As plataformas digitais têm passado por significativas transformações ao longo dos anos e observo, já há algum tempo, duras críticas em relação às várias abordagens que têm vindo a ser feitas por parte de que as inova e/ou consome. Não é uma novidade, já que todos os outros canais de comunicação que existem também passaram pelas suas próprias transformações e, por conseguinte, críticas.
Verifica-se, atualmente, uma completa 'demonização' digital, onde tudo parte de propósitos calculistas, alguns, quase maquiavélicos; o trabalho dos criadores de conteúdo — de todas as plataformas — é observado como oco ou totalmente maléfico. Questiona-se o conteúdo encefálico de todos os criadores e nenhuma opinião dos mesmos é encarada como orgânica, genuína ou consciente e sim como uma crista da onda; defende-se, convictamente, de que o conteúdo nas redes sociais deve ser transparente e real — que eu concordo —, sem mensagens de vidas perfeitas. No entanto, se o utilizador faz uma partilha real, aborda assuntos que, efetivamente, são do seu interesse e faz a sua comunicação de forma autêntica, está apenas a querer ser igual aos outros e não tem identidade própria. 'Demonizamos' a publicidade, os criadores, os conteúdos e até os valores das mensagens. Há uma utilização clara das redes e plataformas para partilhar causas muito nobres — e pelas quais tenho, na grande maioria, enorme admiração — mas se a causa se populariza, 'demonizamos' automaticamente, sem avaliar o feedback positivo que se gera quando um volume significativo de pessoas comunica a mesma mensagem benéfica. Por outro lado, se alguém não se posicionar ou comunicar publicamente, a pessoa é protagonizada como o exemplo da insensibilidade e do desinteresse. Sem cinzentos. Preto no branco.
Cobra-se uma amostra real do quotidiano, dos interesses e dos valores de quem partilha os seus registos mas é expectável que seja uma realidade de encontro à nossa; se o utilizador tiver uma forma de viver genuína mas diferente, uma rotina em nada semelhante à nossa, não conseguir abraçar humanamente todas as causas sociais — ou abraçar, mas não na velocidade esperada — e tiver hábitos ou valores ligeiramente diferentes, a sua postura é criticada, sem hesitar, embora ele esteja a cumprir a proposta: ser real. Ser genuíno. Arrisco-me a afirmar que muitos não querem, de todo, perfis reais; querem perfis que não lhes mostrem o quanto a vida é plural e pode ser diferente de pessoa para pessoa, rotina para rotina, carreira para carreira, país para país. É factual. Quando digo que acredito existir espaço para todos na internet, é precisamente deste conceito que falo, tanto por quem utiliza quanto por quem consome; formas diferentes de ser, viver, pensar. Para todos, vai haver a devida segmentação por parte de quem se identifica com essas maneiras.
Não sou inocente; estou perfeitamente consciente que as plataformas digitais não são um lugar puro e perfeito. Há sempre formas de melhorar e de desfrutar da experiência de uma forma mais saudável, e o espírito crítico — em todas as esferas sociais, não só as digitais — é fundamental, mas sinto que se gera uma onda fundamentalista que tem tornado as redes e plataformas num antro de calculismo que, sou sincera, não reconheço como um movimento nobre, sequer saudável e que nos afasta em vez de aproximar. Uma intolerância que não se reflete nas ruas, numa conversa, num almoço, na atividade offline e humana do nosso dia-a-dia. Uma necessidade de caça às bruxas que não dá espaço para a evolução e transformação do próprio utilizador e que esgota qualquer pessoa consciente sem necessidade porque, no fim, sabemos que há espaço para todos os utilizadores e todos os públicos e que só temos de consumir, apreciar e admirar os que fizerem sentido. O Ricardo Araújo Pereira caracteriza as redes sociais como a história do velho, do menino e do burro. Não importa como é que os três gerem a forma como vão atravessar a aldeia: nenhuma estará correta aos olhos dos outros. De certa forma, é o que realmente se verifica, atualmente.
No fim — porque acredito que uma utilização consciente e sensata das plataformas pode resultar numa atividade positiva —, e sem respostas definitivas, absolutas ou mais válidas do que outras, julgo que a melhor utilização, para mim (tanto como utilizadora, quanto consumidora), está em manter-me fiel aos valores basilares destas plataformas: partilhar o que mais me faz feliz no quotidiano de uma forma que me orgulhe, que queira recordar mais tarde e aproximando-me de quem, geograficamente, está distante de mim. Sem saturação ou inspeção furtiva à forma de partilhar dos outros. Não há necessidade, afinal de contas, ninguém é dono da verdade.
Vou só ficar aqui duas horas a bater palmas, se me dás licença. <3 mais equilíbrio precisa-se, e um bocadinho mais de segurança e menos necessidade de afirmação também...há espaço para tod@s, e quando as causas são boas, o que é que importa se é surfar na crista da onda, desde que venha algum bem daí!
ResponderEliminarAcho que no mundo digital estar sujeito a uma crítica é tão comum quanto respirar, mas tenho a certeza que há algo bom nisso, pelo menos algo que possamos aprender com isso.
ResponderEliminarAnother Lovely Blog!, https://letrad.blogspot.com/
Quem me dera que toda a gente visse o potencial das redes sociais como tu vês, porque era um pequeno grande passo para construir um mundo mais tolerante e feliz.
ResponderEliminarTodo o texto expressa uma ideia com a qual concordo, embora admita que, também eu, já demonizei as redes sociais. Aliás, só mudei a minha visão quando eu própria comecei a produzir conteúdo, a aprender onde e como buscar as informações que me interessam, e isso acabou por gerar uma compreensão e tolerâncias em mim que me permitiram mudar a ideia que tinha deste meio! Felizmente, foi assim que aconteceu!
ResponderEliminarEste teu último parágrafo diz tanto da forma como deveríamos encarar a vida, no geral! Se nos preocupássemos menos com certos aspectos da vida alheia, seríamos uma sociedade tão, mas tão mais coerente... Até lá, há muito que trabalhar!
LYNE, IMPERIUM BLOG