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Somos pessoas de bagagem. Não só nossas, mas dos outros. E a maior parte das vezes transportamos connosco bagagem desnecessária. Já pararam para pensar na quantidade de detalhes e segredos que sabem de pessoas com quem já não se dão? Eu sei os filmes favoritos de pessoas com quem já não falo, eu sei dos desabafos do passado de pessoas com quem nunca mais me cruzei na vida desde que seguimos caminhos diferentes. Nomes do meio que nunca são revelados, o filme que não suportam e aquele que sabem que lhes faz sempre chorar. A morada de alguém e o seu destino de sonho, o seu artista favorito e o estilo de música que mais gosta. Há pessoas que sabem o meu livro de infância e que não falam mais comigo. Que sabem a minha data de aniversário mas jamais me darão os parabéns. Que sabem detalhes e informação de mim, assim como eu sei detalhes e informação deles e jamais veremos utilidade nestas bagagens porque já não não necessárias. O que se faz quando se conhece alguém mas já não se precisa de conhecer? Onde se coloca esta "tralha" que só faz peso?
A resposta? Meter na cabeça que não as conhecemos. Porque a partir do momento em que se corta o fio, imensos detalhes e informação ficam por saber da outra pessoa no futuro, que outras ficarão a conhecer e será essa a sua bagagem para com essa pessoa. Informação tão ou mais preciosa como a que temos em mãos. Mas que nunca chegará, evidentemente, às nossas mãos. Porque as pessoas não são só feitas do que conhecemos delas. São feitas de uma receita bem mais gigante que levaria tanto tempo como a nossa própria vida a conhecê-la. Por isso deixamos as bagagens no chão, aceitamos que jamais vamos precisar delas e que jamais serão acrescentadas e melhoradas e encaramos o mundo. Aos poucos, a bagagem reduz-se até encararmos as datas com incerteza, confundirmos os nomes dos filmes e trocarmos os apelidos. Sem mágoas, ressentimentos ou saudades. Ela simplesmente vai-se desvanecendo num processo natural até entrar bagagem com novas informações e detalhes sobre outras pessoas. Mais importantes e mais urgentes. Que, desta vez, queremos mesmo guardar para todo o sempre.
Este texto fez-me reflectir sobre tanta coisa... É totalmente verdade o carregar de bagagem dos outros, como se já não chegasse a nossa.
ResponderEliminar"Já pararam para pensar na quantidade de detalhes e segredos que sabem de pessoas com quem já não se dão?" Tantos mas tantos, e é pena.
ResponderEliminarEste é daqueles textos que merece ser partilhado com o mundo, a sério Inês. Tocou-me mesmo, demasiado até. Obrigada.
Excelente texto, como sempre :)
ResponderEliminarEste texto está mesmo muito bonito :)
ResponderEliminarBelíssimo texto Inês!
ResponderEliminarUau, Inês. Uau.
ResponderEliminarAdorei ler Inês, e lembrei-me logo das 500 coisas que sei que não interessa para nada :P
ResponderEliminarAdorei! Tudo o que disseste é tão verdade. Está tão bonito
ResponderEliminarÉ incrível saber que existem pessoas como tu, que saibam traduzir o mundo em simples textos. Este é um daqueles momentos em que me sinto lida, identificada contigo e com o resto dos que por aqui passaram. Estas são aquelas coisas que toda a gente pensa, demais até, mas que não consegue partilhar ou nem sequer pensa na possibilidade de o fazer. Obrigada, este texto vou guardá-lo para a vida. :)
ResponderEliminarInfelizmente é assim. Há gente que deixei de conhecer e tenho pena
ResponderEliminarÉ mesmo! Nunca tínhamos pensado nisso, mas é mesmo assim!
ResponderEliminarExcelente texto!!
- Ela e Ele, do blogue de casal.
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