Já estávamos no terceiro casebre de ninhadas, na Serra da Estrela e, até agora, nada se alterara. A apresentação era sempre a mesma; uma mãe de olhos muito protectores que guardava à sua volta muitos cachorrinhos peludos, gordinhos e sonolentos. A serenidade era tal que, embora eu estivesse no auge de entusiasmo por ter a minha primeira cadelinha, era incapaz de os perturbar. Ainda assim estava persistente em acreditar que a adopção de um novo amigo patudo era como o mundo mágico de Harry Potter; da mesma forma que a varinha escolhe o feiticeiro, é o amigo patudo que nos escolhe a nós. E, até agora, nenhum me tinha escolhido. O meu pai já estava a propor passarmos, então, pelo quarto casebre antes de tomarmos a decisão. Eu ficava sempre para trás e foi graças a isso que ouvi um ladrar mais parecido com um guincho e olhei para trás. Uma cachorrinha tinha-se afastado da ninhada para ir até à beira da porta refilar. E foi assim que a Laika me escolheu.
Desde então, fomos melhores amigas inseparáveis. Ela era uma refilona, descoordenada, gulotona e reclamadora de atenção. Se estava a brincar com uma Barbie, ela roubava-ma das mãos para que eu brincasse antes com ela. Crescemos juntas e foi com ela que aprendi mais a brincar lá fora; a rebolar na relva, a subir e a descer montes cheios de pedras, a dormir numa sombra no relvado e a entrar em lutas e discussões - como quando ela destruiu o meu mp3 novinho em folha, ou como quando comeu os meus apontamentos de História na véspera do teste.
Ela dividiu tudo comigo. Estava do meu lado quando sofri a primeira dor de uma perda familiar. Viu-me conquistar todas as etapas escolares. Estudou comigo para os Exames Nacionais, comigo a tagarelar e ela à porta do quarto, a guardar-me. Tentou comer o meu vestido de gala de Finalista. Fez a careta mais cómica quando cheguei a casa suja de cima abaixo por causa da Praxe. Não saiu do meu lado quando tive os primeiros ataques de pânico e choros de madrugada por grandes desilusões. Onde estudava/escrevia, ela deitava-se ao lado. Ela celebrou todos os meus aniversários e eu os dela, fazíamos as maiores tropelias juntas e era a minha companheira, a cadela (ou "ursa", como toda a gente a chamava) predilecta de todos os meus amigos porque era carismática, um amor. A minha parceira. A minha melhor amiga. Que num pulo cresceu comigo mas envelheceu mais cedo, também.
Hoje, de madrugada, o coração desgastado não conseguiu mais acompanhar a sua mente fresca e muito jovial e cedeu. Sem despedidas anunciadas, sem aviso prévio, sem preparação. Saiu de fininho sem que sonhássemos. E custou muito. Custa.
Custa muito porque era a minha menina. É a minha menina. A minha gordinha, a minha trapalhona. A minha eterna que eu desejava que fosse imortal. Que eu adoro sem meios nem porquês, tal como ela me adorava. A casa já se sente mais vazia, olhar para o jardim é doloroso e eu já sinto saudades esmagadoras. Nunca pensei que o Até Já fosse agora, nem daqui a um ano, nem daqui a dois, nem daqui a dez. E na dor desta perda, a única coisa que me consola é saber que eu dei-lhe tudo o que podia, adorei-a até aos meus átomos e sei que ela era uma cadela feliz do nosso lado. Só te queria mais.
O espaço agora é teu, Laika. Já tenho saudades tuas. Até Já, Minha Menina.
ooooh :( lamento :(
ResponderEliminarOh Inês :(
ResponderEliminarMuita força! Lembra-te sempre das coisas boas!
Comecei a chorar assim que li o título, ainda nem tinha aberto a publicação. Continua a ser um assunto sensível para mim mas li o texto agarrada a um pacote de lenços e queria muito deixar-te umas palavras porque lembro-me muito bem das que me deixaste quando a Dama me deixou e foi como receber um abraço quentinho! Infelizmente, sei bem o que deves estar a sentir... Disseste-me que os nossos animais de estimação, os nossos melhores amigos, deviam viver para sempre. Deviam! E de certa forma vivem, porque nós continuamos a sentir falta deles e a amá-los mesmo quando já não estão connosco. É uma dor do caraças, eu bem sei! A casa fica vazia, num silêncio que parece ecoar por todo o lado, e um bocadinho de nós fica também assim. Mas tu és forte e eu sei que vais conseguir ultrapassar esta época... principalmente porque vais lembrar-te da tua menina e vais ter a certeza de que, tal como a Dama continua, a Laika vai estar sempre lá para ti. Um abraço enorme, Inn!
ResponderEliminarSei o quanto custa e sei o que estás a sentir de momento por isso não te vou mentir: vais sentir sempre saudades. Mas o orgulho de lhe teres proporcionado uma vida feliz e a certeza de que foste uma verdadeira amiga para ela vai ajudar-te a recuperar.
