The 1975 At Their Very Best no 3 Arena


Estávamos em 2012 quando ouvia The 1975 da forma mais early internet que possamos imaginar: um link que estava no Tumblr, mas que ia dar a um EP mal-enjorcado no Youtube. The City. E fez total sintonia com o que estava a viver, com os meus 18 anos, com as novidades de uma nova etapa, numa nova cidade. The 1975 foi uma das bandas que posso realmente dizer que escutei, acompanhei e adorei desde os primeiros passos. 

Desde então, tivemos uma sucessão de desencontros que quebram o coração de qualquer amante de música: Optimus Alive ’14, Super Bock, Super Rock ’19, a tour de 2020 (para a qual tinha bilhete) – cancelada. Senti que estávamos sempre em tangente sem colisão. 

At Their Very Best foi a primeira tour em pós-pandemia, alinhada com o lançamento do novo álbum, being funny in a foreign language. Sem datas para Portugal (ou para o resto da Europa), passei por um momento de ponderação, mas entendi que era a minha oportunidade. Escolhi Dublin pela acessibilidade da cidade em deslocações, pela segurança à noite, pelos custos e pelos acessos aos lugares (em Londres estava praticamente esgotada com exceção do dia da Taylor Swift - não, não quero falar sobre isso). Bem sei que, uns meses depois, eles anunciaram a passagem por cá este verão, mas cada vez mais gosto de ver os meus artistas preferidos num espetáculo em nome próprio (mais tempo, melhor energia do público, e os cenários… não sei, tenho gostado muito mais da experiência, confesso). 

Há uma razão para este estar a ser espetáculo tão bem aclamado pela crítica; a banda transporta-nos para um concerto teatral em dois atos; através do cenário de uma casa, o primeiro ato é dedicado ao retrato da vida de Matty Healy, que vive numa casa com 3 paredes (figurativo à sua vida pública e em constante exposição e escrutínio) e onde se debate com a dualidade de, num momento, estar num concerto a cantar para milhares de pessoas e no seguinte estar na sua casa, em solidão total. Foi uma forma totalmente diferente de assistir a um concerto, onde há uma clara componente performativa que nunca tinha tido contacto antes a não ser na perspetiva de um musical – claro que temos artistas em performance em qualquer concerto, mas não dramatizam. 

O segundo ato entende-se como o concerto em si, e não há como não adorar a presença e o carisma de todos os elementos em palco. A setlist (imprevisível em cada concerto) é navegada entre interações com o público, private jokes, alinhamentos pensados ao pormenor e com o humor risqué a que já estamos habituados. Tudo parece seguir numa linha muito ténue e frágil entre o que é espontâneo e o que foi resultado de uma curadoria própria para produzir um concerto com este conceito. 

Senti-me, verdadeiramente, dentro de uma casa, quase como que um convite para percebermos como é que eles pensam (ou o Matty pensa) e o que nasce musicalmente desse raciocínio. Claro, houve momentos para pular (The Sound, Happiness), para perder a minha voz (Love It If We Made It), para delirar com um clássico (Robbers, Chocolate, Sex e muitas mais) ou para me emocionar com aquela que é a minha música preferida de sempre (Somebody Else). Em todas elas – e tantas outras -, senti-me completamente presente e conectada não só com a história que criaram, mas também com o momento, com o público a cantar em uníssono, a fazer-se luz em Be My Mistake ou a rir do mesmo que eu durante mais de duas horas.

Cada vez mais valorizo boa presença de palco – a capacidade de um artista em avaliar a atmosfera da plateia e de perceber o que retirar de lá, como a agarrar, como fazer uso dos inevitáveis ecrãs de telemóvel e de tudo o que fica digitalmente eternizado para ampliar a experiência e acho que At Their Very Best faz um caso estudo perfeito. Tenho pena que só venham a Portugal no contexto de festival e não de tour (perde-se, assim, o primeiro ato), porque foi dos poucos espetáculos em que terminei a sentir que não me importava de repetir, de ver outra vez, e tenho a certeza de que seria tudo diferente, mesmo que o guião fosse igual. Porque também é assim quando convidamos alguém para a nossa casa (figurativa e literal): tudo está igual, mas é sempre diferente em cada visita.

Como últimos pormenores a destacar, a experiência paralela de todo o concerto: a uniformidade do preçário dos bilhetes (imposta pela banda) sem especulação de preços, a percentagem de venda em todos os concertos que foi para diferentes associações e instituições de solidariedade locais, a tranquilidade na aquisição de bilhetes (já não me lembrava do que isso era!) e alguns itens de merch exclusivos para cada cidade onde apoiaram dezenas de designers e deram a oportunidade aos fãs de ter algo especial para eternizar a data.

Gosto de surpresas, mas esta era antecipável e estava em todos os posters e comunicações. At their very best - cumprido.

3 comentários

  1. Qual é a máquina fotográfica?

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    1. Sony Cybershot, falei sobre ela aqui: https://www.bobbypins.pt/2023/02/favoritos-janeiro-2023.html

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