Tenho duas décadas sobre mim e sei que, se alguma vez fizer outro post deste género com mais duas décadas sobre mim, ele não vai ser igual, e ainda bem. Quando tinha 14 anos tinha a certeza de que queria ser nutricionista numa clínica, certezas do que queria num namorado e de muitas outras coisas do mundo. Na verdade até conseguia ser bastante realista e as minhas teimosias ou certezas não eram assim tão absurdas. Eu nunca me iludi pensando que podia conquistar o mundo ou que a minha mãe não tinha razão e queria estar sempre contra mim. Não, isso não me aconteceu, mas havia coisas às quais eu punha as mãos no fogo. E quando digo certezas de tudo, é certezas de tudo, qualquer tema. Pensem num tema qualquer e verão que de lá vocês têm a mínima certeza de alguma coisa (nem que seja a certeza de que não percebem patavina do tema que vos ocorreu à cabeça).
Hoje eu tenho 20 anos e tenho menos certezas sobre as mesmas coisas que tinha aos 14 anos. E não podia ser de outra forma. As vivências, o pragmatismo, a tentativa-erro e a turbulência de uma montanha russa de altos e baixos fez com que eu seja uma pessoa com muito mais incertezas do que quando estava na minha puberdade. Mas isso fez-me também querer ser mais tolerante com as certezas dos outros, menos teimosa com as minhas. Ainda sou convicta, ainda debato e ainda gosto de defender alguns valores e ideias, mas tenho muito mais flexibilidade para perceber que os outros também têm direito a ter as deles. E, tal como eu, há 6 anos atrás nada disto era assim e daqui a 20 anos ainda mais diferente será.
Sei que, à medida que crescemos, menos certezas temos. As coisas que julgávamos como certas, como garantidas nas nossas ideias não vão ser assim quando formos mais velhos. Que agora acho piada quando vejo alguma miúda de 14 anos a dizer "Eu acho que é assim e acho que nunca vou conseguir X/que vai ser sempre Y" e acho piada porque eu sou uma miúda de 20 anos com o blogue que manda 300 postas de pescada de certezas e que qualquer mulher de 30, 40, 50, 60 anos (até eu com estas idades, se este blogue se aguentar) iria rir pelas minhas convicções tão precoces.
Nós batemos com a cabeça na parede e bebemos de águas que jurámos nunca beber. Nós vamos para o outro lado onde uma vez julgámos e ficamos sem chão quando aquilo que achávamos que seria sempre azul não só é amarelo como já não está lá. Levamos tanta porrada desta vida, tantos "toma lá que é para aprenderes a não dizer que farás sempre isto ou nunca dirás aquilo", nós tomamos por certo tantas atitudes e comportamentos dos outros que cada vez que todas estas premissas nos contradizem, olhamos para a vida com uma sensação de caloiros no meio do mato sem bússola. E isso é incrível e genial e assustador para caraças! À medida que cresço eu tenho menos certezas sobre quem sou, sobre o mundo e sobre qualquer tema em geral. E eu sinceramente acho que esse é o caminho para a sabedoria.
Espero que aos 40 anos discorde desta ideia.
Adorei o texto, não sei, cativou-me desde a primeira linha!
ResponderEliminarCompletamente verdade :P *
ResponderEliminarEstava a precisar de ler algo do género. Obrigada Inês*
ResponderEliminarFantásticas palavras, Inês. E tão cheias de verdade. Gostei muito :)
ResponderEliminarQue bonitas e nada questionáveis palavras. É mesmo assim Inês! :)
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