FILMES | MAIO • 2023


You’ve Got Mail 
Quando vos confessei que tenho muita pouca cultura de cinema, é a este tipo de coisas que me refiro, como ver You’ve Got Mail pela primeira vez só em 2023. No entanto, o timing estava mais que certo, já que tinha Nova Iorque fresca na minha memória e pude absorver a história de outra forma. 

Vou poupar-me ao ridículo de vos resumir a premissa, mas dizer que este é o filme perfeito para os primeiros dias de outono e que irei voltar vê-lo nessa época. Senti muito aquela atmosfera Nova Iorquina quando estive em East Village e dei por mim a querer viver um outubro naquela cidade. É o filme perfeito de domingo. 

Air 
Esta é uma batota porque não o assisti em maio e sim em abril, mas foi o único filme esse mês e decidi guardá-lo para esta edição. E foi assistido em bom porque estreou quando estávamos em Nova Iorque e decidimos ir vê-lo ao cinema – muito alinhado com o tipo de experiências que procuro quando viajo e que falei sobre isso aqui. Adicionar a nota de que as cadeiras reclináveis com apoio para os pés deveriam ser o standard em todos os cinemas do mundo e que as pipocas são horríveis. 

Experiências à parte, Air conta a história de como nasceu uma das parcerias mais bem sucedidas do mundo até hoje, a Air Jordan, com as suas sapatilhas icónicas. Numa altura em que a Nike estava completamente associada ao atletismo e à beira do abismo, decidiram arriscar mudar o rumo para o basquete e apostar numa das maiores promessas da modalidade: Michael Jordan, que sempre disse que jamais faria colaborações com a Nike (ele era um grande fã da Adidas). 

Mais do que um filme desportivo, esta é uma absoluta história de marketing e negócio, contada com um elenco de luxo, diálogos rápidos e cortes dinâmicos. Não tive grande paciência para aquela fuga de câmara ao Michael Jordan, mas tendo em conta que era bem típico esse tipo de abordagem nos anos 80 e que a história navega por essa época, talvez tente evocar essa nostalgia.

Acho que em Portugal este filme vai – e já passou – um pouco ao lado porque, embora famosos, os Air Jordan respondem a um estilo de nicho no nosso país. Mas ir ver isto ao cinema e reparar, nos dias seguintes, que a população inteira de Nova Iorque usa Jordans (crianças, bebés, mulheres e homens de todos os estilos e classes sociais) mostra a relevância desta história que está nos pés de toda a gente do outro lado do Atlântico. 

Living 
Living foi um discreto concorrente aos Oscars este ano, mas a sua premissa foi a escolha certeira para um serão de domingo em que precisamos de uma história leve, mas especial e com substância. 

Adaptada à produção japonesa original Ikiru, Living conta a história de Rodney Williams, um funcionário público dos anos 50 que, já idoso, recebe um diagnóstico terminal. Ao receber a notícia, faz um balanço da sua vida e soma décadas e décadas de um trabalho que não o deixou realizado, sonhos por concretizar e poucas conexões com pessoas que admirava ou que estimava. Decide que o seu diagnóstico e idade não são uma condição e parte em descoberta da vida que sempre disse que ‘mais tarde’ saborearia. 

Acho que não existe uma história mais relevante para a nossa geração do que esta, em que navegamos entre a harmonia difícil de criarmos uma carreira que nos deixe realizados, mas não construamos a nossa vida apenas em torno dela. Temas como a solidão, o ser velho demais para mudar de caminho ou ir atrás de um sonho e o individualismo são recorrentes não só ao longo de todo o filme, mas também na nossa sociedade, hoje em dia. Talvez seja por isso que é reconfortante acompanhar esta história, que é tão simples, mas significativa.

A Pequena Sereia 
Há muito tempo que deixei de ver live actions dos filmes da Disney – creio que o último que assisti foi o Aladin – mas um dia de fim de semana nublado pedia uma sala de cinema e pipocas mistas quentinhas. E a nossa escolha foi A Pequena Sereia

As discussões sobre a adaptação deste filme foram mais vastas do que o próprio oceano, desde a escolha da atriz Halley Bailey, à curiosidade sobre como é que um filme passado, principalmente, debaixo do mar ia resultar com a participação de atores. A Pequena Sereia é um dos meus filmes da Disney preferidos, mas entrei na sala sem expectativas e de mente aberta para ser entretida e surpreendida. Era o meu único pedido e sinto que foi cumprido com distinção. 

Nesta nov’A Pequena Sereia, temos um equilíbrio inteligente entre a nostalgia e a progressão. Quem cresceu a cantar Under the Sea (ou Aqui no Mar) não vai sair defraudado com as músicas nem com as cenas icónicas que orbitam na nossa memória quando nos recordamos da história, mas agora podemos contar com o aprimorar da narrativa. O fundo do mar tem sereias tão diversas quanto as próprias criaturas marinhas e humanas (e faz todo o sentido, certo?), a história da Ursulla parece ter um pouco mais de nexo e a relação entre Ariel e Eric está mais robusta.

Para esta adaptação, Ariel e Eric conectam-se e reparam um no outro, em primeiro lugar, pela compaixão que ambos têm em comum pelo seu sentido de curiosidade, descoberta e tolerância com a diferença. Ao longo das cenas, ambos vão encontrando pontos de ligação para se conhecerem e compreenderem sem precisarem da voz, algo substancialmente pouco trabalhado na animação. 

Há um respeito visível pela história original, mas as cenas finais foram as que sofreram ligeiras adaptações, a começar pela derrota da Ursulla, onde há inversão de papéis, e o significado do casamento entre Ariel e Eric que me parece mais maduro e com uma mensagem mais bonita (o partir rumo a uma fase que está mais próxima de quem somos e gostamos, mesmo que isso signifique deixar uma outra fase para trás, com a certeza de que as nossas pessoas continuam connosco). 

Para mim, a única parte que não funcionou em todo o filme foi uma das coisas que mais gostava no original: os side kicks. Não consegui achar graça ao trio icónico do filme e as piadas pareciam um pouco insonsas (aliás, citando a palavra preferida da geração Z, achei-as cringe). Julgo que não ajudou que as personagens não tivessem grande expressão facial (porque foram adaptadas para animais reais, o que é um desafio). Reconheço o esforço, mas cada vez que apareciam, o meu coração partia-se um bocadinho com vergonha alheia - a cena do rap da gaivota foram os minutos mais intermináveis que já passei num cinema.

Ainda assim, depois de tudo o que foi comentado, criticado e antecipado sobre o filme, posso assegurar-vos como fã d’A Pequena Sereia que, se também adoram a história, podem regressar ao cinema e reviver um momento nostálgico da vossa infância sem medo.

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