aberta que não são possíveis de responder até aos 30 – por muito que nos façam pensar que sim -, mas que podemos começar a resposta aos 20. Onde acaba? Depende do quão fechada queremos que seja essa resposta. 

Entro, por isso, na minha segunda década de adulta e compreendo inteiramente o que a minha prima quer dizer. Com 10 anos de experiência somadas na independência e autoconhecimento, estou pronta para arriscar em coisas novas, em errar em outras primeiras vezes e em defender com mais segurança aquilo que sou ou quero por perto. E quando observamos desta forma, a perceção da vida, parece-me, transforma-se. 

É apanágio de quem escreve trazer lições de vida, principalmente as 30 coisas que aprendeu em 30 anos. Estas são as minhas. Provavelmente não são transversais para todos os que me leem, mas definitivamente serviram-me como uma guia orientadora ao longo destes anos. 

1. Conversas difíceis ou vulneráveis não fragilizam relações saudáveis.
2. Amigos não devem cobrar, mas também não se devem conformar.
3. O luto é o amor que sobrou pelos que já partiram. Enquanto tivermos amor por quem já não está cá, teremos luto.
4. Mais importante do que querer ou não saber o que os outros pensam, o fundamental é enquadrar e filtrar. Depende de quem são os outros e depende do lugar onde vêm os seus pensamentos.
5. É inexplicável o amor que se sente quando uma amiga ri ou chora connosco. Quando se partilha a alegria e a tristeza de verdade.
6. Viver com curiosidade e espanto é fundamental para mim.
7. Não é só sobre as pessoas serem interessantes, importa que sejam também interessadas.
8. É importante sair da zona de conforto para evoluir e conhecermos coisas novas sobre nós, mas é igualmente importante regressar à zona de conforto para realinhar e processar. Uma não funciona com eficácia sem a outra. 
9. Vamos viver em constante contradição de pensamentos e conflito de emoções sobre o mundo e as pessoas.
10. É possível sentirmo-nos em casa noutros lugares no mundo.
11. Viajar desbloqueia lados de nós que não conseguimos nutrir tão bem no nosso país/cidade.
12. Gostarmos de estar sozinhos faz com sejamos melhor companhia para os outros. Estamos com as pessoas por intenção e não por ansiedade de estarmos sós. 
13. É extraordinário o quanto aprendemos a gostar de lados sobre nós que nunca adorámos quando alguém nos ama por inteiro.
14. Mais do que privilégio, é uma sorte ser mulher e nascer nesta época, neste espaço do mundo, sob esta conjuntura de leis e direitos. E não estou satisfeita enquanto isto for uma sorte. 
15. Os detalhes importam e dizem tudo sobre uma pessoa, um lugar, um presente, uma obra. 
16. Os anos passam à mesma. Se a dúvida entre fazer algo ou não fazer é o tempo que vai demorar, esse tempo vai passar de qualquer forma e a única diferença é quem estará do outro lado: a pessoa que fez ou a que não fez. 
17. Numa profissão que não tem casos de vida ou de morte, uma urgência não é uma emergência.
18. A vida deveria ser a única corrida onde não temos pressa de chegar à meta. Não te adiantes nem te atrases. Não existe um caminho delineado. Explora o mapa e desfruta. 
19. Não importa as escolhas que façamos, o estilo de vida que sigamos ou a bússola moral que nos conduz; o certo é que, na reta final desta festa, chega uma fatura que todos pagamos, uns com mais agrado do que outros. Espero estar no primeiro grupo quando chegar a minha. 
20. Se tens de te encolher para caber – numa roupa, lugar ou coração de alguém – sai. 
21. Fazer amigos na vida adulta é das melhores experiências. 
22. A rotina é tão importante quanto a desrotina. É fundamental descobrir a rotina que funciona para nós e saber sair dela, despentear a vida e desviar dos trajetos de sempre, de vez em quando. 
23. Tens 100 problemas quando tens saúde. Mas se a saúde estiver comprometida, passas a ter só 1. 
24. Por mais bem intencionados que sejam os conselhos das pessoas que te amam, é importante que sejam filtrados. As pessoas podem gostar de nós, mas isso não é o mesmo que estar na nossa pele. 
25. Retribuir sempre que possível. O gesto, o presente, o tempo, a amizade, o amor. Principalmente, retribuir da forma que o outro mais valoriza como retribuição. Não temos todos as mesmas medidas para a forma como olhamos gestos de amizade e amor. 
26. De um dia para o outro, tudo muda. 
27. Tudo o que aprendemos ou investimos tempo e dedicação pode vir a ser útil no futuro. Nada é tempo desperdiçado. 
28. Não faz mal mudar de ideias ou de opinião, deixar de gostar ou passar a gostar, dizer ‘tinhas/tens razão’. 
29. Nem tudo o que nos atravessa necessita da nossa opinião ou argumento. Nem tudo o que os outros dizem carece que oiçam a tua opinião ou visão sobre o tema. 
30. Os dias são longos, mas os anos são curtos. É aproveitar.

1 comentário

  1. Bem-vinda aos 30 Inês. Adorei o 6 e o 20 e, infelizmente, tenho de concordar com o 23

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