ResponderEliminarMuita força, Inês!
A Laika foi conhecer o meu Apolo (aposto que também se identificam tanto um com o outro!) :)
Um grande beijinho, Prima do João!
Tu sabes que és uma miúda cheia de força - por isso chora tudo o que houver para chorar e, se precisares de alguma coisa, mesmo longe, estou aqui :)
Não vou negar, custou-me muito ler o final deste texto... A verdade? Identifiquei-me de mais com ele: no dia 31 de Dezembro de 2016 "vi" partir um companheiro de uma vida, o meu Canito. Já tinha alguma idade e devido ao cansaço físico, estava muito débil e apesar de ser uma morte anunciada pela qual, infelizmente, já todos esperávamos, custou e ainda custa olhar para o seu cantinho...
ResponderEliminarFoi por isso que passei a dar ainda mais carinho e atenção aos restantos elementos da família de quatro patas cá de casa e parece que aproveitar cada segundo é pouco devido ao medo incansável que tenho de os ver partir...
Muita força, Inês! A tua trapalhona está a olhar por ti e a guardar-te num sítio bem bonito! 😊❤
Beijinho grande e muitas felicidades!
chamammepequenita.blogspot.pt
É tão difícil perder um dos nossos patudos. Foi uma bonita homenagem que fizeste à Laika. Muita força, Inês!
ResponderEliminarMuita força Inês acompanhado de um beijinho e de um abraço gigante do tamanho do teu amor por ela!
ResponderEliminarSei muito bem o que é essa dor e esse misto de sensações - porque pensamos no quão bom foi tudo com eles, mas a dor é demasiado grande.
ResponderEliminarVou-te dar um conselho que não é bem Conselho. É algo que digo a todos os amantes dos animais, não para parar a dor ou para a disfarçar mas para aproveitar esse amor enorme que tinhas por ela. Cada vez somos mais a amar os nossos animais, mas não somos, de todo, suficientes.
Nao te fiques pela Laika. Da esse amor incrível a outro cão que precise. Sei que não é algo que se deva dizer nem ouvir nesta fase - ainda tao fresca - mas acredita que não digo isto com nenhuma maldade nem segundas intenções. Eu já sofri horrores, perdi os meus melhores amigos (todos de quatro patas) que cresceram comigo, me viram chorar e me animaram todos os dias. Por isso não digo isto como substituto. É mesmo só para que outro cão possa sentir o mesmo que a Laika sentiu.
Os meus sentimentos, Inês. Tenho a certeza que ela foi feliz.
Um beijinho gigante do tamanho do teu coração! *
ResponderEliminarInn! A Laika foi muito feliz junto de ti, mas não precisas que to diga, pareces sabê-lo bastante bem. Apenas... nunca te esqueças que fizeste tudo para serem felizes juntas. Os Até Já's são sempre difíceis, mas as memórias são eternas e isso aquece-nos o coração. Um beijo enorme minha querida. Tudo vai dar certo!
ResponderEliminarO amor é um sentimento tão puro e apesar de não falarmos a mesma língua de outras espécies, não quer dizer que não nos percebemos, porque o amor é uma forma de comunicar e sem dúvida que a tua cadelinha amava-te muito e está a proteger-te, esteja onde ela estiver. Eu nem posso imaginar quando os meus gatinhos partirem que começo logo a chorar, mas temos uma conexão tão única e tão nossa, que apenas posso dar-lhes uma vida feliz pela felicidade que eles me dão.
ResponderEliminarLove*
Treze Mundos
Força, Inês!
ResponderEliminarOPAAAAAA! :c
ResponderEliminarMuito força Inês! Vai correr tudo bem, vais ver... A dor é grande sim e tu nunca te irás esquecer mas o tempo é, definitivamente, o nosso melhor amigo!
Beijinho grande, querida ♥
http://cristiana-tavares.blogspot.com
força, inês!
ResponderEliminarOhh que triste!! Confesso que deitei umas lágrimas ao ler o teu texto porque me faz pensar na minha cadela que também cresceu comigo e viveu imensos momentos bons e maus a meu lado e nem quero se quer imaginar como será quando ela partir!
ResponderEliminarMuita força para ti e para a tua família!!
Mil beijinhos.
Black Rainbow / Instagram
Nem sabes o quão triste fiquei quando li no teu instagram e agora este post no teu blogue. Muita força é tudo aquilo que posso desejar, nunca tive um animal de estimação mas posso imaginar um bocadinho o que é perder um.
ResponderEliminarLamento muito, Inês =(
ResponderEliminarMuita força, Inn! Ela estará sempre contigo <3
ResponderEliminarOh Inês...um grande, grande abraço apertado! Custa muito, e o tempo não mata as saudades, mas torna-as numa coisa bonita. As memórias que tens da tua Ursa nunca te vão deixar, e isso é o que mais importa agora: guardares os sorrisos que partilhaste com ela! <3
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