"Estou dividida em duas. Um dos lados contém a minha alegria exuberante, a minha irreverência, a minha alegria de viver e, acima de tudo, a minha capacidade de apreciar o lado mais ligeiro das coisas. Quero com isto dizer não ver nada de errado num namorico, num beijo, num abraço, numa anedota picante. Este lado de mim está geralmente à espreita para dominar o outro, que é muito mais puro, profundo e belo. Ninguém conhece o meu melhor lado (...). O meu lado mais leve, mais superficial, ganhará sempre a dianteira ao lado mais profundo, e portanto vencerá sempre.
Tenho medo que as pessoas que me conhecem como sou normalmente descubram que tenho outro lado, um lado melhor e mais belo. Tenho medo que trocem de mim, que me achem ridícula e sentimental e que não me levem a sério. Estou acostumada a não ser levada a sério (...). Sei exactamente como gostaria de ser, como sou... por dentro. Mas infelizmente só sou assim comigo própria. E talvez seja por isso - não, tenho a certeza que é por isso - que penso em mim como uma pessoa feliz por dentro, enquanto os outros pensam em mim como feliz por fora.
Como já te disse, o que digo não é o que sinto, e é por isso que tenho a reputação de ser uma doida e uma namoradeira, armada em esperta e uma ávida leitora de romances (...). Para ser completamente honesta, tenho de admitir que na verdade isto é muito importante para mim, que estou a esforçar-me muito para mudar, mas que tenho sempre pela frente um inimigo muito mais poderoso.
Uma voz dentro de mim soluça:
-Vês, foi nisto que te tornaste. Estás rodeada por opiniões negativas, expressões consternadas e rostos trocistas, pessoas que não gostam de ti, e tudo porque não ouves os conselhos do teu próprio lado bom.
Acredita, gostava de os ouvir, mas não resulta, pois se fico sossegada e séria, toda a gente pensa que estou a preparar alguma e tenho de me salvar com uma piada (...).
Por fim, não aguento mais. Quando começam todos a cair-me em cima fico zangada, depois triste e, finalmente, acabo com o coração virado do avesso, a parte má para fora e a parte boa para dentro, e continuo a tentar encontrar uma maneira de me tornar naquilo que gostava de ser, e que poderia ser se... se não existisse mais ninguém no mundo."
O Diário de Anne Frank termina assim. Eu acho esta entrada a mais arrepiante e bela de todos os livros que já li.
Eu até me arrepiei. Comovi-me!
ResponderEliminarIdentifiquei-me tanto! Tenho mesmo que ler este livro :)
ResponderEliminarIdentifiquei-me muito.
ResponderEliminarLi este livro pela primeira vez com 13 anos e nessa altura não entendi o que ela queria, agora, 5 anos depois, percebo tão bem.
Apesar de ter lido este livro pela primeira vez há bastantes anos ainda tem o mesmo efeito em mim. É uma história arrebatadora.
ResponderEliminarEu nem li este excerto porque se ha livro que queria ler era este
ResponderEliminarEu gostei muito de ler o livro :)
ResponderEliminarIdentifico-me muito
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