MUNDO || Romantização da Ocupação


Há uns tempos, escutei uma pessoa referir — com um subtil tom de orgulho e valorização — que nunca saía do trabalho a horas. Ficava sempre até mais tarde porque era um funcionário muito ocupado. Discussões laborais à parte, sinto que existe uma romantização da ocupação. Que não ter tempo para estar com amigos, ler um livro, treinar, estudar algo novo, investir num projeto ou simplesmente viver se traduz num status superior. Que quem tem tempo — ou faz por ter tempo — para viver uma vida além do trabalho é pouco dedicado, não é apaixonado pela sua profissão ou é um desocupado. O estado busy eleva o valor da pessoa, uma associação que não compreendo.

Talvez seja importante não confundirmos ocupação com produtividade. Uma pessoa produtiva não tem de ser uma pessoa ocupada, mas cultivamos muito esta ideia exaustiva e altamente auto-destrutiva de que quem está ocupado é produtivo. Cada vez mais acredito que uma pessoa verdadeiramente produtiva sabe gerir o seu tempo — e isso inclui tempo para si e para ser feliz. 

Não é expectável que estejamos sempre disponíveis para todos os cafés ou jantaradas, que vamos conseguir diminuir a lista de livros para ler numa semana, que vamos conseguir ir a todos os treinos sem faltar. Mas significa que a gestão do tempo está no nosso controlo e que, quando é possível, fazemos. Que não há mal algum em picar o ponto na hora que está contratualizada para sair porque já terminaram as tarefas. Que há mais para além da secretária do escritório. Ser ocupado não é sofisticado, é triste. Não estar presente não vos distingue, isola. Por vezes, também somos produtivos e ocupados. E tudo bem. A vida é, e sempre será, uma questão de prioridades e nem sempre conseguiremos estar em todo o lado, como gostaríamos. Mas não o vendam como algo maravilhoso ou traço positivo de personalidade porque... não é.

4 comentários

  1. Às vezes dá a sensação que só se fores super ocupada é que consegues ser produtiva ou ter valor e o mundo acaba por se esquecer a produtividade está mais relacionada com a capacidade de fazer algo e com a gestão de tempo. E que ter uma vida pessoal é bom e faz bem.

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  2. Não é mesmo positivo, de todo, e é realmente triste. Concordo tanto contigo, em tudo o que dizes! Sem dúvida que produtividade nada tem a ver com a ocupação. Pode-se, perfeitamente, ser produtivo depois do trabalho, fora do trabalho. Para não falar que há muito mais na vida para além de trabalho...

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  3. Uma vez li uma história (não sei se verdade ou não mas concordei a 100%) de uma portuguesa que tinha ido trabalhar para o estrangeiro. Resumindo bastante, na primeira semana saiu sempre uma, duas horas depois do suposto porque achava que ficava bem, não por excesso de trabalho. Na semana a seguir foi avisada que se não conseguia fazer o trabalho que lhe davam nas horas de trabalho não era a pessoa ideal para o cargo. E eu não podia concordar mais.
    Eu nunca saí depois da minha hora, não que não o fizesse caso fosse necessário, mas simplesmente não ponho o trabalho à frente do meu tempo pessoal. Passar 9 horas no trabalho é mais do que suficiente, temos de ter tempo para nós, para o que gostamos.

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  4. Ser super ocupado não é sinónimo de ser bem sucedido na vida, concordo! Para mim, uma vida bem sucedida é uma vida em que consigo dedicar-me a vários aspetos da minha vida mais ou menos de igual forma (porque, para o melhor e para o pior, o trabalho ocupa uma grande porção da nossa vida, mais uma razão pela qual não é necessário dedicarmo-nos ainda mais ao mesmo).
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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